Ato em memória de Colombiano e Catarina denuncia seletividade judicial

Após oito anos do assassinato do casal Paulo Colombiano e Catarina Galindo, completados nesta sexta-feira (29/06), os acusados do mando e da execução do crime ainda seguem impunes. Como acontece em todos os últimos anos, familiares, amigos e militantes de movimentos sociais com atuação no estado estiveram em frente ao Fórum Ruy Barbosa, no Campo da Pólvora, em Salvador, para lembrar a data e cobrar celeridade no julgamento do caso.

Neste ano, o ato em memória das vítimas do duplo homicídio denunciou a seletividade da Justiça brasileira, ao comparar o processo com o do ex-presidente Lula, que foi preso em um tempo curto, com a condenação ainda em segunda instância. “Eles decidiram que iam prender [Lula] e, em um ano, resolveram a parada. Quando é para prender criminosos poderosos, endinheirados, o processo é essa lentidão que nós estamos acompanhando agora”, afirmou Geraldo Galindo, irmão de Catarina.

A autoria dos crimes, já reconhecida em primeira instância, é atribuída ao empresário e oficial aposentado da PM Claudomiro César Ferreira Santana, apontado como mandante, e a seus funcionários Adaílton de Jesus, Edilson Araújo e Wagner Lopes, que seriam os executores. A acusação contesta a exclusão de responsabilidade de um outro acusado, o irmão de Claudomiro, o médico Cássio Antônio.

Os dois irmãos eram proprietários da MasterMed, empresa do ramo de plano de saúde que tinha um contrato com o Sindicato dos Rodoviários, onde Paulo Colombiano era tesoureiro. Para os familiares e a polícia, as mortes foram planejadas por Claudomiro e Cássio depois de saberem que Colombiano havia descoberto uma fraude milionária no contrato de prestação de serviços ao sindicato.

O dirigente nacional do PCdoB, Haroldo Lima, participou do protesto e reiterou as críticas à seletividade judicial, que, segundo ele, afaga os poderosos e pude os trabalhadores, como Catarina e Colombiano. Haroldo lembrou do jurista Ruy Barbosa, que dá nome ao Fórum, para defender que “a justiça que falha não é justiça”, mas um crime. “No caso de Catarina e Colombiano, a Justiça não está só falhando, mas está também manobrando”, afirmou.

O processo do casal, que já tinha chegado à segunda instância, sofreu um revés, no final do ano passado, quando desembargadores da 2ª Turma da 1ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA) devolveram a sentença proferida em primeiro grau, que levava a júri popular os acusados. A alegação da defesa foi de que o juiz Paulo Sérgio Barbosa de Oliveira, que era do 2º Juízo da 1ª Vara do Tribunal do Júri da Comarca de Salvador, usou de ‘excessos de linguagem’ ao proferir a sentença.

Com a decisão, o processo volta à primeira instância para a ‘adequação da linguagem’, mas só depois que forem apreciados todos recursos que a defesa apresentou.

Resistência

Geraldo Galindo garantiu que, apesar do cenário desfavorável, a família vai continuar fazendo denúncias públicas, em busca de punição para os acusados dos assassinatos. A presidenta em exercício da seção estadual da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB-BA), Rosa de Souza, explicou que o movimento social também vai continuar em permanente luta pela condenação dos criminosos.

“Vamos continuar reivindicando, exigindo, que a Justiça dê andamento a esse processo, para que esses assassinos não continuem aí, desfilando, impunes”, afirmou Rosa. Na ocasião, os rodoviários que trabalham nas linhas da região paralisaram os ônibus, por alguns minutos, no entorno do Fórum, em memória de Colombiano e Catarina.

Para o presidente do Sindicato dos Rodoviários de Salvador, Hélio Ferreiro, que também é vereador da capital pelo PCdoB, o protesto por justiça, mesmo em um dia chuvoso, é um ato de resistência. “O que queremos é celeridade!”, afirmou.

De Salvador,
Erikson Walla

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