Acordo de US$ 1,3 bi entre BNDES e China prioriza economia verde e infraestrutura

O destaque à agenda de sustentabilidade e transição energética não exclui a aplicação de recursos em saneamento, petróleo e gás, agricultura e mineração, entre outros.

O presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, fez parte da comitiva à China. Foto Ricardo Stuckert PR

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e o China Development Bank (CDB), instituição de fomento do país asiático, assinaram acordo para captação de até US$ 1,3 bilhão para investimentos no Brasil. De acordo com o BNDES, os recursos poderão ser destinados a setores como saneamento, manufatura e alta tecnologia, além de contribuir para reforçar o comércio bilateral entre Brasil e China.

De Pequim, os presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e da China, Xi Jinping, também firmaram 15 acordos comerciais e de parceria envolvendo o governo brasileiro e o chinês. O acordo entre BNDES e CDB formalizam financeiramente parte das parcerias anunciadas. 

Os chefes de Estado estiveram presentes em cerimônia para a assinatura de termos que incluem a cooperação do aprimoramento tecnológico, intercâmbio de conteúdos de comunicação e a expansão das relações comerciais entre os dois países. Com isso, os ministérios de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDICs) e Comunicações (MCOM) foram os que englobaram mais parcerias.

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Emprego e renda

Segundo o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, o objetivo é aprofundar as relações com o banco chinês do ponto de vista do financiamento, para acelerar os investimentos em setores estratégicos como transição energética, mobilidade urbana e infraestrutura. A China é o maior parceiro comercial do Brasil e lidera o fluxo de investimentos estrangeiros diretos no país.

Em fevereiro, Mercadante tomou posse como presidente do banco brasileiro prometendo fomento às exportações e uma agenda de apoio à “nova indústria”, economia verde e infraestrutura, sem repetir o “padrão de subsídios” do passado.

“Esse acordo com o CDB é resultado da volta do protagonismo do Brasil no mundo. Um país respeitado internacionalmente abre mais oportunidades de captação e de diversificação das fontes de recursos para o BNDES, gerando, futuramente, mais emprego e mais renda em nosso país”, declarou Mercadante.

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Longo e curto prazos

O acordo estabelece condições gerais que serão detalhadas em outros dois documentos. O primeiro prevê US$ 800 milhões para investimentos de longo prazo, com até dez anos, e outro de US$ 500 milhões para aplicações de curto prazo, de três anos.

Em comunicado, o BNDES explicou que a linha de longo prazo terá como foco o financiamento de projetos de infraestrutura, energia, manufatura, petróleo e gás, agricultura, mineração, saneamento, agenda ASG (ambiental, social de governança), mudança climática e desenvolvimento verde, prevenção a epidemias, economia digital, alta tecnologia, gestão municipal e outros segmentos no Brasil.

Segundo Mercadante, esses investimentos de longo prazo costumam ser um gargalo para o desenvolvimento do país, por isso a ideia é que a maior parte dos recursos tenham esse foco.

Já na linha de curto prazo, o montante será utilizado como parte do orçamento de investimentos do BNDES, podendo apoiar, por exemplo, operações que promovam o comércio bilateral entre China e Brasil. “Os clientes destas linhas de financiamento são potencialmente empresas privadas e entes públicos, que demandem crédito ao BNDES para apoio a investimentos nos segmentos mencionados, nas condições previstas nas políticas operacionais do BNDES”, diz o comunicado.

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Economia verde

Segundo o BNDES, o relacionamento entre os dois bancos teve início em 2007, quando foi negociado o financiamento para construção do Gasoduto Sudeste-Nordeste. Na ocasião, foi firmado contrato de empréstimo externo formalizando a captação de recursos, pelo BNDES, no valor de US$ 750 milhões.

Um levantamento global da consultoria McKinsey, mostra que o investimento em economia verde tem se multiplicado exponencialmente em todo o mundo. De 2019 até o final de 2022, investidores de ações do mercado privado triplicaram os ativos globais relacionados a sustentabilidade ambiental, social e governança (ESG), passando de US$ 90 bilhões para mais de US$ 270 bilhões.

Energia foi a maior destinatária dos investimentos de capital orientados para o clima, absorvendo cerca de 50% do volume implantado de 2019 a 2022. O capital mais que dobrou, de US$ 40 bilhões para US$ 100 bilhões, impulsionado por projetos renováveis em larga escala.

O transporte ficou em segundo lugar, com aumento de 370% durante o período, de US$ 6 bilhões para US$ 30 bilhões com investimentos focados no mercado de veículos elétricos.

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Projetos de hidrogênio e gestão de carbono – as duas tecnologias emergentes – receberam, cada, 3% do total de investimentos de capital do mercado privado com foco no clima em 2022. Foram os que registraram o crescimento mais significativo nos fluxos de investimento desde 2019: 460% para o hidrogênio (de menos de US$ 1 bilhão a US$ 5 bilhões) e 1.400% para carbono (de menos de US$ 500 milhões para US$ 7 bilhões).

Os investimentos em energias renováveis alcançaram os combustíveis fósseis em 2022. Dados da BloombergNEF mostram que o volume de recursos canalizados para a indústria de combustíveis fósseis e para a geração de energia a partir de petróleo, gás e carvão foi de US$ 1,1 trilhão no ano passado.

Da mesma forma, o investimento em energia renovável, transporte eletrificado e armazenamento de energia e outras tecnologias atingiu o mesmo patamar, de US$ 1,1 trilhão.

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