De Olho no Mundo, por Ana Prestes

A especialista em relações internacionais, Ana Prestes, destaca em suas notas nesta quarta-feira (29), entre outros assuntos, da preocupação levantada pelo presidente dos EUA, Donald Trump com o aumento do número de casos da covid 19 no Brasil e a chegada de brasileiros pela Flórida.

Foto: Mandel Negan/AFP

O governador da Flórida, dos EUA, Ron DeSantis foi até a Casa Branca combinar com Trump sobre o início da abertura do estado com o país ainda em estado de emergência e epicentro da pandemia global por coronavírus. Qual não foi a surpresa do governador quando Trump se disse preocupado com a chegada de brasileiros! na Flórida. O estado é altamente dependente dos serviços turísticos e o Brasil é o seu maior fornecedor de turistas. A imprensa norte-americana noticia que o presidente foi claro: “cutting off Brazil” (vamos eliminar voos do Brasil), mas que DeSantis foi relutante. O governador sugeriu então que em todos os voos rumo a Miami as companhias aéreas façam testes para o coronavírus e só assim permitam o embarque. A Florida tem uma entrada de cerca de 3 bilhões de dólares/ano proveniente só do turismo e os brasileiros são grande parte deste montante. Segundo uma reportagem sobre o caso, 1,2 milhão de turistas brasileiros foram para a Flórida em 2018, totalizando 8% de todos visitantes internacionais. Na Flórida também vivem cerca de 400 mil brasileiros, um terço de todos os migrantes brasileiros nos EUA. Recordemos que foi na Flórida o último encontro presencial de Trump com Bolsonaro, visita esta da qual ao menos 25 membros da comitiva bolsonariana voltaram infectados pelo coronavirus.

Trump voltou a atacar a China esta semana. Na sua entrevista coletiva de segunda (27), ele disse que seu governo está conduzindo “investigações muito sérias” sobre a origem do surto por coronavírus e que o país asiático poderia “ter impedido isso na fonte”. Segundo ele, era possível impedir que o vírus “se espalhasse tão rápido e não se espalharia por todo o mundo”. É curiosa a acusação de Trump, pois ela se volta contra ele mesmo. O que ele fez para evitar que o vírus se espalhasse nos EUA? Sua política de prevenção e controle ao vírus foi errática e fantástica, dizendo que o calor de abril mataria o vírus ou sugerindo que pessoas injetassem desinfetante, além de criar confusão com a prescrição de cloroquina e outras loucuras mais. A China respondeu ontem (28) às acusações trumpianas. Segundo o porta-voz do ministério das relações exteriores da China, Geng Shuang, “alguns políticos americanos estariam mentindo com a motivação de desviar a atenção de sua resposta insuficiente à pandemia do novo coronavírus em seu próprio país”.

Enquanto Trump ataca a China, o jornal Washington Post revela que o presidente dos EUA recebeu pelo menos 12 alertas sobra a ameaça do novo coronavírus entre janeiro e fevereiro. Eles foram incluídos nos resumos diários das informações recolhidas pelos serviços secretos norte-americanos. O primeiro alerta teria chegado ainda nos primeiros dias de janeiro e dizia que um vírus de origem desconhecida estava se espalhando em Wuhan, na província de Hubei. Nas semanas seguintes, outros alertas surgiram. Essas informações são servidas no café da manhã ao presidente dos EUA no President’s Daily Brief, aquele mesmo que ficou famoso na época do 11 de setembro por ter sido ignorado por Bush. O parlamentar democrata Adam Schiff já sugeriu à Comissão de Serviços Secretos da Câmara dos Representantes dos EUA a abertura de uma investigação sobre as ações de Trump ao longo das semanas que antecederam o estado de emergência no país por conta do coronavírus. Apesar de ter sido alertado nos primeiros dias de janeiro, Trump só tomou medidas em 31 de janeiro quando proibiu entrada de estrangeiros provenientes da China. Curioso é que americanos provenientes da China puderam entrar e não foram avaliados por médicos e nem mesmo tiveram que cumprir quarentena. O que demonstra o caráter racista da medida. Somente em 16 de março (um mês e meio depois) foram tomadas as primeiras medidas de isolamento e distanciamento social e em seguida decretado estado de emergência. Hoje os EUA estão com mais de 1 milhão de infectados e quase 60 mil mortos.

A Austrália, cujo governo é aliado de Trump, também aumentou o tom em relação à China e pediu uma investigação sobre a origem da Covid-19. A ação fez com que o embaixador da China na Austrália, Cheng Jingye, dissesse em entrevista que os chineses poderiam passar a evitar produtos e universidades australianas, em clara ameaça às exportações australianas. O porta-voz do ministério das relações exteriores da China, Geng Shuang, também falou sobre o caso do pedido de investigação por parte da Austrália. Segundo ele, “a China foi o primeiro país a reportar um caso de Covid-19, mas isso não significa que o vírus se originou na China”. Ele disse ainda que “algumas pessoas estão tentando estimular uma investigação inconsistente com uma atmosfera internacional de cooperação, e suas manobras políticas não terão sucesso”.

Esta semana está muito comentada a chegada de médicos cubanos em várias partes do mundo. Enquanto aqui no Brasil os médicos cubanos que já atuaram no Mais Médicos e se tornaram residentes estão proibidos de exercer a medicina por uma corporação médica nacional que joga contra a vida da população brasileira. Mais de 200 médicos e profissionais da área da saúde de Cuba chegaram há dois dias (27) na África do Sul para ajudar na luta contra o coronavírus. Outros 250 médicos e profissionais de saúde chegaram também na Angola.

A Alta Comissária de Direitos Humanos da ONU, Michele Bachelet, pediu ontem (27) que os Estados não excedam no uso de seus poderes para conter a pandemia e acabem atingindo os direitos humanos de suas populações. Nas palavras dela, “é claro que os Estados precisam de poderes adicionais para lhe responder. No entanto, se o Estado de direito não for respeitado, a emergência de saúde poderá tornar-se uma catástrofe de direitos humanos”. Sendo ainda mais explícita, ela diz: “os governos não devem usar poderes de emergência como arma para silenciar a oposição, controlar a população ou mesmo permanecer no poder”.

O governo chinês está se preparando para lançar o programa China Standards 2035. Trata-se de um plano de 15 anos para criar especificações técnicas de como o mundo utilizará tecnologias novas, como inteligência artificial, internet das coisas, computação na nuvem, big data e 5G (com infos do Meio).

Causou rebuliço ontem na imprensa e nas redes um anúncio da farmacêutica norte-americana Pfizer de que potencialmente uma vacina já estaria pronta para “uso emergencial” nos EUA no próximo outono do hemisfério norte. Testes com a vacina já estão sendo feitos na Alemanha e podem começar a ser feitos nos EUA nas próximas semanas.

Repercutiu na imprensa de Israel a afirmação do chanceler brasileiro Ernesto Araújo de que as medidas de isolamento social adotadas pelos países para conter o coronavírus na verdade são parte de um plano de globalismo comunista e podem ser comparados aos campos de concentração usados pelos nazistas, como o de Auschwitz. A comparação foi recebida com espanto pelo seu despropósito e desrespeito às vítimas do holocausto.

A América Latina está como a Europa há seis semanas no que diz respeito ao coronavirus e portanto haverá crescimento do número de casos nas próximas semanas disse ontem (28) o subdiretor da OPAS, Jarbas Barbosa.

Na Colômbia, a prefeita da capital Bogotá, Claudia López, está enfrentando o presidente Iván Duque mantendo a cidade em quarentena total, enquanto o presidente tenta reabrir o país sem fundamento científico da segurança desta medida.

Aconteceu ontem um importante debate sobre a política externa brasileira com os ex-chanceleres Celso Lafer, Rubens Ricupero, Celso Amorim e Aloysio Nunes. Em um dos pontos do debate, o ex-ministro Celso Amorim disse: “em 50 anos de atuação no MRE, nunca vi nada igual, nossa reputação externa não poderia ser pior”. Está disponível neste link:

Amanhã, 30 de abril de 2020, será o aniversário de 45 anos do fim da Guerra do Vietnã, que deveria ser conhecida como Guerra ao Vietnã.

Autor