O Bolsonarismo se arma para o golpe de 22

Se essas ações do governo Bolsonaro e de seu rebanho fiel não são os preparativos para um golpe em 2022, após eventual derrota nas urnas, não sei mais o que podem ser.

Foto: Acervo Estadão / Google Imagens

Patrocínio de notícias falsas contra instituições da República e ameaças contra seus membros. Patrocínio e participação em manifestações antidemocráticas contra essas mesmas instituições. Liberalização crescente da posse e do porte de armas para o cidadão de bem que pode pagar. Loteamento de generais no Planalto e na Esplanada dos Ministérios. Contestação recorrente da legalidade de eleições passadas e futuras, como um capacho do ídolo estadunidense. Se essas ações do governo Bolsonaro e de seu rebanho fiel não são os preparativos para um golpe em 2022, após eventual derrota nas urnas, não sei mais o que podem ser.

Se nada mudar até lá, o governo, escoltado por fascistas, milicianos e uma parcela das Forças Armadas, não terá muitos obstáculos no caminho. Afinal, a história do Brasil e de outros países da periferia do mundo é pródiga em exemplos de como uma minoria de militares pode subjugar a maioria do povo pela violência, pelo medo e pela cumplicidade criminosa de burgueses, reacionários e conservadores.

Se nada mudar, a esquerda brasileira de hoje, pacifista no geral, dominada por militantes identitários e social-democratas mal resolvidos, pulverizada em outros guetos que se comunicam com muita dificuldade entre si, vai resistir heroicamente, de peito aberto, contra a nova ditadura civil-militar, mas será esmagada por seu próprio despreparo contra o terrorismo de um Estado policial.

A direita liberal também vai protestar em público contra o autoritarismo do regime, contra a violência, pelos direitos humanos e liberdades individuais. No entanto, continuará pregando a ladainha do estado mínimo, do livre-mercado, da livre iniciativa, até fechar acordos discretos com a ditadura para preservar e garantir: 1) o lucro dos grandes empresários, latifundiários e acionistas; 2) a confiança dos investidores estrangeiros; 3) obediência canina ao mercado financeiro internacional; 4) entreguismo das estatais; 5) aniquilação dos sindicatos, partidos de oposição e movimentos populares.

Sou de uma geração, nascida nos anos 1980, que passou a juventude sem guerras civis, revoluções e golpes militares em nossas terras. Pelo menos numa cidade do interior do Paraná, tudo isso fazia parte de um universo longínquo, que só existia nos livros, filmes, jornais e televisão. As batalhas políticas se davam nas ruas, em greves e protestos majoritariamente pacíficos ou na arena das câmaras municipais, assembleias estaduais e Congresso Nacional.

Contudo, se Legislativo e Judiciário não cumprirem seu papel constitucional, se mantiverem a passividade, cumplicidade e conivência perante os crimes de responsabilidade do governo Bolsonaro, corremos o risco de assistir, mais uma vez em nossa triste história, ao funcionamento de poderes e instituições fantoches, sob o manto de chumbo da ditadura.

Espero não ter que viver ou testemunhar, como rotina, os horrores do sequestro, da tortura e da morte num porão cheio de ratos. Espero que as instituições e os poderes tão vaidosos da República cumpram de verdade seu dever na hora decisiva. Espero que os partidos, centrais sindicais, entidades e movimentos sociais mobilizem suas bases e se levantem, com toda a força possível, contra o assalto dos novos fascistas.

Espero estar vergonhosamente equivocado. Espero que a visão de um golpe bolsonarista em 2022 seja apenas delírio!

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