Quantas acusações se acumulam contra ex-presidente da Caixa, Pedro Guimarães?

Relatos de mulheres sobre assédio sexual abriram uma caixa de pandora sobre outras irregularidades no banco público.

Pedro guimarães, ex-presidente da Caixa, e Bolsonaro. foto de Isac Nóbrega/PR

O assédio sexual e moral que grassa na administração bolsonarista da Caixa Econômica Federal, conforme denúncias feitas por funcionárias, foi o pavio que detonou uma série de outras acusações contra o economista Pedro Guimarães, que administrava o banco desde o início do governo Bolsonaro, em janeiro de 2019.

Isolado, ele se demitiu da Presidência da Caixa na noite do dia 29. Para o lugar dele, foi nomeada a secretária de Produtividade e Competitividade do Ministério da Economia, Daniella Marques, considerada “braço direito” do ministro Paulo Guedes. Ela já anunciou a troca de 26 executivos do banco.

As intimidades relatadas pelas servidoras acabaram expondo outras suspeições sobre a gestão do banco estatal. Cenas ridículas de funcionários sendo submetidos a constrangimento começaram a povoar as redes sociais, comprovando assédio moral. Há também o caso de obra da residência do executivo, custeada pelo banco público, no valor de R$ 50 mil. Ainda há o caso dos R$ 100 mil reais acrescidos à renda de Guimarães, devido a inclusão inapropriada de seu nome em 18 conselhos de empresas. Antes disso, ele já era acusado de conduzir a instituição com viés político ao pressionar parceiros a apoiar Bolsonaro.

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Assédio sexual

As acusações de assédio sexual vieram a público em 28 de junho, em reportagem do portal Metrópoles. Este é o primeiro caso público de assédio sexual envolvendo um alto funcionário do governo Jair Bolsonaro. No Senado, já há pedido de convocação de Guimarães para explicar as denúncias.

Segundo o jornal O Globo, Pedro Guimarães já havia sido alvo de denúncia de assédio sexual por colega de trabalho em outro banco. O caso teria sido resolvido em sigilo com pagamento de multa pela empresa à denunciante.

Assédio moral

Depois disso, o Metrópoles começou a divulgar áudios em que Pedro elevava a voz com frequência e recorria a um vocabulário grosseiro contra os subordinados. Com isso, veio à tona a cultura de assédio moral que se proliferou na gestão do banco. Entidades representativas da categoria bancária já vinha protestando contra esta cultura de pressão sobre os funcionários para cumprir metas, neste banco, como em outros.

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Conforme pesquisa da Fenae (Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa Econômica Federal), 60% dos trabalhadores do banco afirmam já ter sofrido assédio moral no ambiente de trabalho. O levantamento foi feito no final de 2021 e ouviu 3.034 bancários da Caixa.

Já o Sindicato dos Bancários de São Paulo denunciou “a violência organizacional” na Caixa, “da qual o assédio sexual é apenas um dos sintomas”.

Circula pela internet alguns vídeos que mostram empregados do banco público imitando a cena do presidente Bolsonaro fazendo flexões em uma de suas viagens, com Guimarães fazendo a contagem dos movimentos. O ato pode ser investigado pelo Ministério Público por danos morais. A cena foi filmada durante o evento “Nação Caixa 2021”, em Atibaia (SP)

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Jeton de conselhos

Guimarães recebia R$ 56 mil de salário, além de R$ 130 mil de jetons por participação em conselhos. O Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União apresentou à Corte de contas uma representação para apurar a participação de Guimarães no acúmulo de 21 cargos em conselhos de administração ligados à estatal em 2021.

Ele chegou a integrar 18 conselhos, que lhe renderam mais de R$ 130 mil mensais em jetons (uma espécie de gratificação pelo trabalho extra). O valor era acrescentado ao salário de R$ 56 mil que Guimarães recebia como presidente da Caixa.

Segundo o subprocurador-geral Lucas Furtado, a Lei das Estatais, já vigente à época que o ex-presidente da Caixa foi nomeado, veda a “participação remunerada de membros da administração pública, direta ou indireta, em mais de dois conselhos, de administração ou fiscal, de empresa pública, de sociedade de economia mista ou de suas subsidiárias”.

Reforma residencial

A Caixa Econômica Federal custeou obras na mansão em que Guimarães mora em Brasília (DF). As intervenções foram feitas em julho de 2020 por quatro funcionários de uma empresa que mantém contratos com o banco público para realização de serviços de manutenção em seus prédios e agências.

Segundo relato de servidores da Caixa, o custo foi de aproximadamente R$ 50 mil. O advogado dele, o criminalista José Luís Oliveira Lima, confirmou a realização das melhorias e disse que elas foram autorizadas pelo setor de segurança após supostas ameaçadas recebidas pelo ex-presidente do banco.

A casa foi alugada por Guimarães depois de o executivo deixar um apartamento mantido pelo banco em um hotel de luxo em Brasília. A residência fica na beira do Lago Paranoá, na região mais valorizada da cidade, e tem um campo de futebol. O jardim cuja iluminação foi paga pela Caixa se estende até as margens do lago.

Pressão política

As direções da Caixa e do Banco do Brasil ameaçaram romper com a Febraban, em 2021, em virtude do apoio da entidade a um manifesto em defesa da democracia e suas instituições. Enquanto o presidente da República ameaçava o Supremo Tribunal Federal (STF), o manifesto sequer citava o nome de Bolsonaro. A Federação acabou se retirando do movimento coordenado pela Fiesp e os dois bancos públicos permaneceram associados à Febraban. 

Por meio de representação ao Tribunal de Contas da União, o subprocurador-geral do Ministério Público junto ao TCU, Lucas Furtado, solicitou a referida investigação e o afastamento cautelar [durante as apurações] de Guimarães, e do presidente do BB, Fausto Ribeiro.

Na representação ao TCU, Furtado pede também que o Tribunal investigue supostas ameaças a bancos privados, de perderem negócios com o governo, caso endossassem o manifesto. Furtado ressalta “receio de ocorrer grave lesão ao interesse público”.

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Ele afirma: “Entendo que a questão ora em consideração encerra as condições necessárias e suficientes para que, com base no que dispõe o artigo 276, caput, do Regimento Interno do TCU, seja adotada medida cautelar determinando o afastamento tanto do presidente da Caixa Econômica Federal, Sr. Pedro Guimarães, como o do Banco do Brasil, Sr. Fausto de Andrade Ribeiro, uma vez que demonstraram que o motor das decisões tomadas na condução das instituições que dirigem possui forte viés político, em afronta ao esperado zelo pelo interesse público e não do governo de plantão”.

Para a coordenadora da Comissão Executiva dos Empregados (CEE) da Caixa, Fabiana Uehara, o caso reforça o que se tem denunciado sobre uso político do banco. “Pedro Guimarães criou o ‘CaixaTur’ [área administrativa] para viajar pelo país dizendo que está estimulando negócios quando, na verdade, está em plena campanha eleitoral antecipada, o que é errado”, observa. “A cada viagem, faz declarações favoráveis ao atual governo e depreciativas dos governos anteriores”, completa Uehara.

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