Encontro de Lula com sociedade civil discute recuperação da classe média

Encontro em São Paulo como o movimento de centro Derrubando Muros, ampliou apoios à campanha e procurou diálogo com classe média

Encontro de Lula com sociedade civil

Em encontro com membros da sociedade civil, incluindo intelectuais, empresários e políticos, nesta tarde em São Paulo, o candidato à Presidência da República, Luis Inácio Lula da Silva, procurou dialogar com um segmento de classe média B e C, para tratar de problemas que envolvem diminuição do poder de compra e quebra do patamar de qualidade de vida. Também recebeu uma carta de apoio com propostas dos representantes.

O ex-presidente Lula quer focar na queda da qualidade de vida, durante o governo Bolsonaro, para atrair indecisos e tentar diminuir a abstenção no segundo turno das eleições. Ele fez referência a famílias de classe média que enviam os filhos ao exterior em busca de oportunidades. Entre os exemplos de brasileiros neste grupo estão pais que tiraram os filhos da escola particular e colocaram no ensino público e as pessoas que cancelaram o plano de saúde e passaram a depender do SUS (Sistema Único de Saúde).

“Tem gente que não é de partido, tem gente que antes de tudo é brasileiro. Gosta do Brasil, quer viver aqui, sonha que os brasileiros não comecem a ir embora do país para procurar uma oportunidade, e quero dizer para vocês que eu tive orgulho quando eu era presidente, a quantidade de gente que voltava do exterior porque estava tendo chances no Brasil. A quantidade de jovens que voltavam do Japão para trabalhar no Brasil porque o país estava oferecendo oportunidades. Agora a gente percebe que a molecada está indo embora outra vez por falta de oportunidades.”

A declaração ocorreu durante o evento com o coletivo Derrubando Muros (DM), com ativistas, empreendedores, cientistas, comunicadores, acadêmicos, empresários, ex-presidentes do PSDB e políticos independentes, que apoiam a candidatura do petista ao Palácio do Planalto.

O movimento acredita ser “essencial evitar a reeleição do atual presidente, por considerá-lo comprometido com a sabotagem da democracia e a desestabilização das instituições do estado de direito”.

Lula comentou as declarações de Bolsonaro no sentido de aumentar o número de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Bolsonaro tem defendido publicamente uma reforma no Judiciário e a elevação de 11 para 16 cadeiras no Supremo Na última semana, ele afirmou que poderia rever a posição caso o Supremo baixasse “um pouco a temperatura”.

O candidato afirmou que o Brasil vive uma “tentativa de destruir as instituições que garantem a democratização do país”.

“O Brasil está pior do que o Brasil que peguei em 2003. Hoje tem uma coisa mais grave que é a falta de credibilidade nas instituições. É a tentativa de destruir as instituições que garantem a democratização do país. Um cidadão que está prometendo aumentar o número de membros da Suprema Corte na perspectiva de fazer uma Suprema Corte favorável a ele. Eu tive a sorte de indicar seis ministros da Suprema Corte e não indiquei nenhum amigo. […] Tenho orgulho de ter indicado seis e nunca ter pedido um favor”, disse.

Ele também fez acenos ao agronegócio ao afirmar que não é possível aceitar que “tem o homem do agronegócio bom e o homem do agronegócio ruim”. “Tem gente do agronegócio, e tem os bandidos”, emendou. “Os bandidos são aqueles que não respeitam a questão ambiental, são aqueles que querem desmatar, e esses caras não podem ser confundidos como gente do agronegócio”, disse.

Lula também voltou a dizer que não é defensor apenas da exportação de commodities e que, na venda de soja, há tecnologias envolvidas. “Eu não sou daqueles que digo ‘ah, o Brasil não pode continuar exportando só soja ou minério de ferro’. Até porque eu acho que esse País, ao exportar soja hoje, a gente está exportando muita tecnologia em um grão de soja, muita engenharia genética em uma carne de frango, uma carne de porco”, afirmou.

Até o empresário Paulo Marinho, suplente do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), participou do ato em apoio a Lula. Marinho é ex-aliado da família Bolsonaro e atuou na campanha do presidente em 2018. Em maio de 2020, ele afirmou, em reportagem da Folha de S.Paulo, que Flávio revelou a ele, em 2018, ter recebido informações privilegiadas da PF (Polícia Federal) sobre Fabrício Queiroz, um dos mais importantes assessores do então deputado estadual no Rio.

Derrubando Muros

De acordo com o Derrubando Muros, o grupo continuará defendendo “Uma Agenda Inadiável” para o Brasil, pois considera ser necessária a adoção pelo próximo presidente de medidas que impulsionem a economia verde, a inovação, saúde, educação, o meio ambientes, empreendedorismo, a indústria e a segurança pública. “Mas isso só é possível com um governo democrático e aberto ao diálogo.”

No evento foi entregue o “Manifesto pela Paz e pela Democracia”, que defende a democracia e a relevância do diálogo. Entre os membros que assinam o documento estão o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga, o ex-ministro da Justiça Nelson Jobim e a cientista política Ilona Szabó.

Algumas propostas para a classe média também foram propostas, com foco na área tributária, financeira, de saúde e educação. Entre elas, isenção do imposto de renda para os assalariados até R$ 5 mil — o valor atual não pode ultrapassar R$ 1.903,98 ou renda anual de até R$ 22.847,76 —, escola em tempo integral e fortalecimento do SUS. Também debate maior regulação sobre o reajuste dos planos via ANS (Agência Nacional de Saúde).

A proposta da poupança para estudantes, prevista no plano de governo de Simone Tebet (MDB), que apoia a campanha de Lula, também está entre as sugestões entregues ao petista. A economista Elena Landau, que elaborou o programa econômico da campanha do MDB, faz parte da entidade.

“O que está em disputa no segundo turno é, de um lado, o mergulho na espiral de violência e instabilidade; um segundo mandato permitiria a Bolsonaro, com este Congresso eleito, alterar a Constituição a ponto de desconfigurá-la, mudar a composição do Supremo Tribunal Federal e, ao fim, eliminar a separação dos três Poderes. Do outro lado, a garantia democrática representada em Lula, que, estamos convencidos, está comprometido com o diálogo e o respeito aos diferentes”, diz um trecho do documento entregue ao candidato no evento.

Entre os nomes que participaram do ato de entrega estavam dois ex-presidentes nacionais do PSDB – Pimenta da Veiga e José Aníbal – e lideranças tucanas regionais, como o ex-senador Aloysio Nunes, o ex-presidente do diretório fluminense Márcio Fortes e o ex-secretário da Casa Civil de Mário Covas Tião Farias.

“Ao longo da minha vida pública, tive embates com o PT. […] Eu entendo que nós temos um enorme risco constitucional pela frente. Isso deve nos unir. Essa união agora passa pela eleição de Lula a presidente da República. Lula gosta dos mais pobres. Compreende os mais pobres. Quer ajudá-los e sabe como fazer. Por isso, vim aqui me alistar nesta luta pela sua vitória. Pela sua vitória. Mas quero lhe dizer que é muito mais do que isso. Não é apenas a vitória de Lula e dos partidos que o apoiam. É a vitória da democracia”, declarou Pimenta da Veiga.

Ex-presidente do BNDES e um dos economistas que implementaram o Plano Real, André Lara Resende, que também assina o manifesto, defendeu que não é somente a economia que está em jogo nas eleições deste ano e que um eventual governo precisa ser socialmente inclusivo e não apenas assistencialista.

“O que está em jogo é muito mais que a economia. É uma opção por buscar o desenvolvimento democrático do século 21 ou flertar com o que é hoje o reacionarismo antidemocrático e desumano que aqui, mas não apenas aqui e em várias partes do mundo, depois de sete décadas recessivas desde a segunda guerra mundial, parece ressurgir com toda a força”, afirmou.

Agenda de Campanha

A campanha tem intercalado esses pequenos encontros, com atividades de massa em forma de caminhadas e manifestações de rua. Os pequenos encontros podem repercutir na mídia pelo apoio amplo de personalidades que não são de esquerda, como o caso de Simone Tebet, na última semana. As caminhadas, por sua vez, são extenuantes e arriscadas, mas custam mais barato que comícios, e geram imagens e diálogo com setores indecisos da sociedade.

Lula voltou ontem à noite para São Paulo, depois de uma caminhada em Belo Horizonte pela manhã. Amanhã à tarde já vai ao Rio de Janeiro, onde tem um comício na Baixada Fluminense e outra caminhada no Complexo do Alemão, na quarta-feira (12). Na mesma tarde, vai a Salvador para mais um cortejo, em seguida voa para Aracaju, Maceió e Recife, para mais três grandes caminhadas entre quinta (13) e sexta (14).

Geraldo Alckmin (PSB), vice-presidente na chapa, declarou que a campanha está “indo bem”, mas precisa acelerar nesses últimos 20 dias de disputa antes do segundo turno contra o presidente Jair Bolsonaro (PL). Para ele, é preciso unir forças como uma grande contribuição à democracia, referindo-se ao caráter com encontro desta tarde.

“O [Franco] Montoro dizia: essa é a lógica do segundo turno, você ampliar, receber propostas, aprimorar os programas, poder avançar ainda mais. Como diz o Aloizio [Mercadante] agora são 20 dias de campanha nas redes sociais, nas nossas áreas de influência, são todos formadores de opinião, a campanha está indo bem, mas a gente tem que acelerar. É o nosso dever nos unir, lutar e vencer. Quem vai defender a democracia, se não os democratas”.