Com Bolsonaro, preço da gasolina nas bombas é o maior do século

Como o governo não planeja nenhuma ação para conter a disparada nos preços, a expectativa é que a pressão inflacionária se acentue ainda mais em novembro

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Nunca foi tão caro comprar gasolina no Brasil. Na semana passada, após o novo reajuste da Petrobras nas refinarias, os preços dos combustíveis voltaram a subir. Enquanto isso, o governo Jair Bolsonaro continua omisso frente à inflação descontrolada no setor.

Conforme levantamento da Agência Nacional de Petróleo (ANP), o litro da gasolina aumentou 3,15% em relação à semana anterior, para R$ 6,562. Com isso, outubro se tornou o mês mais caro deste século para os consumidores da gasolina. Como Bolsonaro não planeja nenhuma ação para conter a disparada nos preços, a expectativa é que a pressão inflacionária se acentue ainda mais em novembro.

Após uma contração sem precedentes na demanda global por combustíveis em 2020, diante da eclosão da pandemia de Covid-19, os preços das commodities começam a refletir a recuperação da economia e vivem uma forte valorização este ano. O consumidor brasileiro tem se deparado com uma inflação geral em todos os combustíveis.

Para os motoristas que abastecem veículos flex fluel, a gasolina acumula uma alta de 45,3% no ano, nos postos. O derivado atingiu em outubro um preço médio de R$ 6,341, patamar mais alto deste século, tanto em valores nominais quanto reais (ajustado à inflação). Os dados são do monitor de preços do Observatório Social da Petrobras (OSP) – entidade de pesquisa ligada à Federação Nacional dos Petroleiros (FNP), ao Instituto Brasileiro de Estudos Políticos e Sociais (Ibeps) e ao Instituto Latino-Americano de Estudos Socioeconômicos (Ilaese)

Enquanto isso, o etanol hidratado, principal alternativa ao combustível fóssil, vive uma inflação ainda pior, de 59,3%. A exemplo da gasolina, suscetível às oscilações do petróleo e do câmbio no mercado internacional, o biocombustível também não está alheio às influências da economia global, no caso à dinâmica do mercado de açúcar.

O gás natural veicular (GNV), atrelado à dinâmica do mercado de petróleo, por sua vez, acumula um aumento de 33,1% nos postos brasileiros, em 2021. Já o preço do diesel S-10, derivado com menor teor de enxofre, acumula, no ano, um aumento de 42,3% nas bombas. Em outubro, o valor médio do litro vendido nos postos foi de R$ 5,096, valor mais alto desde 2012, quando o produto começou a ser vendido no Brasil.

Já o gás liquefeito de petróleo (GLP), o gás de cozinha, acumula alta para o consumidor de 35,5%. O botijão de 13 quilos (P-13), o mais popular, foi vendido, em outubro, em média, a R$ 100,79 – patamar recorde no século, segundo o OSP.

Na semana passada, a Petrobras aumentou em 7% o diesel nas refinarias, o que representa impacto para o consumidor de R$ 0,24 no litro do derivado, se o reajuste for repassado integralmente pelos demais elos da cadeia. Já a gasolina foi reajustada em 9,15%, com impacto potencial de R$ 0,15 por litro no preço final do combustível. O valor cobrado pela companhia, nas refinarias, responde por 35,5% do preço final da gasolina. No diesel, essa parcela é de 55,8%.

Segundo André Braz, economista do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV/Ibre), o impacto da gasolina na bomba pode ficar em 3%. Caso esse reajuste se confirme, haverá um impacto de 0,18 ponto percentual no IPCA de novembro, uma vez que a gasolina compromete 6% do orçamento familiar.

Braz tinha a expectativa de que a taxa de inflação em novembro ficasse na casa de 0,6%. Ou seja, caso nenhuma outra pressão ocorra, o IPCA de novembro poderá vir próximo a 0,8%. Para o ano, ele acredita em um IPCA perto de 9,5%, mas com viés de alta.

“É uma pressão inflacionária que faz toda diferença, porque tem impacto grande, direto e deve vigorar ao longo de 2022. Não existe previsão de queda no barril de petróleo ou de nenhuma melhoria no câmbio no Brasil, dada a discussão sobre fontes de financiamento para o governo no ano que vem”, diz Braz.

Braz diz que a economia do país vai colher em dezembro e janeiro parte dos aumentos dos combustíveis de outubro. Se a gasolina tem impacto mais imediato sobre o IPCA de novembro, o efeito do preço do diesel demora mais a chegar ao consumidor – e chega por vias como o valor do frete e o preço de bens que usam transporte de carga. “O impacto do diesel se transmite pela cadeia lentamente”, diz Braz, lembrando dos transportes urbanos. “Isso engrossa o caldo do IPCA de 2022”, frisa.

O economista diz ainda que o setor de energia segue pressionado globalmente, movimento que deve ganhar força com o crescimento da demanda com o inverno no Hemisfério Norte. Com isso, “a depender dos efeitos indiretos”, o IPCA pode chegar a 10% no fim do ano. “Cada mês tem uma coisa a mais que acontece com a inflação. Novembro não tinha nada para pressionar e vieram os combustíveis.”

Com informações do Valor Econômico