Inflação não cai para os mais pobres
Preços dos alimentos, com maior peso no orçamento das famílias de mais baixa renda, continuam em alta.
Publicado 19/07/2022 16:22
Os primeiros índices divulgados da inflação de julho mostram uma ligeira trégua da alta de preços, tendência que deve se manter no mês que vem, porque começam a chegar aos consumidores os efeitos das desonerações da conta de luz e do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) dos combustíveis. Mas o que pode ser um alívio para alguns consumidores não chegará a atenuar a carestia da população de mais baixa renda. Para os mais pobres, o que mais pesa no orçamento doméstico são os alimentos, único grupo que permanece encarecendo.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (IBRE-FGV), o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) apresentou uma variação de 0,42% em julho, menor do que em junho, quando registrou taxa de 0,72%. Sete das oito classes de despesa componentes do índice registraram decréscimo em suas taxas de variação. Já o grupo alimentação passou de 0,42% para 1,48% ao consumidor de um mês para o outro. Nesta classe de despesa, a maior influência partiu do item laticínios, cuja taxa saltou de 3,94% para 8,81% de junho para julho.
A elevação dos preços dos laticínios é reflexo do encarecimento do leite ao produtor, que sofreu ainda com o aumento do diesel. O Índice Geral de Preços – 10 (IGP-10) variou 0,60% em julho. No mês anterior, o índice havia registrado variação de 0,74%. Com esse resultado, o índice acumula alta de 9,18% no ano e de 10,87% em 12 meses. Em julho de 2021, o índice subira 0,18% no mês e acumulava elevação de 34,61% em 12 meses.
“A inflação ao produtor avançou sob influência dos preços dos alimentos e dos combustíveis. Entre os alimentos, o leite industrializado foi o destaque registrando alta de 16,30%. Já entre os combustíveis, o destaque foi do Diesel com alta de 10,91%. A aceleração do IPA não foi mais intensa dada a queda dos preços de commodities importantes. Minério de ferro (de -2,86% para -5,93%), milho (de -0,31 para -3,31%) e algodão (de 6,32% para -9,15%) registraram recuos em suas cotações diante do risco de recessão global. Já no IPC, gasolina (-1,49%) e energia (-1,45%) refletem parcialmente a redução do ICMS em seus números, o que favoreceu a desaceleração observada na taxa de variação do IPC”, afirma André Braz, Coordenador dos Índices de Preços.
Vale-Refeição
A carestia dos alimentos tem refletido, inclusive, no vale-refeição do trabalhador. Segundo pesquisa da Sodexo Benefícios e Incentivos, desde a chegada da pandemia, em 2020, até junho deste ano, a duração média do vale-refeição tem sido de apenas 13 dias dos 22 dias úteis do mês Em 2019, era de 18 dias. O levantamento levou em conta o valor médio de R$ 40,64, da Associação Brasileira das Empresas de Benefícios ao Trabalhador (ABBT), dentro da base de clientes da empresa.
Alta abusiva
Mesmo tendo apresentado retração, o preço da gasolina poderia estar significativamente mais baixo, caso o governo não tivesse optado por uma desoneração via ICMS em vez de alterar a atual política de preços da Petrobras. “A anunciada redução do preço da gasolina, pela primeira vez no ano, acontece depois de a gestão Bolsonaro ter promovido uma alta acumulada abusiva de 169,1% no preço do combustível, na refinaria, ao longo de seu governo. É inadmissível que o Brasil, autossuficiente em petróleo, tenha que se submeter à equivocada política de preço de paridade de importação (PPI), que reajusta os combustíveis com base na cotação internacional do petróleo, variação do câmbio e custos de importação. A marca do PPI está na escalada da inflação que corrói o poder de compra do povo brasileiro”, apontou o coordenador-geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Deyvid Bacelar.