Avô de Putin era cozinheiro pessoal de Lênin e Stálin

Apenas em 2018, durante a gravação de um documentário de duas horas, presidente russo revelou o episódio pela primeira vez

O presidente Vladimir Putin e seu avô paterno, Spiridon

O documentário Putin (2018) tornou pública uma incrível coincidência. Segundo o longa-metragem, o avô paterno do presidente da Rússia, Vladimir Putin, trabalhou para os principais líderes da ex-União Soviética: Spiridon Putin era cozinheiro pessoal dos líderes da Revolução Russa Lênin e Stálin.

Foi apenas durante a gravação do documentário de duas horas que o governante revelou o episódio pela primeira vez. O filme mostra uma entrevista do jornalista Andrêi Kondrachov, que teve relatos inéditos do presidente. Na ocasião, as declarações de Putin sobre o episódio foram reproduzidas pela agência de notícias britânicas Reuters.

“Ele era cozinheiro na casa de Lênin e, mais tarde, na casa de Stálin, num dos dachas na região de Moscou. Quando meu avô trabalhava para Stálin, meu pai o visitou e até recebeu permissão para entrar na casa – e pôde observar como eles viviam”, declarou Putin. Segundo ele, a relação dos avós paternos com a antiga cúpula soviética era tranquila. “É provável que eles fossem valorizados por serem pessoas de confiança.”

Dachas eram as casas de campo dos comunistas na região de Moscou. Lá, Spiridon era responsável por cozinhar a maioria das refeições dos soviéticos. Essa foi a rotina do avô de Putin até a pouco antes de sua morte, em 1965, aos 86 anos

Assim que Stálin morreu, Spiridon e sua mulher foram transferidos para uma pensão do Partido Comunista Russo em Ilinskoie, próximo a Moscou. De acordo com porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, as informações retratadas no documentário eram “precisas”.

Hoje, 30 anos após o fim da União Soviética, Putin tenta entrar para a história como o líder responsável por restaurar o status de potência global perdido pela Rússia. O presidente trata as conquistas de seus antepassados como eventos relevantes para a sociedade russa dos dias atuais. São frequentes os discursos elogiosos ao desempenho soviético na 2ª Guerra Mundial, as inaugurações de memoriais aos heróis do conflito e diferentes processos de integração com ex-repúblicas soviéticas.

Em 2005, Putin deu uma das mais contundentes declarações nesse sentido, ao afirmar que “o colapso da União Soviética foi o maior desastre geopolítico do século 20” durante seu discurso anual no Parlamento. Já em uma entrevista concedida em 2017, ele criticou a “excessiva demonização” de Stalin promovida pelo Ocidente, e afirmou que a estratégia era usada “como um meio de atacar a União Soviética e a Rússia”.

Antes disso, o líder defendeu uma avaliação mais equilibrada sobre o governo do comunista pela opinião pública. Durante uma conferência com jornalistas locais em 2009, Putin disse que não era possível classificar Stalin apenas como bom ou mau, mas exaltou seu legado econômico. “É impossível fazer um julgamento geral. Mas evidentemente, de 1924 a 1953, o país que Stalin governou passou de uma sociedade agrária para uma sociedade industrial.”

Apesar das menções, Putin não se assume sequer como um político de esquerda e sofre até oposição do Partido Comunista da Federação Russa. Além disso, ele é membro de um partido essencialmente nacionalista e conservador, o Rússia Unida. Segundo Peter Rutland, professor da Universidade Wesleyan, Putin tenta amenizar a imagem de Stalin e reconstruir a confiança da população no Estado com o objetivo de reconstruir o orgulho russo.

Após a dissolução da União Soviética, a Rússia passou por períodos difíceis, com grande instabilidade política e uma profunda crise econômica. Tudo isso colaborou para a perda da confiança popular no governo e nas instituições. “O governo quer que a população tenha orgulho de ser russa, e o colapso da União Soviética criou um vazio em parte da sociedade, sobretudo nas gerações mais velhas”, diz Rutland. “Ao relembrar com frequências as conquistas soviéticas durante a 2ª Guerra, Putin busca justamente preencher esse vazio com um sentimento nacionalista e patriótico.”

Com informações do Aventuras na História a da BBC