Petroleiros têm autoridade para defender a Petrobras

Categoria defende reivindicações específicas e, ao fazê-lo, ressalta a grave situação em que se encontra a empresa.

(foto: Reprodução)

A greve dos petroleiros é uma luz nesse ambiente de obscurantismo em que o lavajatismo e o bolsonarismo mergulharam o país. Além das reivindicações específicas da categoria, a paralisação chama a atenção para os efeitos do criminoso processo de destruição da Petrobras, um ataque traiçoeiro e golpista ao que se pode chamar de pilar central da economia nacional.

Os trabalhadores da Petrobras se incluem nesse conceito. A categoria tem a empresa na cabeça, o domínio da sua tecnologia e a compreensão do seu papel estratégico para a soberania do país. Quando eles dizem que é seu dever defender a empresa falam com propriedade e autoridade, porque são o corpo técnico que dá vida a esse colossal patrimônio público brasileiro.

Duas escolhas

Esse acervo intelectual está muito bem representado pela Federação Única dos Petroleiros (FUP) e pelo Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis Zé Eduardo Dutra (Ineep), especializado em pesquisa sobre o setor de petróleo. E se tornou alvo dos inimigos históricos da Petrobras.

O caso mais emblemático foi a ocupação militar das refinarias no governo do presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC), quando o neoliberalismo iniciou a ofensiva para destruir a empresa. Os petroleiros lutavam para receber um cheque emitido pelo governo anterior, que o novo presidente da República tornara sem fundo.

Era um protocolo assinado pela direção da Petrobras e a FUP, com o aval do ex-presidente Itamar Franco, sobre questões trabalhistas. O calote de FHC levou a categoria à greve. Julgada “abusiva” pelo Tribunal Superior do Trabalho (TST), os petroleiros não acataram a decisão e tentaram dialogar.

A categoria ficou entre duas escolhas: aceitar a abusividade do TST, que fez um julgamento político, ou resistir, mesmo correndo o risco da repressão. Optaram pela resistência e receberam a solidariedade de todos os que conheciam a verdade dos fatos e defendiam uma atitude honesta diante dos acordos assinados.

Governo privatista

A ocupação militar chocou o país. Partidos de oposição, sindicatos e movimentos populares se manifestaram e denunciaram a truculência neoliberal. Mas FHC jogou duro e não cedeu; a ideia de privatização da Petrobras já havia ganhado força nos setores mais radicalizados do governo. 

Uma matéria da revista Veja, contra os petroleiros, desvendou como FHC venceu aquela batalha. “O governo mostrou firmeza, coerência e até competência para acabar com a greve. Brasília montou um esquema inédito de resistência. Em segredo, a Petrobras transferiu combustíveis para as distribuidoras privadas, garantindo o abastecimento de emergência. Importou petróleo e contratou 220 funcionários aposentados para substituir grevistas nas principais refinarias”, revelou

As importações custaram à Petrobras 700 milhões de dólares. Tudo isso gastando 20 milhões de reais por dia, quando o cumprimento do acordo com os petroleiros representava 14 milhões de reais. O problema era eminentemente político — uma demonstração de como FHC trataria aqueles que divergiam programaticamente do seu governo privatista.

Nesse episódio ficou bem demonstrado até onde o neoliberalismo chegaria para liquidar a Petrobras como braço energético do Estado brasileiro – ideia que só não chegou às últimas consequências porque o governo não acumulou forças suficientes. Cogitou-se até a troca do nome da empresa, que se chamaria Petrobrax, ideia abandonada diante da forte reação que ela causou.

Operação Lava Jato

A proposta era para tornar a empresa mais palatável ao “mercado”, tirando dela a marca histórica ligada à soberania nacional. Mas o processo de destruição prosseguiu e só foi interrompido com a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva, em 2002.

A descoberta do pré-sal seria uma importante alavanca para a reindustrialização e para o desenvolvimento do país. O reerguimento da Petrobras como estatal foi uma proeza e tanto diante da intensidade dos ataques desferidos contra a empresa.

Além do pré-sal, a Petrobras lançou um programa de revitalização dos campos maduros, em fase de declínio da produção, que representavam 40% das reservas provadas e cerca de 75% do óleo e do gás produzidos no Brasil. Com investimento de 2,4 bilhões de dólares, a meta era recuperar 800 milhões de barris de petróleo, o correspondente à descoberta de um campo gigante.

Mas exatamente nesse momento surgiu a Operação Lava Jato como organização do submundo da política para interromper essa trajetória. Hoje, a Petrobras está novamente sob um processo de desmanche, que começou pela reversão de todas as medidas adotadas para recuperá-la depois da “era FHC”.

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