Contágio aumenta em pelo menos 12 de 18 capitais que reabriram

As exceções ficaram com Manaus, São Luís, Recife e Fortaleza, que contam queda constante de casos, e Belém e Rio de Janeiro, que também apresentam queda nos números.

(Foto: Reprodução)

O número de casos de covid-19 subiu em ao menos 12 capitais brasileiras que deram início ao processo de retomada das atividades econômicas. Com o avanço da pandemia e consequentemente o aumento da pressão sobre o sistema de saúde, algumas cidades já decidiram, nos últimos dias, recuar da flexibilização e adotar medidas mais restritivas contra o coronavírus.

Para fazer a análise, o jornal O Estado de São Paulo levantou quantos casos foram registrados diariamente pelas capitais desde o início da pandemia, em março, com base em informações reunidas pela plataforma colaborativa Brasil.io. A reportagem comparou a média do fim de junho com a do momento em que a reabertura foi implementada em cada cidade, independentemente do grau de liberação, que varia de um local para outro.

O levantamento aponta que, após o retorno de atividades não essenciais, houve aumento da média de infectados por dia em São Paulo, Belo Horizonte e Vitória, no Sudeste. No Sul, as três capitais também estão com mais casos: Curitiba, Florianópolis e Porto Alegre. Outras cidades que sofreram alta foram Brasília, Campo Grande e Cuiabá, no Centro-Oeste, além de Salvador e João Pessoa, no Nordeste, e de Palmas, na Região Norte.

Embora número de casos aumente na capital paulista, após reabertura, os casos graves que demandam internação não aumentam.

O aumento da covid-19 não é uniforme entre as capitais. Em São Paulo, cujo plano de reabertura gradual foi implementado pelo governo estadual no início de junho, o número de casos diários subiu 15%, variação que não levou ao aumento das internações. Já em Brasília, onde o governo distrital reabriu o comércio no fim de maio, os casos quintuplicaram ao longo do mês passado.

Foram consideradas na análise 18 das 27 capitais brasileiras. Nos locais descartados, ou ainda não há plano de retomada dos setores econômicos ou as ações começaram há menos de duas semanas, tempo considerado necessário por especialistas para avaliar possíveis impactos das medidas.

Especialistas reiteram que a flexibilização do distanciamento social só deveria ser assumida quando a curva epidemiológica estiver na descendente, ou seja, com números decrescentes por algumas semanas. Como nenhuma dessas cidades viveu esta realidade, na melhor das hipóteses, manteve um período de estabilidade no alto da curva, é natural que a flexibilização volte a subir a curva de contágios.

Em Brasília, quando o comércio foi reaberto havia 300 casos diários. Um mês depois, a média está em 1,5 mil novos diagnósticos a cada 24 horas. Mesmo diante da guinada, o governador Ibaneis Rocha (MDB) afirmou nesta semana, que as restrições “não servem mais para nada” e assinou decreto liberando totalmente o comércio, a indústria e o retorno às aulas presenciais.

Recuos

Gráfico de Belo Horizonte

Outro episódio emblemático é o de Belo Horizonte, mas lá o prefeito Alexandre Kalil (PSD) optou por abrir mão da flexibilização e voltou a permitir apenas serviços essenciais. O recuo aconteceu após o número de casos diários saltar de 30, com isolamento social, para 150 com a reabertura em maio de shoppings populares, atividades varejistas e salões de beleza. Em Minas, a taxa de ocupação de UTI bateu em 88% na semana passada. Como não se percebeu nenhum outro fator que pudesse estar causando o aumento, entendeu-se que o motivo principal teria sido a flexibilização do distanciamento social.

Recuo também foi adotado em Porto Alegre, onde os casos dispararam um mês depois da liberação de diversos estabelecimentos, de comércios a igrejas. Lá, a média, que era de cinco casos, hoje está em mais de cem novos por dia. Em um mês, o índice de internações em UTI cresceu 227% e atingiu o recorde de 141 pessoas internadas no início da semana passada.

Norte e Nordeste

Curva epidemiológica do Amazonas mostra estabilidade na queda de contágios e decréscimo constante do número de mortes. O cenário é similar na capital.

Fogem ao padrão de aumento cidades do Norte e Nordeste que vivenciaram o pico da pandemia em maio e adotaram medidas rígidas de isolamento na ocasião, só retomando as atividades após algum controle sobre a propagação. Nesses locais, a reabertura vigente há mais de um mês não mostra elevação nos novos casos. Ao contrário, há redução dia a dia, segundo indica o levantamento.

Exceto por Manaus, em São Luís, Recife e Fortaleza o governo local chegou a decretar bloqueio completo das atividades, o lockdown. Nas quatro cidades, os novos casos diários estão em queda de mais de 50% em relação ao dia da reabertura. Na capital do Maranhão, os 50 novos infectados representam redução de cerca de 80% ante os 300 infectados confirmados diariamente durante o pico de maio.

Outra capital com recuo na média de infectados é Belém, que também chegou a ter lockdown e hoje tem redução de 24% de novos casos. O Rio, embora tenha visto alta de infecções logo após reabrir, fecha a lista de cidades que encerraram a última semana com menos diagnósticos de coronavírus.

O que se observa nestas capitais com resultados descendentes na curva epidemiológica é que as prefeituras mantiveram o isolamento até uma redução maior do ritmo da transmissão. Foi o que as cidades da Europa, mais atingidas, fizeram, aguardando uma redução dos casos por mais tempo.

SP e BH

Em São Paulo, observa-se um certo contorcionismo com os números para justificar a reabertura econômica. Embora os números de junho sejam não apenas crescentes, mas recordes, a aceleração é menor do que havia sido constatada em maio. Com isso, a curva menos acentuada habilitaria a reabertura.

Outro fator usado para justificar a flexibilização antes da queda na curva, é a queda no número médio de pedidos de internação após a retomada gradual das atividades. Em abril, o número de solicitações diárias para internações em leitos de UTI e enfermaria chegou a 350, caindo no fim de maio para 52 solicitações, e no fim de junho, foram feitos 14 pedidos. A média da taxa de ocupação de leitos de UTI covid (rede municipal) nos últimos 7 dias foi de 59%, após ultrapassar 90% no mês passado, segundo a Secretária de Saúde da Prefeitura.

Já a Secretaria de Saúde de BH, onde casos e internações estão em alta, admite que, a cidade terá de conviver com reaberturas e fechamentos do comércio, dependendo dos níveis de avaliação. A pasta disse acompanhar três indicadores para definir a reabertura gradual do comércio: ocupação de leitos de UTI covid, de enfermaria e taxa de transmissão. A Prefeitura também se agarra ao dado de que, entre as 17 cidades com mais de um milhão de habitantes no País, BH (2,5 milhões) é a que tem menos mortes (seis) por 100 mil habitantes.

A prefeitura de Curitiba informou que a cidade segue a tendência da Região Sul, em que a onda de casos chegou tardiamente. Disse não ter havido nada de errado na reabertura e reforçou que as estratégias levam em conta monitoramento diário da doença e da capacidade do sistema de saúde.

A prefeitura de Porto Alegre anunciou que, a partir de 6 de julho, vai suspender atividades em igrejas, salões de beleza e academias, além de fechar o acesso a parques. O município também tem feito apelos para elevar a taxa de isolamento social.

Publicado em O Estado de S. Paulo

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