Lula orienta não ficar preso à pauta dos atos golpistas

A favor de concentrar nas demandas econômicas e sociais, Randolfe Rodrigues considera não haver mais a necessidade de se instalar uma CPI para apurar atos golpistas

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Em entrevista exclusiva ao Valor, o futuro líder do governo no Congresso, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), disse que a ordem do momento é deixar de lado a pauta dos atos antidemocráticos que resultaram na invasão e depressão dos prédios na Praça dos Três Poderes.

A favor de concentrar nas demandas econômicas e sociais do país, o parlamentar defende, inclusive, não haver mais a necessidade de se instalar uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar o episódio.

“O governo está determinado – e essa é orientação do presidente Lula – a não ficar preso à pauta que os golpistas queriam empreender com os atos. É bom que nós compreendamos como uma tentativa de golpe frustrada”, argumentou.

Na próxima semana com inícios dos trabalhos no Congresso, ele disse que é preciso aprovar as medidas provisórias do novo governo, entre as quais a MP 1.160, que retoma o voto de minerva no âmbito do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf).

“Segundo cálculos que nos foram passados pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, isso pode recuperar para os cofres da União quase R$ 1 trilhão. É uma medida muito importante e muito necessária do ponto de vista fiscal”, afirmou.

No caso dos atos antidemocráticos do domingo, dia 8, o parlamentar diz que a Polícia Federal (PF) está cumprindo seu papel, “está tendo prisão”.

“No âmbito militar, os responsáveis serão punidos. Todo dia vocês noticiam que um golpista foi preso. Estou confiante que terão ações sequenciadas da PF em busca dos financiadores e dos mentores. Nesse caso específico, eu temo que uma CPI mais atrapalhe que ajude”, argumentou.

Para ele, “o fecho” do processo se deu na troca de comando do Exército, com a saída do general Júlio César Arruda e a entrada de Tomás Paiva.

“O presidente foi claro na reunião que teve com os chefes militares em determinar que todos instaurassem os devidos inquéritos e responsabilizassem quem quer que fosse. Militar, como bem disse o novo comandante do Exército, pode votar, ter preferência política, mas não pode se manifestar”, ressaltou.

Lula

O senador destacou que a crise institucional foi debelada graças a liderança do presidente. “Só Lula poderia ganhar uma eleição como esta contra Bolsonaro, diante de tantas mentiras, ‘fake news’, uso descarado do aparelho do Estado, do aparato repressivo. Eu não sei se outro estadista conseguiria ter pulso firme para liderar a reação institucional que nós tivemos do dia 8 até o último sábado. O episódio da nomeação de um novo comandante do Exército é, na prática, o fecho dessa crise”, avaliou.

Para ele, Lula tomou a decisão política correta ao não decretar a Garantia da Lei e da Ordem (GLO) e sim a intervenção na segurança pública do Distrito Federal.

“E também a decisão de voltar imediatamente a Brasília, visitar o Palácio do Planalto, chamar os governadores e realizar um ato, que eu também acho que ficará na história, de atravessar a Praça dos Três Poderes para visitar o Supremo Tribunal Federal (STF) em escombros. Esses capítulos foram superados e agora vamos tocar a agenda do país”, defendeu.

O senador Randolfe Rodrigues (Foto: Waldemir Barreto/Agência Senado)

Bolsonaro

Questionado sobre uma possível punição de Bolsonaro, Randolfe disse estar convencido que o ex-presidente é mentor.

“É mentor por incentivar, por articular, por construir. Tem uma sucessão de eventos que vão do dia 30 de outubro, com o não reconhecimento do resultado, até o dia 8 de janeiro. Esses eventos têm nexos causais. O papel do ex-presidente é, no mínimo, deprimente. Se evadir do país três dias antes da posse, não retornar até agora, está com uma condição que se assemelha à de um foragido. Eu estou muito convencido que ele tem que responder pelo conjunto de crimes que praticou”, respondeu.

Na sua visão, não há como o ex-presidente não ser responsabilizado e ficar inelegível. “Cada vez que a gente aprofunda, tem novos crimes surgindo. Veja o episódio em relação aos Yanomamis, houve uma ação deliberada. Eu movi uma ação no STF em 2021, que teve decisão, para dar suporte aos Yanomamis e não foi cumprida a decisão. À luz dos fatos, dos eventos, das informações que temos, não vejo como ele não ser [tornado inelegível]. Todos os elementos levam a isso”, considerou.

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