Um ano depois, manchas de óleo no litoral continuam sem explicação

Pedro Luiz Côrtes comenta sobre o aniversário de um ano do desastre ambiental e destaca a importância de fatos como esse não caírem no esquecimento

SECOM/SERGIPE

O aparecimento de manchas de óleo no litoral brasileiro completa um ano. Espalhada pela extensão Nordeste-Sudeste do País, a poluição continua presente na areia, sedimentos e manguezais, mas ainda faltam explicações por parte do governo a respeito do que causou o desastre.

Pedro Luiz Côrtes, professor da Escola de Comunicações e Artes (ECA) e do Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da USP, diz que, entre as possíveis causas consideradas, a mais plausível, mas que não chegou a ser comprovada, foi um derramamento de óleo durante um transporte da Venezuela ou naufrágio, que logo foi descartada pois as correntes levariam o óleo para o Caribe e não no sentido contrário. Mesmo que fosse o caso, o volume de óleo não seria tão significativo quanto o que atingiu o litoral brasileiro do Nordeste até o Sudeste.

“As evidências não apontavam para fatos específicos, tornando difícil identificar se um navio teve participação no acidente, tornando a situação mal explicada em relação à sua origem”, explica o professor, sobre a possibilidade de um naufrágio, devido a total falta de evidências desse incidente. A Marinha chegou a apontar um petroleiro específico, mas ficou comprovado que não havia relação entre os fatos.

Outro motivo seria o vazamento de algum poço inativo, mas, novamente, foi uma possibilidade descartada pois o óleo não era compatível na composição com aquele disponível nas bacias de petróleo brasileiras.

Côrtes ainda ressalta que, dada a grande extensão litorânea e a dimensão do desastre ambiental, a atuação do governo federal foi muito lenta e aquém do esperado. “O óbvio seria que o Ministério do Meio Ambiente assumisse a coordenação dos trabalhos de recuperação das áreas afetadas, mas esse foi o setor governamental que menos se posicionou sobre o acontecido. Coube às populações e às Prefeituras locais iniciarem os processos de limpeza de forma voluntária, e tardiamente a Marinha assumiu a coordenação de atividades de limpeza e apuração do caso”, conta.

Outra especificidade desse acidente foi a acusação do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, acusando o Greenpeace da autoria, devido à passagem de um navio da organização pelo litoral brasileiro à época. No entanto, o Greenpeace comprovou pelo monitoramento de satélites que isso não correspondia à realidade pois não havia navio deles na área naquele momento.

Os impactos da situação ainda persistem nos dias de hoje. Dentre eles, a contaminação dos mangues preocupa ambientalistas, pois suas espécies são essenciais para a manutenção dos ecossistemas marinhos, causando danos a toda a cadeia alimentar. O óleo preso às rochas contamina por hidrocarbonetos as águas. Espécies marinhas têm mudado seu local de reprodução, afetando a pesca.

O impacto é difícil de mensurar no curto prazo. Esses prejuízos tendem a se alastrar a longo prazo e a serem somados a outros problemas, como a poluição das águas por esgoto e lixo e as alterações climáticas.

Edição de entrevista à Rádio USP

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *