Apuração de assédio sexual e moral na Caixa Econômica ainda sem conclusão
Acusado por funcionárias, o ex-presidente do banco Pedro Guimarães foi demitido no dia 29 de junho, mas até o momento não houve punição
Publicado 19/08/2022 17:04 | Editado 19/08/2022 17:37
A representante dos empregados da Caixa Econômica Federal (CEF), Rita Serrano, cobrou a conclusão da apuração dos casos de assédios sexual e moral envolvendo o ex-presidente do banco Pedro Guimarães, que era próximo a Bolsonaro. Acusado por funcionárias pelos crimes de assédio, o executivo foi demitido no dia 29 de junho, mas até o momento não houve punição.
A representante dos trabalhadores participou nesta quinta-feira (18) de audiência pública na Comissão do Trabalho da Câmara dos Deputados. Algumas vítimas também se posicionaram sobre a demora na conclusão dos casos.
“Foi com vergonha que expliquei para os meus colegas de trabalho daqui que me perguntam se já houve alguma punição, algum desdobramento das denúncias, que no Brasil as coisas andam mais devagar. E que a palavra de dezenas de mulheres ainda vai ser julgada”, relatou uma das vítimas de assédio responsável pela denúncia, a funcionária do banco, Carolina Lacerda Tostes, que hoje está no Canadá.
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“O meu caso foi menos grave. Os relatos vão desde chefes que beijavam a nuca das empregadas no ambiente de trabalho, até chefes que pediam as empregadas em trabalho remoto se levantasse para verem se elas estavam de biquíni”, lembrou Tostes.
De acordo com Rita Serrano, a situação na instituição pode ser considerada um “assédio institucionalizado”. Ela explicou que a empresa passou, nos últimos três anos, por um processo de rotatividade nos cargos de direção, bem como de demissão de diversos funcionários que atuavam em posições estratégicas do banco, sem justificativa, como forma de retaliação.
“Até que se chegasse a um momento em que o presidente da empresa se sentisse à vontade para cometer casos de assédio sexual, com o aumento drástico do assédio moral e da pressão sobre os trabalhadores”, criticou.
Outro a falar sobre o ambiente tóxico de trabalho na estatal, o presidente da Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa (Fenae), Sérgio Takemoto, reiterou que o assédio virou um “modelo de gestão” na empresa.
Ele citou levantamento da Fenae que entrevistou mais de 3 mil empregados do banco em 2021, pelo qual 60% deles afirmaram haver sofrido assédio moral; e mais de 90% já ter sofrido algum tipo de pressão no trabalho.
Sem punição
A deputada Erika Kokay (PT-DF), que solicitou a audiência, observou que não houve a responsabilização, na própria Caixa, das pessoas denunciadas por esses crimes. “Várias pessoas na Caixa foram destituídas de suas funções, mas assumiram outras funções, às vezes com remunerações maiores”, afirmou.
Ela reforçou que as administrações que se omitem a punir essas práticas se tornam responsáveis por elas.
Kokay também relatou a existência de esquema de acobertamento de crimes na instituição. “O crime pressupõe a existência de redes: uma pessoa que diretamente agride, o assediador, mas existe uma rede que se constrói em apoio a essa pessoa”, explicou.
Nessa mesma linha, a ex-presidente do banco Maria Fernanda Ramos Coelho frisou que o discurso da meritocracia dentro da Caixa “nada mais serve do que para mascarar as desigualdades”.
“O que nós vimos nos últimos três anos foram retiradas de funções sem justificativa. Não porque a pessoa tinha tido mal resultado, ou não atingido as metas, mas para mostrar que precisava se subordinar à chefia”, ressaltou.
Com informações da Agência Câmara