Centrais sindicais e governo da Venezuela se unem em apoio a Manaus

O governo bolivariano de Nicolás Maduro fornecerá, por semana, 80 mil m3 de oxigênio a Manaus e as centrais brasileiras farão a captação, transporte e distribuição. Volume equivale a 3 dias de produção das fábricas locais.

Primeiras cargas de oxigênio da Venezuela já chegaram ao Brasil l Foto: Márcio James

CTB, Força Sindical, CUT, UGT, CSB, NCST, que compõem o Fórum das Centrais Sindicais, acabam de firmar um acordo histórico com o governo da Venezuela para otimizar e ampliar o fornecimento de oxigênio hospitalar a Manaus. A capital do Amazonas enfrenta o mais dramático quadro da pandemia no Brasil, por falta desse insumo essencial aos pacientes internados com Covid-19.

Pelo acordo de “colaboração e solidariedade de classe”, a Venezuela fornecerá 80 mil litros por semana de oxigênio hospitalar à capital do Amazonas. As Centrais mobilizarão o trabalho de logística (transporte e distribuição do produto). “Estamos mostrando como se faz a diplomacia dos trabalhadores”, afirmam os presidentes das centrais.

Esse volume de oxigênio que será enviado a Manaus semanalmente é equivalente à soma de três dias de produção das fábricas locais que fornecem o insumo à capital amazonense. “O movimento sindical está na luta pela vida e apoio a sociedade brasileira neste momento tão difícil”, ressalta o presidente da Força Sindical, Miguel Torres.
“Foi um acordo histórico”, comentou o presidente da CTB, Adilson Araújo, que não poupou críticas ao governo Bolsonaro por abandonar o povo ao deus-dará na pandemia e hostilizar a Venezuela a mando de Trump. “O presidente Maduro tem mais espírito de solidariedade e compaixão com o nosso povo que o atual chefe do Palácio do Planalto”.
“Esse acordo é uma conquista do movimento sindical, da classe trabalhadora. Mostra, mais uma vez, que sabemos agir frente a um governo federal incompetente e criminoso, para salvar vidas dos trabalhadores, mostra também a solidariedade entre os países latino-americanos, entre o Brasil e a Venezuela, diante de uma crise sanitária que assola nosso país. Faremos tudo o que estiver ao alcance da CUT e do Fórum das Centrais para impedir que trabalhadores morram por falta de oxigênio. Toda gratidão ao povo venezuelano e ao presidente Nicolás Maduro”, disse Sérgio Nobre, presidente da CUT

O primeiro comboio com oxigênio deve chegar ao Brasil na semana que vem. As Centrais Sindicais vão mobilizar toda sua estrutura organizacional – estaduais, sindicatos, federações, confederações – e também a IndustriAll Brasil neste trabalho urgente para garantir o envio de caminhões à Venezuela para a retirada do oxigênio que será levado e distribuído em Manaus. “É uma troca baseada na cooperação e isso se chama solidariedade de classe”, afirmam os presidentes das Centrais.

Os dirigentes também já iniciaram nesta quarta-feira (20) o contato com os governos estadual e local para articular e encaminhar essa cooperação e também com a iniciativa privada, especialmente o setor de transporte e autopeças. O objetivo é conseguir peças e insumos para garantir a escala da produção da fábrica de oxigênio e de caminhões. A Venezuela enfrenta embargo dos Estados Unidos e falta de produtos e não é reconhecida pelo governo Bolsonaro.

“Lamento que o Brasil enfrente um boicote do seu próprio presidente da República. Nós sabemos bem o que é sofrer um boicote, mas aqui na Venezuela temos governo, temos um presidente que governa para o povo e pelo povo”, disse o ministro das Relações Exteriores venezuelano, Jorge Arreaza.

O governo Maduro respondeu rapidamente ao chamado do Fórum das Centrais feito na semana passada. Foram duas reuniões seguidas: a primeira, política, realizada na noite desta terça-feira (19), com o ministro das Relações Exteriores da Venezuela, Jorge Arreaza e a segunda, técnica, na manhã desta quarta-feira, com o vice-ministro Carlos Ron e Pedro Maldonado, presidente da Corporacion Venezoelana de Guayana, que produz o oxigênio. A Venezuela já doou e entregou, com sua frota, mais de 130 mil metros cúbicos de oxigênio ao Brasil, apesar de o governo Maduro não ser reconhecido pelo governo Bolsonaro, que apoia o boicote dos Estados Unidos imposto pelo país.

“Sabemos da dificuldade pela qual o Brasil está passando e sabemos da importância da solidariedade entre trabalhadores. Nosso presidente Nicolás Maduro vem da luta sindical, por isso quis dar uma resposta imediata ao chamado das centrais brasileiras”, afirmou hoje (20) o viceministro das Relações Exteriores da Venezuela, Carlos Ron.

Os dirigentes sindicais brasileiros agradeceram e destacaram a importância desse acordo, que salvará vidas ante “um governo brasileiro genocida, incompetente, negacionista e omisso”. “Toda gratidão ao povo e ao governo venezuelano”, disseram.

A presidenta do SINTEAN, Ana Cristina Rodrigues, representou a CTB na reunião das centrais com e o ministro das Relações Exteriores da Venezuela e outros membros do governo bolivariano, que resultou no acordo. “Fomos informados que o Governo Venezuelano no momento pode dispor de 80 mil metros cúbicos a cada oito dias e o impasse está no transporte, uma vez que a Venezuela não dispõe de caminhões devido ao embargo que sofrem por parte dos Estados Unidos”, relatou.

Tragédia em Manaus

A capital do Amazonas uma tragédia sanitária, que tem entre suas causas a negligência criminosa de Bolsonaro e do ministro Pazuello em relação à pandemia no Brasil e em particular naquele estado. O Ministério da Saúde e o Palácio do Planalto foram alertados com pelo menos 10 dias de antecedência sobre a iminente escassez de oxigênio e colapso do sistema de saúde, que poderia ter sido evitado.

Com informações da CTB, CUT e Rádio Peão Brasil

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