Após seis meses, EUA põem mais lenha na Ucrânia com ajuda de US$ 3 bi
Casa Branca defende ajuda de “longo prazo” a Ucrânia, enquanto o inverno duro que se anuncia testa a resiliência do apoio europeu ao conflito. Países da África, Ásia e América Latina já perceberam o jogo americano e mantém distância do alinhamento ocidental.
Publicado 24/08/2022 18:40 | Editado 24/08/2022 19:04
Já se passaram seis meses desde que o conflito militar Rússia-Ucrânia explodiu em fevereiro, e a crise se transformou em batalhas difíceis sem um final claro à vista. Enquanto a Rússia afirmou que retardou deliberadamente seu avanço militar “para reduzir as baixas civis”, os EUA e a OTAN continuam a jogar gasolina nas chamas da destruição ucraniana. O governo Biden anunciou quase US$ 3 bilhões em ajuda militar a Kiev na quarta-feira, em pleno Dia da Independência da Ucrânia.
O ministro da Defesa russo, Sergey Shoigu, declarou nesta quarta-feira (24) que as tropas russas estão fazendo esforços para restaurar a paz nas áreas controladas pela Rússia. Ao mesmo tempo, a Casa Branca anuncia novas ajudas militares em sistemas de “defesa aérea”, artilharia e munições, sistemas aéreos não tripulados e radares para garantir que possa continuar a se defender “a longo prazo.”
Mas não é só a Ucrânia que mudou para sempre. Após seis meses, a crise mudou profundamente a ordem mundial, tanto em termos de cadeias de suprimentos globais, relações internacionais e também segurança alimentar e energética para muitos países ao redor do globo.
Analistas internacionais avaliam que a crise dá origem a uma nova ordem mundial cada vez mais multipolarizada em vez de unipolarizada, e a hegemonia dos EUA vai enfraquecendo junto com isso.
Muito poucos países não ocidentais mostraram interesse em se juntar à condenação e sanções lançadas pelo Ocidente contra a Rússia. O Ocidente também está se tornando mais dividido, não apenas na execução de sanções anti-Rússia, mas também no apoio à Ucrânia com armas e dinheiro, observando que, como a Rússia e a Ucrânia são mais fortes do que o esperado, o conflito também levará mais tempo do que o esperado, o que continuará a ter consequências difíceis para todo o mundo.
Com tudo isso, o complexo industrial militar dos EUA continua se beneficiando do conflito, enquanto a Europa foi arrastada por grandes problemas econômicos e sociais. O conflito prolongado acabará por impulsionar uma dolarização reversa, já que as sanções dos EUA são baseadas em dólares. Muitos países da África, Ásia e América Latina perceberam o que os EUA buscam no conflito e mostram relutância em seguir cegamente.
O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, disse em entrevista à mídia na terça-feira que era necessário continuar prestando assistência à Ucrânia, mas admitiu que seria difícil e que a Europa pagaria um preço por seu apoio a Kiev.
A CNN também publicou um artigo na segunda-feira dizendo que “um inverno rigoroso testará o apoio da Europa à Ucrânia como nunca antes”. Autoridades de toda a Europa estão preocupadas que o consenso possa desmoronar à medida que o continente entra em um inverno sombrio de aumento dos preços dos alimentos, energia limitada para aquecer as casas e a possibilidade real de uma recessão.
Outros analistas observam que, se a Rússia perde em diferentes aspectos, a indústria de armas e os EUA são os vencedores absolutos, após arruinarem com sucesso a paz e a estabilidade na Europa, e minar a zona do euro novamente, empurrando a expansão da OTAN e exaltando o sentimento anti-Rússia na Ucrânia.
Washington conseguiu até que seus aliados europeus, vítimas da estratégia de soma zero dos EUA, sancionem a Rússia com enormes custos e gastem enormes quantidade de dinheiro para comprar armas dos EUA.
Analistas chineses, no entanto, avaliam que esses são benefícios de curto prazo para os EUA , conforme o mundo descobre a fraqueza de um sistema tão hegemônico e o risco de ficar muito próximo dos EUA em momentos de crise. As revoluções coloridas do século XXI, estimuladas pelos americanos e suas redes sociais foram uma lição bastante traumática para muitos países orientais.
O conflito infligiu uma enorme pressão à economia mundial. A Europa foi a vítima mais afetada com crises de escassez emergentes nos setores de alimentos e energia. Mesmo que a Europa esteja se esforçando para reduzir a dependência da energia russa, isso não pode ser feito em pouco tempo.
Os preços do gás natural na Europa dispararam nesta segunda-feira, depois que a gigante estatal russa de energia Gazprom disse que fecharia a maior infraestrutura de gás da Europa por três dias a partir do final do mês.
Na governança global, as ideias conservadoras que enfatizam a segurança e a geopolítica estão ganhando terreno, substituindo a ideia de cooperação mútua que vigorou nas últimas décadas. Quando o país se concentra em como mobilizar recursos para desenvolver o poder militar e resolver dilemas de segurança, como é possível resolver problemas como mudanças climáticas, controle da poluição e redução da pobreza global que exigem esforços conjuntos de países de todo o mundo. Se a pandemia de covid-19 eclodisse em 2022, seria muito difícil unir o mundo em seu combate.
O mundo testemunhou as implacáveis sanções ocidentais não apenas contra o governo da Rússia, mas também contra indivíduos e até animais e culturas russos. Assim, o sistema de regulação ocidental pode ser considerado colapsado, desde então, e muito antes, quando os EUA driblaram o Conselho de Segurança da ONU para invadir o Iraque e bombardearam países como Líbia e Síria para espalhar o caos em nome da “democracia e dos direitos humanos”. O futuro pode trazer outras potências, além da Rússia, dispostas a se recusar a aceitar a hegemonia ocidental.
Editado a partir de texto de Yang Sheng e Deng Xiaoci no Global Times