Régis Eric Maia Barros: Aos colegas Cubanos

“Percebo que o programa ‘Mais Médicos’ está caminhando para um desfecho final, visto que, essa é a mensagem política e dominante do momento. Desse modo, a todos vocês, colegas cubanos, que estão distantes das suas casas e das suas famílias, eu deixo o meu abraço afetuoso e carinhoso. Nenhum de vocês tem culpa pela grave crise política e ética que nos assola nesse momento e, portanto, não mereciam receber quaisquer agressividades dessa sociedade”.

Por * Régis Eric Maia Barros

Régis Eric Maia Barros: Aos colegas Cubanos

Nesse período do Programa “Mais Médicos”, eu tiver o prazer de conhecer alguns médicos cubanos. E, com esse pequeno texto reflexivo, reporto-me a eles. Pois bem, o referido programa governamental foi capaz de trazer um desconforto imenso nas entidades médicas e em muitos médicos. Esse desconforto, infelizmente, materializou-se em vários atos que, para mim, atacam à ética. Certamente, as relações estremecidas entre o governo federal e parte da classe médica catalisaram muitas atitudes destas que merecem reprovação. No entanto, eu não creio que isso tenha sido o único promotor das diversas posturas ora desdenhosas, ora agressivas, ora preconceituosas aos colegas cubanos.

Partiu-se de um pressuposto inicial de que os cubanos não eram médicos, porém eles eram médicos no seu país de origem. Desta feita, são médicos. É fato! Eu respeito, entendo e aceito a tese de que sem a validação do diploma e a proficiência na língua portuguesa temos um empecilho importante para a atividade médica, porém isso não dá o direito ou um salvo-conduto à agressão. As entidades médicas não se atentaram a isso e, inoportunamente, algumas delas até fomentaram a hostilidade. De forma recorrente, alimentaram um ódio desqualificado o qual não tinha sentido em existir.

Além das vaias pobres e destemperadas de colegas médicos brasileiros aos cubanos durante atividade na Escola de Saúde Pública do Ceará, incontáveis ataques aconteceram nas mídias sociais. Criaram-se sites, blogs e páginas para expor possíveis erros e condutas não apropriadas de médicos cubanos. Neles, podemos encontrar exposição de nomes, de receitas e de carimbos associados a comentários permeados de ironia e agressividade. Não estou aqui a defender erros, todavia, nessa minha curta vida de médico, eu já vi cada erro de médicos nossos, brasileiros, que me causaram espanto e medo. Mesmo assim, eu não tenho o direito de expor esse colega usando uma ferramenta tão cruel como as mídias sociais. Ademais, foi divulgado também que vocês, colegas cubanos, não sabiam de nada de medicina. Talvez, isso até represente uma empáfia arrogante de que se sabe mais medicina aqui do que lá em Cuba. Acredito sim que da mesma forma que acontece em todos os países, inclusive no Brasil, existam médicos ruins e médicos espetaculares. Certamente, há médicos humanos e outros mercenários bem como médicos de conhecimento apurado e outros despreparados. Assim é aqui e em Cuba. Assim é em todos os cantos do mundo.

Como falei acima, tive o privilégio de conhecer médicos cubanos preparados, humanos, comprometidos e adequados. Seria um viés de amostragem? Talvez, mas eram bons médicos. Isso basta para mim. Devem existir médicos cubanos com pouca qualificação. É fato. Mas relembrando, é bem provável que eles existam também por aqui.

Por fim, percebo que o programa “Mais Médicos” está caminhando para um desfecho final, visto que, essa é a mensagem política e dominante do momento. Desse modo, a todos vocês, colegas cubanos, que estão distantes das suas casas e das suas famílias, eu deixo o meu abraço afetuoso e carinhoso. Nenhum de vocês tem culpa pela grave crise política e ética que nos assola nesse momento e, portanto, não mereciam receber quaisquer agressividades dessa sociedade. Voltem em paz e sejam, sempre, bem vindos!


*Régis Eric Maia Barros é médico psiquiatra.

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