Quem são os 50 mil mortos?

Os mortos têm rostos. O vírus não é democrático. Negros, pobres e periféricos têm mais chances de morrer.

Já são 50 mil pessoas mortas por covid-19 no Brasil. Na Guerra do Paraguai, morreram cerca de 50 mil brasileiros. Mas a pandemia ainda não acabou.

Cinquenta mil famílias incompletas. Cinquenta mil projetos interrompidos. É como se tirassem a população do município pernambucano de Brejo da Madre de Deus toda do mapa. Um buraco demográfico cavado na história.

Os mortos têm rostos. Têm, sobretudo, cor, endereço, CEP bem definido na pirâmide social. O vírus não é democrático. E nos atravessa a partir de uma estrutura também não democrática. Negros, pobres e periféricos têm mais chances de morrer.

Entre os óbitos por covid-19 com registro de raça/cor, 61% são de negros. Um estudo mostra que 66% das vítimas fatais da pandemia na Grande São Paulo ganhavam menos de 3 salários mínimos.

Saneamento, água encanada e possibilidade de cumprir o isolamento social são armas contra o coronavírus – e contra mais um monte de coisa – que muitos não conseguem empunhar. Nunca tiveram a chance.

A Guerra do Paraguai durou mais de cinco anos. A batalha contra o coronavírus entra no quarto mês. Ainda não acabou. E não tem um general que a lidere. Não tem sequer um comandante que lamente os mortos. É um luto coletivo – e em solidão.

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