Omissão de Bolsonaro leva a duas mortes diárias de bebês por covid no Brasil

Embora haja vacina para crianças menores de 5 anos, o governo não tem previsão de atendê-las. Bebês de até um ano são metade dessas vítimas notificadas.

Dia D da vacinação foto: prefeitura de Manaus

A cada dia que passa sem vacinação para as crianças menores, o Brasil perde duas delas para a covid-19. Esta tragédia persiste apesar de já existir vacina da Pfizer para menores de cinco anos, desde o início do ano. Jair Bolsonaro ignora as estatísticas do seu próprio governo ao dizer que “não viu moleque morrendo de vírus por aí”. Com isso, também contribui para espalhar desinformação e tornar as crianças mais vulneráveis à doença, enquanto o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, silencia sobre o assunto.

Desde o início da pandemia, a covid-19 matou duas crianças menores de 5 anos por dia no Brasil. Ao todo, 599 crianças nessa faixa etária faleceram pela covid-19 em 2020, número que saltou para 840 em 2021, totalizando 1.439 vítimas nos primeiros dois anos da pandemia no Brasil. A média de duas mortes diárias se mantém este ano, com 291 crianças perdidas no primeiro semestre do ano, conforme esta população continua sem campanha de imunização do governo, apesar de já existir vacina para ela.

Os dados fazem parte do levantamento feito pelo Observa Infância e foram coletados no Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM), os quais passaram por revisão do Ministério da Saúde e das secretarias estaduais e municipais de Saúde.

Mortes inaceitáveis

A análise dos dois primeiros anos da pandemia no Brasil mostra que crianças de 29 dias a 1 ano de vida são as mais vulneráveis. Metade das vítimas até 5 anos é composta desses bebês, que estão sendo restringidas do direito de vacinação contra a covid pelo governo. 

Especialistas criticam como inaceitável a demora do Ministério da Saúde em liberar a vacina para crianças de até 5 anos, mesmo já tendo o aval da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Parte do público infantil – entre 6 meses e 2 anos e 11 meses – segue sem nenhuma vacina contra a covid disponível nos postos de saúde. O Brasil tem hoje doses da Coronavac para crianças a partir dos 3 anos e da Pfizer para a faixa etária de 5 a 11 anos.

Mesmo com contrato de fornecimento pela Pfizer até o fim do ano, o Ministério não dá previsão de prazo para início da vacinação infantil. Esta é a maior indefinição do governo sobre a vacinação, desde o início das campanhas de imunização. O governo chegou a criar novos protocolos burocráticos para aprovação dessa vacina, que não existiam, e só servem para atrasar o processo.

Festival de mentiras e desinformação

Enquanto isso acontece, Bolsonaro continua disseminando mentiras e favorecendo a morte dessas crianças, em grandes eventos e até lives na internet. Ele nega as mortes e ainda gera desconfiança nas instituições de saúde, sem apresentar qualquer evidência de suas acusações.

“O que aconteceu em alguns casos é que chegava criança no hospital com traumatismo craniano porque caiu da bicicleta. E alguns hospitais botavam maldosamente ‘Covid’, porque eu pagava R$ 2.000 a diária [para leitos de UTI para Covid-19], e UTI outra era R$ 1.000. Vai que a criança morria, aí botava lá Covid [como causa da morte]”, disse o presidente em um evento de sua campanha para mulheres.

Bolsonaro também continua defendendo abertamente os medicamentos do chamado kit Covid, comprovadamente ineficazes para o tratamento da doença. Essa medida, inclusive, já foi alvo de investigação e crítica pela CPI da Covid no Senado. Ele também busca reforçar sua tese argumentando que detentos não morreram durante a pandemia, pois tomavam remédio para “chato”. Nestes momentos, Bolsonaro ainda mente que atrasou a vacinação e elogia seus piores ministros da Saúde pela condução da pandemia.

Os dados coletados pelo Observatório da Infância se referem a óbitos infantis em que a covid-19 foi registrada como causa básica e àqueles em que a doença é uma das causas da morte, ou seja, a infecção agravou alguma condição de risco preexistente ou esteve associada à causa principal de óbito. Embora nem todas essas crianças tenham morrido de covid-19, todas morreram com a doença.

Nem todos os países registram os óbitos por covid-19 com informações por faixa etária. Até junho de 2022, dados coletados pelo Unicef em 91 países mostram que  a Covid-19 foi a causa básica de óbito de 5.376 crianças menores de 5 anos no mundo. O Brasil responde por cerca de 1 em cada 5 dessas mortes.

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