Golpe parlamentar no Peru

Uma coisa é estável no Peru: a instabilidade.

O parlamento peruano deu um golpe. Sob o pretexto de “incapacidade moral” derrubou o presidente, depois que este dissolveu o parlamento em ato isolado, que não teve nem a participação do seu gabinete e deu margem para os deputados fazerem o que vinham tentando fazer desde que Castillo assumiu: derrubá-lo.

Uma coisa é estável no Peru: a instabilidade. Nos últimos 10 anos, o Peru teve 6 presidentes, sendo que o único a ter a totalidade do seu mandato foi Ollanta Humala, que teve um governo difícil. E sempre o parlamento está no centro das disputas.

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No atual parlamento, eleito em 11 de abril de 2021, o partido que detém mais cadeiras é o Partido Político Nacional Peru Libre, o Peru Livre, que elegeu 37 cadeiras, das 130 cadeiras, bem distante das 66 cadeiras que seriam necessárias para ter a maioria. O segundo maior partido, Força Popular, é de Keiko Fujimori e elegeu 27 deputados. Ação Popular, de centro-esquerda, mas hostil a Pedro Castillo (16 cadeiras); Renovação Popular, conservador (13); e a populista Aliança para o Progresso (15), completam o parlamento. Portanto, a direita peruana, com maioria, tornou-se um forte elemento golpista. Restou a Castillo o apoio do pequeno Juntos pelo Peru, de centro-esquerda, que só tem 5 deputados, mas que não apoiou sua eleição.

Lembrando que Castillo venceu as eleições presidenciais de 11 de abril de 2021, derrotando Keiko, no segundo turno, com 50,1% dos votos contra 49,9% dados a ela. A diferença de 44.263 votos já apontava para o acirramento da disputa entre o Peru litorâneo, dominado pelas oligarquias e o Peru do interior, formado pelas comunidades que foram decisivas para a vitória de Castillo.

A vitória, apertadíssima, de um professor que se tornou popular nas greves de 2017, tornando-se um forte líder popular, que expressava a revolta das massas peruanas, que não tinha nenhuma simpatia pelo presidente Pedro Kuczynski, que renunciou em 23 de maio de 2018 e, a partir daí a instabilidade derrubou 3 presidentes: Martin Vizcarra, que governou 2 anos e 9 meses; Manuel Merino, que ficou na cadeira presidencial por 5 dias; Francisco Sagasti, que ficou no cargo até as eleições de 2021. Vizcarra e Sagasti eram presidentes do parlamento.

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As informações ainda são confusas, mas é certo que o parlamento venceu a queda de braço, derrubando o governo com 101 votos, sendo que precisava de 87 e a posse da vice-presidenta, Dina Boluarte, eleita pelo Peru Livre, mas expulsa do partido de Lima, em março desse ano, por “atentar contra unidade do partido”.

Na verdade, nem Castillo e nem Boluarte tinham mais o apoio do Peru Livre, que durante alguns meses teve uma relação conflituosa com o presidente, não apoiou a decisão, isolada, de Castillo, de dissolver o parlamento. Aliás, nem a primeira-ministra Betssy Chávez, nomeada não fazia nem 15 dias, apoiou Castillo e quando do anúncio do presidente, renunciou.

A queda de Castillo, num golpe parlamentar, mostra a extrema fragilidade da democracia peruana, que nunca se recuperou da ditadura Fujimori (1990-2000), nem da violenta guerra civil que opôs os diversos governos à guerrilha do Sendero Luminoso. A sociedade peruana continua muito dividida entre o litoral e o interior. Vamos acompanhar o que irá acontecer

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