Senadores votarão este mês projeto que prevê derrubada do rol taxativo

A matéria, que obriga os planos de saúde a cobrirem tratamentos não previstos na lista oficial da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), será votada dia 29

Manifestação contra o rol taxativo realizada em abril, em Brasília (Foto: Andréa Werner/Lagarta Vira Pupa)

Ao contrário da expectativa da liderança do governo Bolsonaro no Senado, os parlamentares se preparam para votar no dia 29 deste mês o projeto que obriga os planos de saúde a cobrirem tratamentos não previstos na lista oficial da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), o chamado rol taxativo.

A votação foi confirmada pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), quem convocou para o dia 23 uma sessão de debates antes da votação em plenário. Na segunda-feira (8), Pacheco deixou claro que a tendência é a Casa carimbar a decisão da Câmara que pôs abaixo a decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) que, em junho, validou o rol taxativo.

“Há uma tendência que sim [seja aprovado], em relação ao projeto do rol taxativo. […] É importante, que indo direto ao plenário haja ao menos uma sessão de debates para poder ouvir a sociedade e os segmentos do entorno desse projeto”, afirmou Pacheco.

“Atualmente, segundo dados da própria ANS, 49 milhões de brasileiros e brasileiras dependem de planos de saúde para tratamentos contínuos ou não. Famílias não podem e não devem ter que esperar a aprovação de procedimentos pelos planos. É uma questão de vida e de saúde”, afirmou o senador Jaques Wagner (PT-BA).

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Integrante do Coletivo de Mobilização Nacional contra o rol taxativo e a favor do rol exemplificativo, Andréa Werner diz que todos os senadores estão sendo contatados para apoiarem a aprovação do projeto sem mudança. “Vamos fazer questão de divulgar pra que a população saiba quem está do nosso lado e quem sucumbiu ao lobby”, disse.

Parlamentares comemoram a derrubada do rol taxativo (Foto: Elaine Menke/Câmara do Deputados)

Carta aos senadores

No documento “Carta aberta aos Senadores e à Sociedade Brasileira”, o coletivo ressaltou que o texto do projeto permite tratamentos com eficácia comprovada, recomendados por órgãos de avaliação de tecnologia nacional ou internacional sejam cobertos.

“O texto do PL, de forma inovadora, concilia, a um só tempo, dois fundamentos essenciais para a boa relação das operadoras com os usuários, quais sejam, não onerar excessivamente o consumidor e manter esse mercado sustentável”, sustentou o coletivo.

Além disso, o coletivo diz que recebeu com indignação a posição da ANS que prevê risco à sustentabilidade do mercado e requer emendas à sua redação.

“Nesse posicionamento, lamentavelmente a ANS abandonou a posição de autarquia de Estado, com atribuição estritamente regulatória e atuação obrigatoriamente isenta, para se posicionar de maneira parcial em favor das operadoras de planos de saúde, extrapolando seu poder normativo e regulamentar, pois as próprias regras editadas pela Agência não podem restringir a cobertura determinada em lei”, diz um trecho do documento.

O movimento alegou ainda a construção jurisprudencial em torno do rol exemplificativo tem mais de uma década, tendo vigorado de forma pacífica e consolidada na maioria dos tribunais brasileiros.

“Nesse mesmo período, segundo dados do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada- NT 97/21), o faturamento saltou de R$123,8 bilhões para R$192,1 bilhões, e o lucro líquido per capita no mercado de planos de saúde mais que dobrou. Ou seja, os argumentos de riscos para a sustentabilidade decorrentes da judicialização na saúde suplementar não encontram respaldo na evidência empírica disponível, seja da reguladora, seja dos institutos de pesquisa idôneos”, diz a carta.

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