Cassação de Arthur do Val é recado à altura do machismo

Deputado ainda perde a elegibilidade por oito anos, após falas sexistas contra mulheres refugiadas ucranianas.

O deputado estadual cassado Arthur do Val (União Brasil-SP)

O plenário da Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo) decidiu pela cassação do mandato de Arthur do Val (União Brasil). Com isso, o político conhecido como Mamãe Falei, fica inelegível por oito anos. A deputada estadual Isa Penna (PCdoB) considerou a cassação por unanimidade um recado à altura do machismo expresso contra as mulheres ucranianas.

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“Mamãe Falei foi punido por suas falas misóginas e dessa vez a Assembleia Legislativa de São Paulo deu um recado à altura. Não esqueça: o machismo pode te fazer perder o mandato! Tchau, querido”, disse Isa, parafraseando a ironia do deputado quando a presidenta Dilma Rousseff sofreu impeachment.

A votação terminou com 73 votos a favor, nenhum contra, e zero abstenções. A aprovação ocorreu em sessão muito curta para os padrões do Poder Legislativo paulista. Do Val renunciou ao mandato em abril, no que foi visto por opositores como uma manobra para tentar evitar a continuidade do processo.

Este é o segundo caso de cassação analisado pelo Conselho de Ética e punido pelo legislativo paulista depois de 23 anos. O primeiro ocorreu em 1999, quando o então deputado Hanna Garib teve seu mandato extinto depois de ser acusado de envolvimento em esquemas de corrupção na administração da cidade de São Paulo.

Isa ainda se manifestou sobre o processo contra o deputado Fernando Cury, absolvido, que cometeu crime de importunação sexual contra ela, sob os holofotes e câmeras do plenário da Casa. Isa afirma que continua lutando pela punição certa ao deputado na justiça.

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“São fáceis, porque elas são pobres. E aqui minha carta do Instagram, cheia de inscritos, funciona demais. Não peguei ninguém, mas eu colei em duas ‘minas’, em dois grupos de ‘mina’. É inacreditável a facilidade. Essas ‘minas’ em São Paulo você dá bom dia e ela ia cuspir na sua cara e aqui são super simpáticas”, diz o áudio.

Mulheres em guerra

Foto: Acnur

Arthur causou escândalo internacional ao fazer declarações repulsivas contra as mulheres ucranianas submetidas às humilhações da guerra. Ao tentar se promover indo ao país para demonstrar solidariedade aos ucranianos, o deputado revelou em áudios que seria fácil se aproveitar sexualmente das mulheres ucranianas naquela situação de refugiadas de guerra.

Após viajar à fronteira da Ucrânia em março para, segundo ele, prestar apoio aos refugiados que saem do país por conta da invasão e ataques da Rússia, Arthur do Val disse em áudio que as mulheres ucranianas “são fáceis porque são pobres”. Outros 21 parlamentares entraram com pedidos de cassação do mandato do colega.

Ele reconheceu as frases como “repulsivas” e “grotescas”, mas a defesa alega que o parlamentar enviou os áudios a grupos privados e que estava licenciado do cargo em outro país. Mulheres ucranianas da comunidade paulista compareceram às sessões do Conselho de Ética e causaram desconforto em eventuais deputados que pretendiam proteger Arthur do Val.

O pedido de cassação foi defendido em relatório enviado na semana passada pelo deputado estadual Delegado Olim (PP-SP) ao Conselho de Ética da Alesp. O parecer ressalta que Do Val é “reincidente em faltas disciplinares”.

Arthur do Val chegou a pedir judicialmente ao Conselho de Ética, no dia 5, que fosse realizada uma perícia nos áudios vazados – para identificar se houve edição ou alteração -, mas a solicitação foi negada. Além do próprio parlamentar, a sua ex-namorada Giulia Blagitz prestou depoimento ao conselho e confirmou que os áudios eram de Mamãe Falei.

“Acabei de cruzar a fronteira a pé aqui, da Ucrânia com a Eslováquia. Eu juro, nunca na minha vida vi nada parecido em termos de ‘mina’ bonita. A fila das refugiadas, irmão. Imagina uma fila de sei lá, de 200 metros ou mais, só deusa. Sem noção, inacreditável, é um bagulho fora de série. Se pegar a fila da melhor balada do Brasil, na melhor época do ano, não chega aos pés da fila de refugiados aqui.”

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