Xi Jinping e Joe Biden conversam por telefone

Na primeira conversa oficial na última quarta-feira (10), chefes de Estado buscam diálogo, mas defendem interesses nacionais.

Os chefes de Estado da China, Xi Jinping, e dos EUA, Joe Biden, conversaram via chamada telefônica na véspera do Ano Novo Lunar chinês, nesta quarta-feira (10).

Após um período turbulento nas relações entre os países, resultado da política externa de enfrentamento adotada pelo ex-presidente americano Donald Trump, o tom em geral foi de reconciliação, mas ainda com disputas entre eles.

O governo Trump iniciou o mandato em 2016 com demonstrações de cordialidade com a China, em busca de vantagens comerciais. Porém, após o surgimento do novo coronavírus, o republicano passou a tratar o governo chinês com animosidade. Especialistas em política externa avaliam que as relações entre Pequim e Washington estavam em seu ponto mais baixo desde a revolução comunista de 1949.

O governante chinês parece concordar com a análise. Segundo a rede estatal de televisão da China, Xi assinalou que a restauração e o crescimento dos laços China-EUA foi o acontecimento mais importante nas relações internacionais nos últimos 50 anos.

Para o governante chinês, a estabilidade na relação é benéfica para os países e para o mundo. Entretanto, o confronto entre as potências mundiais seria um desastre para o planeta.

“Você disse que os EUA podem ser definidos em uma palavra: possibilidades. Esperamos que as possibilidades apontem agora para uma melhora das relações entre a China e os EUA”, disse Xi a Biden.

Os dois países, sugeriu Xi, devem fazer esforços conjuntos na mesma direção, aderir ao espírito do não conflito, não confrontação e respeito mútuo. Xi Jiping apontou a pandemia de coronavírus como um de vários temas em que a cooperação entre os países pode gerar resultados positivos.

A conversa também abordou temas delicados. Xi reconheceu que não será possível uma cooperação em todas situações, o que exigirá mecanismos de diálogos mais precisos para compreender as intenções políticas do outro e evitar mal-entendidos.

O presidente chinês se referia a questão de Taiwan e temas relacionados a Hong Kong e Xinjiang, regiões onde os EUA procuram aumentar a influência política e econômica. Xi enfatizou que os americanos devem respeitar a soberania e a integridade territorial da China.

Joe Biden, por sua vez, segundo comunicado da Casa Branca, expressou “profundas preocupações” sobre o que chamou de práticas econômicas “injustas e coercitivas” de Pequim. O presidente americano apontou que a potência asiática tem usado sua influência no continente para criar barreiras econômicas em países aliados.

Outro ponto crítico abordado por Biden é a violação de direitos humanos em Xinjiang, região onde vive minoria mulçumana uigur. O governo chinês nega as acusações e justifica que na região há um programa de “treinamento vocacional”, que tem como objetivo a criação de empregos para a população e manter o extremismo religioso sob controle.

“Biden destacou suas preocupações fundamentais sobre as práticas econômicas coercitivas e injustas de Pequim, a repressão em Hong Kong, os abusos dos direitos humanos em Xinjiang e as ações cada vez mais assertivas na região, inclusive em relação a Taiwan”, informou o comunicado da Casa Branca.

O governante americano também elogiou o povo e a cultura chinesa, além de reforçar o desejo por cooperação. A abordagem de Biden deve ser diferente da adotada por se antecessor Donald Trump.

Apesar da aproximação, a disputa geopolítica deve continuar intensa. Xi e Biden já se conheciam, quando Biden era vice-presidente de Obama e Xi estava prestes a assumir o comando do governo chinês.

O presidente da China já se referiu a Biden como “velho amigo” e o americano declarou que o conhecia muito bem. Nem por isso as relações institucionais entre os países serão menos tensas.

“Ele é muito brilhante, muito duro. Ele não tem, e eu não quero dizer isso como uma crítica, apenas a realidade, um osso democrático em seu corpo”, disse Biden em entrevista recente à CBS sobre Xi.

Em comentário nesta quinta-feira, Biden disse que o diálogo foi bom e que “se não fizermos nada, eles nos ultrapassarão”.

A avaliação de ambos é que a conversa telefônica foi o princípio de relações mais civilizadas entre os países e servirá como um sinal positivo ao mundo.

Com informações de Diário Online do Povo, O Globo e Metrópoles