Acabou a bravata: Bolsonaro renova concessão da TV Globo
Assim como deixou os apoiadores mais golpistas prostrados em vão nas portas dos quartéis, o presidente tampouco agradou à sua base na disputa com a Globo
Publicado 21/12/2022 11:38 | Editado 21/12/2022 20:06
A promessa de “endurecer pra cima da Globo” ficou na bravata. Nesta terça-feira (20), o governo Jair Bolsonaro (PL) renovou, por 15 anos, cinco concessões da TV Globo e esvaziou de vez a ameaça de dificultar a vida da emissora da família Marinho.
Nos últimos anos, não foram poucas as tentativas de intimidação disparadas pelo presidente contra a “Globolixo” – conforme a definição dada pelos bolsonaristas ao canal. “Temos uma conversa em 2022. Eu tenho que estar morto até lá, no processo de renovação (da concessão) de vocês”, provocou Bolsonaro em 2019. “Não vai ser perseguição. Mas o processo tem que estar enxuto, tem que estar legal. Não vai ter jeitinho para vocês nem para ninguém.”
Assim, até um ato tradicionalmente protocolar no Brasil – como a renovação dessas concessões – vira notícia. Coube à jornalista Ana Paula Araújo fazer o anúncio em pleno Jornal Nacional: “A Secretaria Geral da Presidência da República divulgou nota agora à noite informando que o presidente Jair Bolsonaro editou decreto renovando a concessão da TV Globo por mais de 15 anos no Rio de Janeiro, em São Paulo, Minas Gerais, no Distrito Federal e em Pernambuco”, afirmou Ana Paula.
No mesmo decreto – que precisa ser apreciado no Congresso Nacional –, Bolsonaro autorizou duas concessões locais: a Bandeirantes em Minas Gerais e a Record em São Paulo. O texto foi publicado no Diário Oficial da União nesta quarta-feira (21).
Aliados sustentam que o presidente não teria margem para beneficiar apenas a Band e a Record, constrangendo unilateralmente a Globo. Ao mesmo tempo, se deixasse a decisão para seu sucessor, o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Bolsonaro permitiria uma comparação desvantajosa para seu governo, além de implodir ainda mais as pontes com o maior conglomerado de comunicação do País.
Como bem resumiu o colunista Chico Barney, do UOL, “o processo meramente burocrático ganhou ares de dramalhão por conta da postura belicosa do futuro ex-presidente, que passou os últimos anos buscando atiçar seus seguidores”. Assim como deixou os apoiadores mais golpistas prostrados em vão nas portas dos quartéis, o presidente tampouco agradou à sua base na disputa com a Globo. A gestão Bolsonaro chega ao fim ainda mais desmoralizada.