Após acusações de espionagem, China diz que os EUA são “a maior ameaça”
O Ministério das Relações Exteriores da China acusou os EUA de serem “a maior ameaça à paz, estabilidade e desenvolvimento mundial” após acusações de espionagem pelos serviços de inteligência dos EUA e britânicos
Publicado 07/07/2022 19:15 | Editado 08/07/2022 11:16

O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Zhao Lijian, acusou os Estados Unidos, nesta quinta-feira, de serem “a maior ameaça à paz, estabilidade e desenvolvimento mundial”, em resposta às acusações dos chefes dos serviços de segurança em Washington e Londres de que a espionagem chinesa é uma ameaça global e a China está ameaçando a ordem internacional.
Os comentários vieram um dia depois que o chefe do FBI e o líder da agência de inteligência doméstica da Grã-Bretanha, MI5, levantaram novos alarmes sobre o governo chinês, alertando líderes empresariais que Pequim está determinado a roubar sua tecnologia para obter ganhos competitivos. Também ocorrem alguns dias depois das cúpulas de G7, G20 e da Otan (a aliança militar de países europeus), que também qualificou a China como um “desafio sistêmico”.
A troca de acusações ocorre antes de uma reunião no sábado entre o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, e o ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, na cúpula de ministros do G20 em Bali, Indonésia.
“O relevante político dos EUA tem usado a chamada ameaça da China para difamar e atacar a China”, disse Zhao a repórteres em um briefing diário quando questionado sobre os comentários do diretor do FBI, Christopher Wray, denunciando espionagem econômica e operações de hackers pela China.
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“Os fatos provaram plenamente que os EUA são a maior ameaça à paz mundial, estabilidade e desenvolvimento”, disse Zhao.
“Pedimos a este funcionário dos EUA que tenha a perspectiva correta, veja os desenvolvimentos da China de maneira objetiva e razoável e pare de espalhar mentiras e pare de fazer comentários irresponsáveis”, disse ele.
Decisão da Otan contra a China
Ao reunir 30 países em Madrid para definir seu “novo conceito estratégico”, a Otan também demonstrou que vem ampliando uma aliança militar com objetivo de contenção não apenas da Rússia, quanto da China. O “novo conceito estratégico” declarou a Rússia como principal ameaça à segurança das nações da Aliança, depois de considerá-la parceira desde 2010, enquanto a China também foi classificada como “desafio sistêmico”.
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Se o problema fosse apenas regional e defensivo, como quer fazer parecer a política ocidental, não haveria motivos concretos para ameaçar a China. Vai se reafirmando que a China sempre foi o objetivo principal de toda a estratégia política e militar na Ucrânia. Embora o gigante asiático tenha parcerias estratégicas com a Rússia, outros países também evitam sancionar ou criticar Putin, como Turquia, Índia e países da África. A China respondeu que a aliança deve acabar imediatamente com divulgação de declarações falsas e provocativas contra a China.
As tensões entre EUA, Europa e China sempre foram alimentadas gradualmente, com ocupação dos mares da China e da Coreia por bases militares americanas. As disputas comerciais são velhas conhecidas, como os ataques dos EUA ao avançado 5G da China, ou a preocupação com investimentos trilionários em infraestrutura da Nova Rota da Seda.
Os EUA perderam o trem da nova e importante tecnologia 5G e tenta acusar as empresas chinesas e seus executivos de corrupção e espionagem. Da mesma forma, o tratamento predatório dos investimentos americanos no exterior, perdem espaço para os negócios colaborativos com a China. Nas últimas semanas, com o acirramento do conflito no báltico, a gradação de ataques à China tem se acelerado.
‘Pressão secreta em todo o mundo’
O discurso de Wray foi particularmente notável porque ocorreu na sede do MI5 em Londres e ao lado do diretor-geral da agência britânica, Ken McCallum, em uma demonstração de solidariedade ocidental.
“Vemos consistentemente que é o governo chinês que representa a maior ameaça de longo prazo à nossa segurança econômica e nacional, e por ‘nosso’ quero dizer nossas duas nações, juntamente com nossos aliados na Europa e em outros lugares”, disse Wray aos participantes.
McCallum, do MI5, disse que o governo chinês e sua “pressão secreta em todo o mundo” representam “o desafio mais revolucionário que enfrentamos”.
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Em sua resposta, Zhao disse que a inteligência britânica estava “simplesmente projetando seu próprio comportamento desonroso na China”.
“O chefe do serviço de inteligência britânico deve jogar fora [seu] mal em mente, sair da sala escura e ver a luz do sol, e nem sempre se apegar ao pensamento de soma zero ou criar os chamados inimigos imaginários”, ele disse.
Zhao criticou na quarta-feira os comentários de Blinken na cúpula da Otan da semana passada na Espanha, na qual o secretário de Estado dos EUA acusou a China de “procurar minar a ordem internacional baseada em regras”.
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Sob o presidente Xi Jinping, chefe do Partido Comunista, a China assumiu uma política externa cada vez mais agressiva, juntando-se à Rússia na tentativa de minar a influência dos EUA e seus aliados.
Pequim se recusou a condenar a invasão da Ucrânia pela Rússia – que deve dominar a reunião dos ministros das Relações Exteriores do G20 – enquanto condena as sanções ocidentais contra Moscou e acusa Washington e a Otan de provocar o conflito.
Com informações de agências de notícias internacionais