Deputados querem acompanhar busca por jornalista e indigenista na Amazônia
A bancada do PT na Câmara apresentou requerimento para a formação de um comissão externa para acompanhar os trabalhos de busca na região
Publicado 10/06/2022 11:31 | Editado 10/06/2022 20:03

Deputados pressionam a Mesa da Câmara dos Deputados para constituir uma comissão externa a fim de acompanhar no Amazonas as buscas pelo jornalista inglês Dom Phillips e do indigenista Bruno Araújo Pereira, ambos desaparecidos no Vale do Javari, região com a maior concentração de isolados do mundo.
A bancada do PT na Casa já apresentou requerimento nesse sentido. “Não se pode desconsiderar que se trata de possível crime de grande repercussão interna e internacional, o que justifica um acompanhamento mais amiúde da Câmara dos Deputados”, argumentou o líder Reginaldo Lopes (MG).
A ex-senador Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) considera importante a formação da comissão externa. “O prefeito de Atalaia do Norte, Denis Paiva, acabou de me informar que a estrutura da prefeitura trabalha em conjunto com as lideranças indígenas nas buscas. Torna-se necessária de maneira urgente a intensificação das ações de apuração dos fatos e de busca imediata”, afirmou.
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O deputado José Ricardo (PT-AM) cobrou a formação da comissão em plenário. “É muito importante uma comissão externa para acompanhar in loco as investigações em relação ao desaparecimento dessas duas pessoas. Também continuamos cobrando que o governo federal e do Amazonas intensifiquem as ações de buscas”, disse.
De acordo com o parlamentar, trata-se de uma área perigosa e de difícil acesso como atestou a Superintendência da PF. “Há muitas denúncias de ameaças a indígenas, indigenistas e à própria Funai. Lideranças da Univaja (União dos Povos Indígenas do Vale do Javari) também cobram a intensificação das buscas, que finalmente começaram a atuar com a ajuda de aeronaves e até de helicópteros da Marinha e Aeronáutica”, explicou o deputado.

Governo Bolsonaro
Em nota, os parlamentares petistas recordam que o desaparecimento tem sido relacionado ao aprofundamento da política anti-indigenista promovida pelo governo de Jair Bolsonaro (PL).
“O atual governo, por meio de diversas iniciativas, afrouxamento de normas, retaliação a servidores de agências ambientais, paralisação dos processos de multas, estrangulamento orçamentário, vem acabando com o arcabouço jurídico que protege os recursos naturais e violando direitos fundamentais dos povos indígenas do Brasil, que nunca foram tão atacados quanto no governo Bolsonaro”, dizem eles.
Destacaram que a Terra Indígena Vale do Javari abriga o maior número de etnias em isolamento voluntário no Brasil: os povos Marubo, Matís, Mayoruna, Kanamari, Kulina e os de recente contato Tyohom Djapá e Korubo.
“Há ainda outros dez subgrupos isolados confirmados e mais quatro em estudo, num território do tamanho de Portugal. A terra é palco, há vários anos, de um conflito entre caçadores ilegais e indígenas, com ataques armados a postos de controle da Funai”, alegam.
Lembraram que a homologação da Terra Indígena, em 2001, resultou na retirada da área, mediante indenização, das pessoas que chegaram à região no começo do século 20, durante o primeiro ciclo da borracha.