Privatização de distribuição de vacinas gera caos na pandemia

VTCLog se mostrou completamente perdida em meio ao caos logístico do Ministério da Saúde, de Pazuello, prejudicando a distribuição de vacinas no país.

Em Porto Alegre é possível ver as embalagens da VTCLog com as vacinas enviadas aos estados. Foto: Itamar Aguiar/Palácio Piratini

Reportagem do jornal Folha de São Paulo publicada neste domingo (31) afirma que os funcionários encarregados de receber as remessas de vacinas nas secretarias estaduais de saúde têm reclamado de problemas na logística do Ministério da Saúde. Entre eles, itens errados, atrasos nas entregas e desorganização na comunicação.

O caos logístico na distribuição da vacina é uma consequência da privatização da Central Nacional de Armazenagem e Distribuição de Imunobiológicos (Cenadi), há três anos, no governo de Michel Temer (MDB-SP). O atual líder do governo Bolsonaro na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), era ministro da Saúde na época e fechou e entregou o controle e a distribuição de insumos do Ministério a uma empresa do grupo Voetur, a VCTLog.

Assim, no momento em que o país mais precisava da Cenadi, em plena pandemia de coronavírus, a armazenagem, o controle e a distribuição de todas as vacinas, soros, medicamentos, kits para diagnóstico laboratorial e outros insumos do Ministério da Saúde, estão entregues a uma empresa privado inexperiente. A Cenadi era reconhecida pela competência na logística de seus insumos e pela alta qualificação de funcionários que foram demitidos após a privatização.

“Depois que trocou, o que sentimos na ponta é que eles são novos e inexperientes, como se estivessem perdidos. E não é uma coisa pontual daqui, é todo mundo reclamando”, disse uma servidora identificada como “Carla“ pela ‘Folha’. Segundo a fonte, as críticas ao serviço são constantes em um grupo de Whatsapp de representantes dos estados e do Programa Nacional de Imunizações (PNI). “Em abril vai juntar as campanhas de influenza e Covid, com certeza vai dar problema”, comentou.

João Leonel Estery, coordenador da central de 1996 a 2016, contou que 200 colaboradores terceirizados foram demitidos após a medida de Barros. “Para nós foi um balde de gelo seco. Tínhamos a estratégia toda pronta, tecnologia de ponta e criamos um transporte com perda de vacinas quase zero. Botaram para fora técnicos altamente qualificados, todos com o curso de especialização em rede de frios que criamos com a Fiocruz”, afirma

“Fomos totalmente contra a decisão. Acredito que a logística de imunobiológicos teve uma perda substancial, a estrutura da Cenadi funcionava muito bem”, declarou Ricardo Gadelha, que foi gerente da gestão de insumos do PNI até 2018.

A reportagem informa que valor do contrato com a VTCLog é de R$ 97 milhões anuais e vai de 2019 até 2023. O Ministério da Saúde não respondeu quanto era gasto com a Cenadi. A antiga direção da central informou à ‘Folha’ que os custos anuais da central somaram R$ 120 milhões em 2018.

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