Diplomacias da Índia e do Paquistão evitam criticar a Rússia

A Índia e o Paquistão enfatizaram a importância de a Rússia e a Ucrânia reduzirem as hostilidades e voltar a diálogo, evitando apontar responsáveis

O primeiro-ministro do Paquistão, Imran Khan, estava em Moscou para conversar com o presidente Putin sobre um importante acordo de gasoduto e questões regionais, incluindo o Afeganistão.

Índia e Paquistão têm procurado expressar suas posições diplomáticas sobre a escalada da invasão na Ucrânia pela Rússia, evitando cuidadosamente atribuir responsabilidade pela violência. Foi o que se percebeu por meio de notas e telefonemas do ministro das Relações Exteriores do Paquistão, Shah Mahmood Qureshi, e o primeiro-ministro indiano Narendra Modi, com seus pares da Ucrânia e da Rússia.

A linguagem das declarações do Paquistão sobre a crise foi semelhante à da Índia no Conselho de Segurança das Nações Unidas (CSNU) e nas conversas telefônicas. Modi fala com o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky enfatizando a necessidade de acabar com a violência sem atribuir responsabilidade por ela. Com o russo Vladimir Putin, a conversa é a mesma. Um tom formal e neutro típico de quem não quer tomar partido, já tomando, ao falar de necessidade de diálogo e oferecendo sua contribuição para os esforços de paz.

A Índia evita abertamente votar resoluções da ONU que responsabilizem a Rússia.

Na quinta-feira, o primeiro-ministro do Paquistão, Imran Khan, esteve em Moscou para conversar com o presidente Putin sobre um importante acordo de gasoduto e questões regionais, incluindo o Afeganistão. Na volta, falou do conflito de forma cautelosa, repetindo o discurso do diálogo necessário e admitindo os impactos que o conflito tem principalente para países em desenvolvimento.

Os laços de longa data da Índia com a Rússia

O presidente russo, Vladimir Putin, recebe o primeiro-ministro indiano Narendra Modi durante sua reunião no resort de Sochi, no Mar Negro

Índia e Rússia mantêm laços calorosos há décadas, que analistas dizem que se devem principalmente às exportações de armas russas para o país do sul da Ásia, bem como outras áreas de cooperação.

A Índia também desenvolveu laços muito mais estreitos com os Estados Unidos nos últimos anos, evidenciado pela aliança de defesa “Quad” da Índia na Ásia-Pacífico dos EUA, destinada a combater a China.

De acordo com o Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo (SIPRI), estima-se que 23% de todas as exportações de armas russas entre 2016 e 2020 foram para a Índia, representando 49% de todas as importações indianas de armas no mesmo período.

Em dezembro de 2021, a Índia disse que começou a receber entregas do sistema russo de defesa antimísseis S-400, após uma visita naquele mês do presidente Putin a Nova Délhi.

Analistas dizem que a abstenção da Índia na votação do Conselho de Segurança pode ser resultado tanto das grandes importações de armas quanto da posição mais sutil da Índia em questões relacionadas a conflitos envolvendo EUA, Rússia e China.

Especialistas apontam também para uma postura de respeito pelas reivindicações da Rússia, afinal, Índia e Paquistão também querem que o direito de defesa sobre seu território seja tratado com legitimidade. Ambos são países em meio a regiões de conflitos étnicos, religiosos e territoriais.

Além disso, vêem as cobranças em torno desses países apenas como pressão ocidental para condenar a Rússia e agradar os EUA. A concepção de haver uma corda bamba diplomática ou um ato de equilíbrio é vista como uma criação da mídia e de parte da comunidade acadêmica.

Realinhamento dos interesses do Paquistão

O presidente russo, Vladimir Putin, participa de uma reunião com o primeiro-ministro do Paquistão, Imran Khan, em Moscou, Rússia

No Paquistão, o primeiro-ministro Khan enfrentou críticas internas de alguns setores por ter visitado a Rússia no dia da invasão, sentado ao lado de Putin para uma oportunidade de foto antes de uma reunião de cerca de três horas entre os dois líderes.

Os laços do Paquistão com a Rússia aumentaram nos últimos anos, depois de serem hostis durante a Guerra Fria, quando o Paquistão era um importante aliado regional dos EUA no combate às forças russas no Afeganistão.

No topo da agenda deveria estar o gasoduto Pakistan Stream, um gasoduto proposto de 1.100 km (684 milhas) que vai da cidade portuária paquistanesa de Karachi até a província central de Punjab. O projeto foi concebido em 2015, mas enfrentou vários atrasos até que novos acordos fossem elaborados em 2021.

O gasoduto, a ser construído a um custo estimado de US$ 2,5 bilhões, será capaz de transportar 12,4 bilhões de metros cúbicos de gás natural anualmente.

Analistas dizem que, embora o gasoduto provavelmente não aumente as exportações russas de gás, ele pode desviar alguns suprimentos de gás do Oriente Médio para o Paquistão, tornando a Europa mais dependente do gás natural russo.

Paquistão e Rússia também aumentaram os contatos por meio da adesão plena do primeiro à Organização de Cooperação de Xangai (SCO).

Em dezembro, o primeiro-ministro paquistanês Khan também elogiou os comentários do presidente Putin sobre como os insultos ao profeta Maomé devem ser vistos como uma “violação da liberdade religiosa”.

Analistas dizem que a principal conclusão das negociações deve ser a nova importância que a Rússia parece ter assumido simbolicamente na estratégia paquistanesa. Islamabad tradicionalmente foi vista alinhada ao Ocidente na cooperação de segurança.

Quanto à Ucrânia, dados os laços econômicos e outros limitados entre os dois países – o comércio total entre eles em 2020-2021 foi de US$ 350 milhões, segundo dados do banco central paquistanês.

Além de tudo isso, o Paquistão não costuma ser cobrado pelas potências sobre suas posições em casos de conflitos como esse. A Ucrânia, por exemplo, não solicitou qualquer manifestação sobre o assunto.

Com informações da Aljazira

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