Bolsonaro só espalha vírus e morte

O desastroso governo Bolsonaro negou vacinas e relutou todos os ensinamentos científicos para o enfrentamento à pandemia. Disse inúmeras vezes que preferia proteger a economia. Pois é, deu tudo errado.

Ilustração de Líbero para a coluna de Drauzio Varella na Folha

O IBGE divulgou nesta terça-feira (1º )  os resultados da economia do 1º trimestre. O Produto Interno Bruto (PIB) apresentou uma elevada variação nominal de 11%, em relação ao 1º trimestre de 2020. Mas esse foi o resultado da mesma alta dos preços que esvazia as geladeiras e torna mais difícil a vida das famílias. Do ponto de vista real, o PIB variou 1,2% em relação ao último de 2020, e 0,95% em relação aos valores do 1º trimestre de 2020. Esses números poderiam induzir que o Brasil recuperou as perdas de 2020. Ledo engano. 

Nos critérios que medem o PIB, no comparativo dos últimos 4 trimestres, houve uma variação negativa de 3,76%, uma pequena, apenas pequena mudança frente aos -4,06% registrado no final de 2020. 

Em qualquer hipótese de análise, o resultado do PIB reflete uma economia que não consegue se afastar da crise sanitária, dos quase 470 mil mortos; não vê horizonte de vacinação em massa e nem a adoção de medidas não farmacológicas para impedir a proliferação do vírus. Reflete também uma política econômica que se recusa a apoiar a produção e a recuperação da economia, que deixa os agentes econômicos ao deus-dará; ignorando as penúrias por que passam os trabalhadores, as empresas e é indiferente a grande queda na renda das famílias.

Os poucos segmentos que apoiam esse governo e veneram os ganhos da bolsa de valores louvaram os resultados. Mas o que representam esses dados para o conjunto da produção de bens e serviços no primeiro trimestre de 2021? Como sobrevivem as famílias? Os números do IBGE para o mercado de trabalho da PNAD-C relativa a março permitem acompanhar o significado.  

Comparando-se os dados do 1º trimestre de 2021 em relação ao mesmo período de 2012, o país aumentou o número de pessoas em idade ativa de 155,7 milhões para 177 milhões, 21,3 milhões a mais que em sua grande maioria poderia estar produzindo. No mesmo período, a população ocupada caiu de 87,6 milhões para 85,7 milhões trabalhadores. Os números de março de 2021 são o menor valor trimestral desde 2012! Há 2 milhões de trabalhadores ocupados a menos do que em 2012. No mesmo período, os desempregados praticamente dobraram (de 7,5 milhões para 14,8 milhões). E acompanhando o desemprego, o total de desocupados, subutilizados e da força de trabalho potencial aumentou 50%, de 21,3 milhões para 33,2 milhões. Em relação aos trabalhadores do setor privado com carteira assinada, novamente, os valores de 2021 são menores do que em 2012. Esse segmento populacional diminuiu de 33,4 milhões para 29,6 milhões, nesse período, quase 4 milhões de trabalhadores a menos. 

Fruto desse grande desmonte do mercado de trabalho, a massa de rendimentos do trabalho de todos os trabalhadores ocupados em 2021 totalizou R$ 225,9 bilhões. Em termos reais, esse valor é inferior ao verificado no mesmo trimestre de 2014 (R$ 226,1 bilhões) e o menor desde então. E se consideradas apenas as remunerações dos empregados, os valores de R$ 137,8 bilhões do 1º trimestre de 2021 é inferior aos R$ 138,4 bilhões de 2013. 

Quando os números de 2021 são cotejados aos de 2020, no mesmo período, o IBGE aponta que o PIB cresceu em termos reais quase 1%. Mas, o mercado de trabalho encolheu. Em apenas 12 meses, a população ocupada diminuiu 2,9 milhões e os desocupados são 2 milhões a mais. A subocupação cresceu e agora são 5,6 milhões a mais, entre desocupados e subutilizados. Entre os empregados com carteira, há 4,5 milhões de trabalhadores a menos. A massa de rendimentos do trabalho caiu R$ 25 bilhões e a dos empregados, R$ 11 bilhões.

Com esse quadro, um exército de desempregados de 14,8 milhões de trabalhadores, que representa 14,7%, esconde outros 7 milhões que têm apenas pequenas jornadas de trabalho e outros 10 milhões de desalentados, que nem trabalham nem  vislubram perspectivas de encontrar o que fazer. Essa realidade adquire aspectos estruturais (de longa duração) e não mais se confunde com uma mazela conjuntural. Com baixos crescimentos econômicos e os frutos da reforma trabalhista, os resultados apontam para fragilização do emprego e precarização do mercado de trabalho e da renda do trabalho.

A última Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) divulgada pelo IBGE (com dados de 2017-2018) revelou que a fome (insegurança alimentar grave) atingiu mais de 10 milhões de brasileiros, 4,6% da população. Voltando a crescer mesmo antes da crise de 2020. Esses números eram de 6,9% em 2004, no primeiro ano do Bolsa Família; 5% em 2009 e 3,2% em 2013, com os excelentes números do mercado de trabalho no país. A retomada da fome se agravou em 2020 a partir da redução pela metade do benefício emergencial em outubro e, mais ainda agora, com os ínfimos valores que o governo distribui em 2021. Levantamento do Datafolha apontou em maio deste ano, que um quarto dos brasileiros – mais de 50 milhões – afirma que a quantidade de comida da família foi insuficiente nos últimos meses. E 88% dos entrevistados disseram percebem que a fome no país aumentou. A situação é mais precária para mulheres, negros e pessoas menos escolarizadas. Faltou comida para 40% dos que têm apenas o ensino fundamental completo. Com insuficientes auxílios governamentais, a fome acompanha o desemprego. Onde há apenas um trabalhando, 29% não teve comida suficiente. Onde nenhum trabalha, o número salta para 35%.

Quando essa pesquisa revelar os dados de 2021 veremos mais um resultado dramático. Mais de três em cada quatro mortes no Brasil são de pessoas com mais de 60 anos. Eram 300 mil idosos até meados de maio de 2021. A análise da renda famílias revelará mais uma faceta social da Covid-19. Uma parcela significativa das famílias mais pobres perderá a principal ou uma significativa fonte fixa de renda. Além do luto pela morte de pais e avós, terão perdido a renda de aposentadorias, pensões e beneficiários da LOAS.  

O desastroso governo Bolsonaro negou vacinas e relutou todos os ensinamentos científicos para o enfrentamento à pandemia. Disse inúmeras vezes que preferia proteger a economia. Pois é, deu tudo errado. 

Estudo comparado do IPEA, analisando os números da Covid-19 em 2020 de quase duas centenas de países, concluiu que o Brasil registrou mais mortes por habitantes do que 89% dos 178 países com dados divulgados pela OMS. E, quando os números são ajustados pelo perfil demográfico brasileiro (faixa etária e sexo), o Brasil teve resultados piores do que 95% desses países. Em relação ao emprego, com os dados da OIT, o Brasil teve queda deste indicador maior do que o ocorrido em 84% dos 63 países analisados (pela comparação entre os três últimos trimestres de 2019 e de 2020). Esse é o retrato do Brasil criado por Bolsonaro: mais mortes, mais miséria e mais desemprego.

As manifestações da última semana retratam a crescente mobilização dos mais diversos segmentos sociais que querem mudanças radicais. E pedem muito pouco, vacina no braço, comida no prato, educação, emprego e direito à vida. O Fora Bolsonaro vai continuar, cada vez mais alto, contagiando todo o país.

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