A gravidade é a resposta da matéria pra solidão

O caminho a ser trilhado para o enfrentamento dos efeitos dessa crise no pós-pandemia deve partir da premissa que a solução tem que se dar pelo fortalecimento dos vínculos coletivos, difusos, porque não vivemos só, vivemos em sociedade e a preocupação de cada um deve ser também com todos

No filme “Você nem imagina” (2020), dirigido por Allice Wu, a protagonista (Ellie Chu, interpretada pela atriz Leah Lewis) em meio à necessidade de explorar e expor seus sentimentos, fala que “A gravidade é a resposta da matéria pra solidão”. Em tempos de pandemia e isolamento social, essa frase, que parte de uma premissa científica (objetiva), faz pensar sobre o quão é necessário à existência humana o compartilhamento de sentimentos e o convívio em sociedade (subjetividade).

A frase lança mão da Lei da Atração Universal, também conhecida como Lei da Gravitação Universal, publicada pelo físico Isaac Newton em 1687, que se baseia na força de atração entre dois corpos em razão destes possuírem massa (matéria), assim ele explicou, à época, o movimento dos planetas.

Nesse momento em que enfrentamos um vírus com alto grau de letalidade, que nos obriga, para enfrentá-lo, a nos isolar, nos afastarmos uns dos outros, medidas mais que necessárias para evitarmos sofrimentos e perdas maiores, podemos enxergar o quanto, à época da normalidade, não dávamos tanta importância à nossa necessidade de aproximação, de contato, de troca de sentimentos e até das ações de solidariedade e de preocupação mútua.

No Brasil atualmente, já estamos vivenciando um momento agudo desta crise, a Covid-19 se espalha nos grandes centros e já começa a se interiorizar, superando qualquer ideia que o compare a uma “gripezinha” ou a uma questão normal. Não, não é uma gripe comum e não podemos interpretá-lo como algo aceitável, é uma pandemia que precisamos tomar todas as medidas necessárias e vencê-la. Neste sentido estamos vendo esforços de governos subnacionais e as iniciativas da própria sociedade, seja para enfrentar a proliferação do vírus, seja para minimizar as consequências da pandemia na economia.

Diante da magnitude dos efeitos da pandemia, vem também à tona, na busca de reordenamentos e correções, a importância a ser dada às relações entre as pessoas, tanto aquelas familiares, amorosas, de amizade, como também aquelas relações difusas, que decorrem da vida em sociedade, da economia, da nacionalidade ou religiosidade, que se expressam através da preocupação com o próximo, do enfrentamento das desigualdades, da tolerância, da garantia de oportunidades e de direitos.

O caminho a ser trilhado para o enfrentamento dos efeitos dessa crise no pós-pandemia deve partir da premissa que a solução tem que se dar pelo fortalecimento dos vínculos coletivos, difusos, porque não vivemos só, vivemos em sociedade e a preocupação de cada um deve ser também com todos!

Somos matéria, mas recheada de sentimentos, e este período pandêmico nos obrigou a passar em revista as nossas vidas, os nossos relacionamentos, valorizar a família e as amizades e os seus momentos. Mas nos remete também a rever a sociedade em que vivemos.

Por que não temos um sistema de saúde compatível para todos, público e universal de verdade? Por que as famílias ainda têm que conviver com mazelas centenárias em suas residências, com falta de água potável e encanada, falta de saneamento e de moradias dignas? Por que muitos detêm muito pouco, e poucos detêm muito?

São problemas sistêmicos que precisamos pôr em pauta, revisá-los e corrigi-los, de forma tranquila, mas abordando as mazelas sociais que o novo coronavírus expôs em grande escala.

Desta pandemia aprendemos, todos, que não conseguimos viver sozinhos, que precisamos viver com outras pessoas, amar e apreciar o convívio, dar valor a isto. Estamos tendo que fazer confinamento com nossas famílias ou às vezes até solitariamente, e o temos que fazer apesar do sofrimento inerente, repito, é nossa obrigação.

Mas passado esse momento, precisamos também conceber a necessidade da melhoria das condições de vida da população, repensar ao que serve a nossa sociedade: tem que servir a todos, não a alguns ou a pouquíssimos.

Somos matéria, somos massa e não podemos nos preocupar somente conosco, porque não conseguimos viver em solidão, sozinhos, a atração de uns aos outros é imperativa… somos matéria, que pensa, e por isso precisamos buscar melhorar a vida daqueles que estão ao nosso redor, indistintamente, nos preocuparmos com o próximo, isso, mais do que nunca, é importante para a vida em sociedade!

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