Inabilidade política de Castillo levou a seu isolamento no Peru

A comentarista internacional Ana Prestes diz que a instabilidade política tornou-se a rotina no Peru, com cinco presidentes em quatro anos.

O presidente do Peru, Pedro Castillo, junto com Midagri, ministros de Estado, assim como o governador regional de Cusco e outras autoridades, lidera o lançamento da #IIReformaAgraria. (Cusco, 3 de outubro de 2021). Do Youtube da Presidencia de la República del Perú

Em questão de minutos, o presidente do Peru, Pedro Castillo, saiu do anúncio da dissolução do Congresso, para a prisão e a posse de sua vice-presidente Dina Boluarte em seu lugar. Esta velocidade com que se trocam presidentes da República no país andino nem surpreende mais os peruanos, que viram cinco deles se revezarem só nos últimos quatro anos. Mas como Castillo foi se isolar de tal forma?

A cientista política Ana Prestes comentou o calor dos acontecimentos, durante uma live da TV Grabois. Para ela, Castillo foi “de uma inabilidade política atroz e constrangedora, mas que não é estranho a quem acompanhou tudo que aconteceu neste governo”.

Castillo fez um pronunciamento em que anunciou, no início da tarde desta quarta (7), a dissolução do Congresso e pedia a instauração de um governo de emergência excepcional, que deveria redigir uma Constituição. Por algum tempo, as Forças Armadas chegaram a ensaiar apoio a medida, mas depois se afastaram.

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“Em questão de minutos, Castillo ficou completamente isolado, até por seus ministros que renunciaram, a vice-presidente [Dina Boluarte], por Vladimir Cerron [líder de seu partido], e talvez até seu advogado”, disse Ana. “O Congresso ignorou o pronunciamento, deliberou sobre a vacância [impeachment] por motivo fútil (debilidade moral), já dando posse a Dina Boluarte”.

Para a analista internacional, faltou experiência e assessoria a Castillo, para que chegasse a este lugar de constrangimento e isolamento político. Desde o início do governo, suas dificuldades de lidar com as “raposas velhas” do poder peruano são evidentes.

O Peru tem uma elite empresarial e midiática muito forte, observa Ana. O Congresso também é muito forte, enquanto a esquerda é muito dividida e autossabotadora. Desde agosto de 2021, esse governo não tem duas semanas de paz, segundo ela.

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Foi tentada a destituição de Castillo por diferentes motivos e formas, a cada instante. Já era a terceira votação de vacância da Presidência, fora as demais que foram tentadas. “Por inexperiência e falta de sustentação do próprio partido, Castillo vai cometendo equívocos de nomeações de ministros, brigas dentro do Peru Livre [seu partido], brigas com a vice-presidente Dina”.

Ana concordo que as tentativas de impeachment não tinham consistência alguma. “Foi um governo de sobrevivência. Além disso, a decisão sobre o destino de Castillo foi muito rápida, como se tudo estivesse pronto para a destituição”, afirmou.

Instabilidade perene

Desde 2018, a sucessão de derrubada de presidentes por impeachments, chegando a cinco presidentes em cerca de quatro anos, tem sido o hábito, sendo que, antes, outros foram presos, incluindo um suicídio. “Depois do fujimorismo, de 1990 a 2000, a crise política no Peru é normal e constante”.

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Em 2021 houve eleições gerais em abril com o número absurdo de 18 candidatos. Se apostava na candidata de esquerda Veronica Mendoza, mas no final, todo mundo ficou com cerca de 7%. Na ocasião, Castillo era quase inexpressivo com seus 18% de votos que o levaram ao segundo turno com Keiko Fujimori.

Era um professor da área rural, que se aproximou de Vladimir Cerron, do partido Peru Livre, durante uma grande greve de professores. Mas não tinha qualquer trânsito nacional e político, alçado a Presidência direto de sua região.

“Foi surpreendente para todos que Castillo tenha ido para o segundo turno com a candidata do fujimorismo”, diz Ana. “Foi uma disputa entre o centro e a periferia, entre Lima e o Peru Profundo, carregada de preconceitos e racismos. Uma eleição muito difícil”, descreveu.

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A Constituição fujimorista prevê a destituição do Congresso, já que é uma carta originada da ditadura Fujimori. Mas, na opinião de Ana, o ato de Castillo foi inconstitucional pois seu ministério precisaria ser derrubado duas vezes pelo Congresso, algo que só ocorreu uma vez. Foi esta ambiguidade que levou as Forças Armadas a oscilar no momento do pronunciamento, rechaçando depois.

Ana ainda acrescentou que toda esta instabilidade política ocorre em meio a um país que foi onde mais houve morte na pandemia, com maior numero de órfãos, em todo o mundo. A informalidade trabalhista absoluta joga toda a população em trabalhos precarizados, que não garantiram nenhuma sustentabilidade na pandemia. Além disso, o Peru sofreu muito com a corrupção, como demonstra a instabilidade política, com tantos presidentes caindo. 

Assista ao comentário completo de Ana Prestes na TV Grabois:

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