Juro básico não chegava a dois dígitos desde 2017
Oitavo aumento consecutivo deve manter 2022 com alto patamar de restrição ao crédito e desestímulo à atividade econômica.
Publicado 02/02/2022 19:16 | Editado 03/02/2022 10:42
A Selic, taxa básica de juros, não chegava aos dois dígitos desde julho de 2017, quando esteve em 10,25% ao ano. Depois de quatro anos e meio, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu nesta quarta-feira (2) elevar a taxa Selic de 9,25% ao ano para 10,75% ao ano – alta de 1,5 ponto percentual.
É o oitavo aumento consecutivo na taxa, numa ascendente que recoloca o Brasil entre os países com juros mais altos do mundo. Com isso, o país aumenta os custos da dívida pública, favorecendo especuladores interessados em investir seus dólares no Tesouro Direto. Caso atraia recursos externos, pode reduzir a taxa cambial e favorecer as importações.
Esse patamar ascendente em 2022 visa a reduzir a inflação, ao desestimular o crédito e incentivar a poupança. Mas tem como graves efeitos colaterais a redução da atividade econômica, com a recessão impedindo a oferta de vagas de desemprego.
A inflação fechou 2021 em 10,06%, o maior índice desde 2015. Para 2022, o mercado financeiro já prevê inflação acima dos 5%. Em comunicado, o comitê avaliou que manterá o “ciclo de aperto monetário” — isto é, seguirá aumentando a taxa Selic.
Porém, o Copom ponderou que tende a elevar a taxa mais suavemente daqui para frente. A previsão pode mudar se até a próxima reunião, em 16 e 17 de março, a inflação escalar para além do esperado. Com isso, a gestão monetária tem como principal vetor da alta dos juros a taxa de inflação, assim como vê na Selic sua única ferramenta para atacar o aumento de preços. O governo não vislumbra a possibilidade de aumento da demanda interna de produção, nem investimentos para garantir essa produtividade da indústria e da agricultura. A política equivocada de paridade do preço internacional de combustíveis da Petrobras também contribui para alavancar os preços de frete.
A amenização se justifica, na avaliação do comitê, porque os efeitos da alta da Selic acumulada no ano serão sentidos nos próximos meses. Porém, a inflação ao consumidor, segundo o Copom, segue “surpreendendo negativamente”.
Um dos fatores que podem intensificar a alta de preços, de acordo com o Copom, são as políticas fiscais do governo. Como o mercado ainda não confia plenamente que o governo respeitará as leis relativas à saúde das contas públicas, o comitê avalia que há maior probabilidade de a inflação subir acima do projetado. Uma das críticas do mercado financeiro a Bolsonaro é o aumento do Auxílio Brasil e o reajuste dos salários das polícias.
O aumento da Selic, entretanto, resulta em empréstimos bancários com juros mais altos. No ano passado, o aumento do juro bancário foi o maior em seis anos.
Ao encarecer os empréstimos, a alta da Selic influencia negativamente no consumo da população e nos investimentos produtivos. Dessa maneira, impacta negativamente o Produto Interno Bruto (PIB), o emprego e a renda.
Além disso, o aumento da Selic gera uma despesa adicional com juros da dívida pública, tornando o endividamento ainda maior. Calcula-se que o ciclo de alta da Selic de 2% ao ano, em março de 2021, para 10,75% ao ano, se confirmada, geraria uma despesa adicional de quase de cerca R$ 280 bilhões com juros da dívida (em 12 meses).