Incerteza política freia investimento, diz economista do J.P Morgan

“A incerteza em relação aos fatores políticos é uma das grandes restrições à aceleração do investimento. Quem vai tomar a decisão de investir num país com prazo de 5, 10 anos?” questionou Cassiana Fernandez, economista-chefe do banco.

A economista-chefe do banco J.P Morgan, Cassiana Fernandez, afirmou que o aumento da incerteza política no Brasil deve desestimular o investimento no país. Segundo a executiva, esse é um dos principais fatores que levam o banco a ter uma visão mais negativa para a recessão do país. No início de maio, o J.P Morgan projetou contração de 7% da economia brasileira em 2020.

Cassiana Fernandez falou das perspectivas para o Brasil em entrevista ao jornal Valor Econômico publicada nesta segunda-feira (1°). “Nas nossas contas a incerteza em relação aos fatores políticos é uma das grandes restrições à aceleração do investimento. Quem vai tomar a decisão de investir num país com prazo de 5, 10 anos, construindo uma nova fábrica, se não sabe a direção da política econômica para os próximos dois, três anos, não sabe qual a regra do jogo, a estrutura tributária, a questão dos gastos, setores que podem ser beneficiados por políticas públicas?”, questionou.

Ela destacou ainda a saída antecipada da quarentena como fator de instabilidade. “Por mais que os anúncios recentes tenham sinalizado reaberturas no mês em diversos pontos, é importante colocarmos na conta que ter uma saída antecipada agora sem melhora proporcional nos dados de contaminação traz o risco de outra onda de contágio. Os dados de contaminação têm surpreendido negativamente”, comentou a economista.

Cassiana Fernandez disse também que a ineficiência do governo de Jair Bolsonaro em fazer o crédito chegar às micro e pequenas empresas é um problema. “ A medida que facilitaria o financiamento via bancos privados com garantia de 85% do Tesouro não foi efetiva. O desembolso foi menor que o estimado.Vemos muitas empresas reclamando dos bancos privados, que estão recusando essas linhas de crédito. Alguma coisa precisa ser feita. Esse ponto é fundamental, porque vai definir a capacidade de recuperação. Micro, pequenas e médias empresas concentram a maior parte do emprego. É necessário que sobrevivam”, avaliou.

Ela disse, ainda, que a recuperação deve ser lenta, em contraste com o ministro da Economia, Paulo Guedes, que alardeia uma “recuperação em V”. “Vamos sair da crise com empresas, famílias e governo muito mais endividados, e isso compromete a capacidade de retomada. A partir do que temos visto em outros países mais avançados no ciclo de reabertura, com o fator medo, empresas e governo mais endividados, será muito difícil uma retomada plena. Vemos o PIB no fim deste ano cinco pontos percentuais abaixo do nível do fim de 2019. Até o fim de 2021, ainda vemos a atividade cerca de dois, três pontos abaixo”, afirmou a economista.

Fonte: Valor Econômico

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