Derrotas estaduais podem levar PSDB a um encolhimento sem precedentes 

Redução da capacidade de liderança dos tucanos no estado, se reflete em todo o país, com efeitos negativos para próximas eleições

Crise do PSDB se expressa na rejeição a João Dória e Rodrigo Garcia em São Paulo. Gestão mal avaliada de Doria é obstáculo para a candidatura de Rodrigo Garcia - Governo de São Paulo

Pela primeira vez em muitos anos, a esquerda tem chances reais de governar o estado de São Paulo. Fernando Haddad (PT) tem 41% e, em segundo lugar, está Tarcísio de Freitas (Republicanos), com 31%. Isto significa que o tucanato pode estar fora da disputa, depois de quase 27 anos de hegemonia paulista.

A própria cúpula do partido receia seu papel coadjuvante do MDB no campo centrista, conforme entrevistas à Folha de S. Paulo. Com isso, o PSDB pode ter dificuldades para se impor como cabeça de chapa nas próximas eleições, depois de já ter governado duas vezes o país. Um cenário sem precedentes para um partido que dominou a política nacional e estadual durante décadas.

O partido vem minguando em todo o país desde 2014, quando Aécio Neves (PSDB) perdeu a disputa presidencial para Dilma Rousseff (PT) no segundo turno das eleições. O fato de Aécio ter colocado em xeque o sistema eleitoral na época, gerou uma briga interna entre caciques que abalou definições eleitorais e a unidade partidária. 

O partido considerado de centro direita deu as mãos à extrema direita no combate ao petismo, ignorando que a instabilidade política dirigiria o eleitorado em direção ao bolsonarismo. Agora, as disputas que eram polarizadas entre petismo e tucanato, estão chocando candidatos de esquerda com bolsonaristas, em todo o país.

Desatualizado

Enquanto o PSDB tem dificuldades para definir lideranças de peso com capacidade de renovar o partido, o MDB sai da eleição com a senadora Simone Tebet fortalecida da disputa presidencial. O PSDB está muito marcado por políticos ainda do período da ditadura, tendo rejeitado internamente novidades como João Dória. O próprio Geraldo Alckmin, que governou o estado, está ao lado de Lula, após se filiar ao PSB.

O eleitorado procura figuras populares e carismáticas, enquanto PSDB só oferece burocratas fiscalistas. A falta de renovação das bandeiras defendidas pelo partido também impediram uma aproximação maior com o eleitorado. A bandeira mais hasteada pelo partido é o do controle da inflação e da defesa do livre mercado, sem incorporar políticas sociais ou pautas modernas.

Datafolha divulgado nesta quinta-feira (29) traz Rodrigo em terceiro lugar nas intenções de voto, com 22% dos votos válidos, estagnado. 

A estratégia dos adversários unificou Haddad e Freitas em torno do isolamento de Rodrigo em terceiro lugar. Tarcísio foi para cima de Rodrigo para garantir o segundo turno, enquanto Haddad prefere disputar com o republicano, por ter mais chance de um debate polarizado, colocando o eleitor tucano contra o bolsonarismo. Garcia por sua vez, seria capaz de agregar parcelas do bolsonarismo, podendo ultrapassar o petista no segundo turno.

Outros estados

Em nove disputas ao governo de Minas Gerais, o PSDB mineiro enfrenta sua pior campanha no Estado. Em 32 anos, essa é a primeira vez que um candidato do partido não fica entre os três primeiros colocados na disputa ao governo do estado. O ex-governador Aécio Neves foi o pivô da crise que culminou neste cenário.

Neste ano, a dois dias das eleições, o ex-deputado federal, Marcus Pestana (PSDB) aparece distante dos dois primeiros colocados nas pesquisas. Empatado, dentro da margem de erro, com Vanessa Portugal (PSTU), o tucano tem 1,3% das intenções de voto, segundo a última pesquisa Datatempo, divulgada nesta sexta-feira (30). As oscilações desde o início da campanha foram para baixo.

A frente das gestões mineiras por 12 anos consecutivos, o PSDB perdeu o trem da estratégia eleitoral, ao demorar para definir sua candidatura, após conflitos envolvendo o Cidadania e o Novo. A polarização presidencial e o desconhecimento do eleitorado sobre o deputado federal Pestana contribuíram para o cenário de apatia.

O presidente do PSDB em Minas Gerais, o deputado federal Paulo Abi-Ackel, candidato à reeleição, acredita que o partido voltará a governar o Estado nos próximos anos. Os tucanos mineiros torcem para que seja um momento político atípico que afeta todos os partidos.

O Rio Grande do Sul, com Rodrigo Leite, é o estado em que a legenda tem mais chances de ganhar no segundo turno. Leite (PSDB) tem 38% contra 25% de Onyx Lorenzoni (PL) e Edegar Pretto (PT) com 15%.

Na Paraíba, o socialista João Azevêdo tem 35%, seguido por Pedro Cunha Lima (PSDB), com 20%. Azevêdo venceria todos os demais candidatos num segundo turno.

Em Pernambuco, o PSDB de Raquel Lyra está em segundo com 15% contra Marília Arraes (Solidariedade), com 34%. Os demais candidatos se aproximam da tucana, mas Marília venceria todos.

Sem tucanos

No Amazonas, Wilson Lima (União) lidera com 34% contra Amazonino Mendes (Cidadania) com 26% e Eduardo Braga (MDB) com 17%. Amazonino venceria no segundo turno.

Em Rondônia, Coronel Marcos Rocha (União) e Marcos Rogério (PL) tem 38% e 27%, respectivamente. Rocha venceria por 47% a 37%.

No Rio de Janeiro, o bolsonarista Cláudio Castro (PL), líder nas pesquisas com 38%, tenta encerrar a disputa já no primeiro turno, enquanto o candidato de Lula no estado, o deputado federal Marcelo Freixo (PSB), busca arrastar a eleição até o dia 30 de outubro com seus 25%. Castro venceria por 44% a 34%.

Na Bahia, a disputa é entre o prefeito de Salvador, ACM Neto (União Brasil), que lidera com 47%, e o petista Jerônimo Rodrigues, com 32%, que vem conseguindo reduzir drasticamente a distância do primeiro colocado. Estreante e ancorado na popularidade de Lula, Jerônimo sonha em manter localmente a hegemonia do PT — já são 16 anos no poder. No segundo turno, ACM venceria as simulações.

No Ceará de Ciro Gomes (PDT), o petista Elmano de Freitas e o bolsonarista Capitão Wagner (União Brasil) estão empatados em 30%. Já o candidato de Ciro, Roberto Cláudio (PDT), segue em terceiro, praticamente sem chances. O petista vence no segundo turno.

Em Alagoas, o MDB de Paulo Dantas lidera com 30% contra 20% de Rodrigo Cunha (União) e Fernando Collor (PTB). Dantas vence simulações de segundo turno.

No Piauí, Silvio Mendes (União) tem 43% contra Rafael fonteles (PT) com 29%. Mendes venceria por 50% a 34%.

No Maranhão, Brandão (PSB) lidera com 41%, seguido por Weverton Rocha (PDT) com 20% e Lahesio Bonfim (PSC) com 16%. Brandão vence todos.

Em Sergipe, Valmir de Francisquinho (PL) lidera com 38%, seguido por Rogério Carvalho (PT) com 20% e Fábio (PSD) com 16%. Francisquinho venceria.

Santa Catarina mostra Jorginho Mello (PL) e Carlos Moisés (Republicanos) com 20%. Jorginho vence em todos os cenários de segundo turno, apesar do empate.

No Mato Grosso do Sul, André Puccinelli (MDB) tem 25% e Marquinhos Trad (PSD) tem 20%. O ex-governador venceria.

No Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB) lidera com 43% e Leandro Grass (PV) tem apenas 15%. Atual governador vence por 54% a 29% num eventual segundo turno.

No Tocantins, Wanderlei Barbosa (Republicanos) com 45% lidera sobre Ronaldo Dimas (PL) com 17%.

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