Eleição 2020: abstenções podem chegar a 30% com pandemia

Ministro Barroso, do TSE, tenta manter otimismo

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) está preocupado com o risco de uma taxa recorde de abstenção nas eleições de 15 de novembro. Em 2016, no último pleito municipal, cerca de 25 milhões de eleitores deixaram de votar no primeiro turno, o que representou 17,6% do total. Esse número tem aumentado de maneira gradual nos últimos anos. Em 2004, por exemplo, o índice foi de 14,2%. Agora, uma ala do TSE avalia que 30% dos eleitores podem se abster.

Presidente do Tribunal, o ministro Luís Roberto Barroso mantém uma posição otimista. “Existe uma média histórica de abstenção de 20%. Tenho a expectativa de que essa abstenção não cresça, por paradoxal que possa parecer”, disse ele ao Valor Econômico. “As pessoas andam com grande motivação de participar do processo político.”

Para o ministro, um sinal de que não haverá um salto neste patamar é o fato de o TSE ter feito uma campanha para atrair mesários voluntários, com adesão de mais 929 mil pessoas. Segundo ele, nos últimos meses, “tudo o que poderia ser feito para garantir a saúde e a segurança de todos foi feito. Se for seguido adequadamente – com máscaras, ‘face shield’ e álcool gel –, o protocolo de segurança estabelecido será suficiente para garantir a saúde de todos”.

Apesar do esforço do TSE para transmitir a mensagem de que será seguro comparecer aos locais de votação, especialistas acreditam que a pandemia deve aumentar o patamar de abstenção. “Algumas pesquisas de opinião perguntaram sobre se as pessoas pretendem votar ou não. E essas pesquisas dão alguns indícios de que a abstenção deve aumentar”, afirma a cientista política Lara Mesquita, do Centro de Política e Economia do Setor Público (Cepesp).

Falta saber, segundo Lara, se a abstenção “vai aumentar de forma homogênea ou vai variar de acordo com o estágio da pandemia em cada cidade”. A seu ver, a disposição de ir ou não ir votar não será semelhante para todas as idades: “Essa abstenção não vai ser igual em todas as faixas etárias. As pessoas de grupo de risco, mais velhas, que têm outras doenças, que se sentem mais vulneráveis, devem ter menos estímulo para comparecer a votar.”

Para o professor Marco Antonio Teixeira, da Fundação Getulio Vargas de São Paulo (FGV-SP), “a alta abstenção é um risco”, seja por falta de alternativa (“para além do comparecimento físico do eleitor”), seja pelos números (ainda elevados de casos e mortes por Covid-19). “Os casos estão aumentando e você tem ainda a irresponsabilidade de parcela da classe política que continua negligenciando a pandemia, a começar pelo presidente da República.”

Para ele, faltou “ousadia” no plano elaborado pelo TSE, que poderia ter oferecido uma alternativa de voto não presencial nesta eleição. O professor diz que entende as dificuldades, especialmente em um momento em que o sistema de votação tem sido posto em dúvida. Mas o momento, afirma ele, “justificaria um ousadia maior, de tentar experimentar alguma coisa”.

Já o professor Humberto Dantas, que coordena o mestrado em Liderança Pública do CLP, disse acreditar que o índice de abstenção vai variar muito de um lugar para o outro. “Aposto em um aumento da abstenção nos grandes centros, e não aposto em movimentos tão significativos assim nas pequenas cidades”, afirma.

Segundo ele, nas cidades com menos de 30 mil habitantes, a política local é muito importante, o que deve mobilizar mais as pessoas. “O voto nessas cidades é uma questão de sobrevivência. Abster-se neste ambiente é, por vezes, impactar sobre a lógica econômica da própria família.”

Com informações do Valor Econômico

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *