Onda antipolítica retrocedeu e voltamos à velha ordem, diz Nicolau

Para cientista político, pandemia pode colaborar para que a taxa de reeleição de prefeitos seja alta

Dois anos depois da eleição presidencial de 2018 – que teve na vitória do ultradireitista Jair Bolsonaro o fato “mais surpreendente” da história democrática do Brasil desde 1945 –, a onda antipolítica e pró-outsiders retrocedeu. É o que afirma o cientista político Jairo Nicolau, professor da Escola de Ciências Sociais da FGV/CPDoc.

Ao participar nesta terça-feira da “Live do Valor”, promovida pelo jornal Valor Econômico, Nicolau lembrou que Bolsonaro, em 2018, era um político “medíocre do ponto de vista da atividade parlamentar”, estava “há muito tempo na pista” e não era um nome novo ou uma liderança emergente. As condições de sua campanha, além do mais, eram adversas, com recursos muito limitados, partido pequeno, pouco tempo de TV e gastos semelhantes aos de um deputado federal.

“Todas as apostas eram na direção de que ele seria mais um candidato outsider, um candidato fora do sistema, pela retórica – e não pela biografia – e com um resultado de nicho, muito provavelmente”, afirmou Nicolau. “Eu próprio apostava que ele tinha muito mais uma vocação de ser um eterno deputado federal, o que a gente chama de vocação para cargos proporcionais – e não o candidato que teve a votação estupenda que ele teve, a maior que um candidato já teve em São Paulo.”

A seu ver, a grande renovação dos parlamentos em 2018, com a ascensão de partidos como o PSL, mostrou que nem toda renovação é positiva. Hoje, diz ele, já há um entendimento de que o importante é a qualidade da atividade parlamentar, e não o tempo de mandato.

Segundo o cientista político, o sentimento antipolítica que ajudou a onda bolsonarista em 2018 retrocedeu e não tende a se repetir na eleição municipal deste ano. “Minha impressão é que estamos voltando à velha ordem dos políticos tradicionais”, disse. Evidência disso é a liderança de um político como Eduardo Paes (DEM) nas pesquisas de intenção de voto para a Prefeitura do Rio de Janeiro – ainda mais porque o Rio é berço do bolsonarismo no País.

O cientista político também acredita que a pandemia pode colaborar para que a taxa de reeleição de prefeitos neste ano seja alta. O cenário de necessidade de ações contra a Covid-19 pôs os prefeitos na linha de frente, aumentando a exposição dos governantes em pleno ano eleitoral.

Partidos

Outra marca da eleição 2020, na opinião de Jairo Nicolau, será o fortalecimento dos grandes partidos. A nova legislação eleitoral – que inclui o fim das coligações na eleição para vereador – culminará num processo de fusão entre legendas. Nesse sentido, é provável que a reforma partidária seja “a mais profunda que a gente viveu desde a redemocratização”, avalia Nicolau.

Não à toa, a janela de troca de partido neste ano, em abril, já levou a uma grande saída de vereadores de legendas pequenas para partidos mais tradicionais. “Esse processo vai continuar nessa eleição”, prevê. “O fim das coligações, por incrível que pareça, vai gerar um efeito devastador sobre a vida de alguns partidos em pequenos municípios.”

Hoje, 95% dos municípios têm dez ou menos vereadores. Sem coligações, algumas câmaras municipais devem ficar restritas a apenas dois ou três partidos. Para 2022, a tendência é que esse movimento de encolhimento no número de partidos aconteça também no Congresso Nacional. “Começamos um processo de concentração”, concluiu Nicolau.

Com informações do Valor Econômico

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