Operação no Complexo do Alemão recebe críticas nas redes
Duas vítimas e o policial morto durante a ação foram enterrados neste sábado (23).
Publicado 23/07/2022 18:23 | Editado 24/07/2022 09:40
“Um policial totalmente despreparado atirou na minha mãe. É isso que o governador tem pra gente? Entrar e matar? Toda vez ele só vai mandar matar? A polícia do Rio de Janeiro está aprendendo o quê? A matar um trabalhador?”, questionou Jéssica Salles, 33, filha de Letícia Marinho Salles, 50, uma das vítimas da operação policial no Complexo do Alemão, na Zona Norte do Rio de Janeiro, e que, com quase 20 mortos, já é uma das mais letais da história do Rio de Janeiro.
Em comentário nas suas redes sociais, a deputada federal Jandira Feghali (PCdoB) afirmou que “cada um dá o que tem”. “A política de segurança é claramente equivocada. Não combate ao crime, não leva segurança à população e ainda deixa um rastro de perdas e dor. Isso tem que acabar”, lamentou. Entidades de defesa dos direitos humanos também se manifestaram contra a violência no Complexo do Alemão. “Chacina não pode ser política de segurança pública! As três operações policiais mais letais da história do Rio de Janeiro ocorreram durante o governo Cláudio Castro”, denunciou a Anistia Brasil. As duas operações mais violentas ocorreram no Jacarezinho, com 28 mortos, e na Vila Cruzeiro, com 25.
O corpo de Letícia foi enterrado neste sábado (23), no cemitério São Francisco Xavier, no Caju. Moradora do Recreio dos Bandeirantes, na Zona Oeste, Leticia visitava a comunidade toda semana para ajudar uma amiga que é pastora. Na quinta-feira, ela estava voltando para casa depois de ajudar a organizar uma festa e foi baleada no peito, dentro do carro. À tarde, foi enterrado, no cemitério de Inhaúma, o corpo da comerciante Solange Mendes da Silva, de 49 anos, morta com um tiro na cabeça no momento do ataque à UPP.
Familiares do cabo da Polícia Militar, Bruno de Paula Costa, 38, que foi baleado no pescoço durante um ataque à Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) Nova Brasília, no Complexo do Alemão, também pediram justiça e explicações pela morte dele. “Quem é o culpado pela morte do meu irmão? Dele próprio? Meu irmão é um homem, pai e filho exemplar, morreu em combate. Ele morreu porque não temos investimento em políticas públicas. Com quem eu vou falar agora? Quem matou meu irmão?”, questionou Valdir Costa, irmão do policial. O corpo de Bruno foi enterrado pela manhã no cemitério Jardim da Saudade, em Sulacap, na Zona Oeste.
Ministério Público
A Anistia Brasil exigiu também providências do Ministério Público, por meio de outra postagem: “A Anistia Brasil cobra, mais uma vez, que o Ministério Público cumpra com seu dever constitucional de exercer um controle externo e participativo das políticas, para que a brutalidade não se torne uma constante na política de segurança pública”! A Human Rights Watch também manifestou que o Ministério Público deveria conduzir uma investigação minuciosa e independente sobre os fatos: “Lamentamos profundamente que o Rio novamente tenha assistido a uma operação policial com grande número de mortes, desta vez no Complexo do Alemão”.
“Ao permanecerem em silêncio, instituições do Sistema Judiciário estão assumindo um lado, já que a Constituição Federal de 1988 afirmou que elas têm o dever de agir. A omissão do Poder Público é ação, ação de morte”, denunciou a Justiça Global. A organização acusou o MP de não cumprimento do seu papel constitucional de controle externo das polícias e chamou de “operação vingança” a ação do Estado após a morte do policial. “Os inúmeros abusos cometidos pelas polícias parecem passar despercebidos pelo MPRJ. A omissão das instituições cria um clima de permissividade e suspensão de direitos nas favelas fluminenses”, descreveu.
Com informações dos portais UOL, iG e Extra