A decadência irreversível e acelerada da mídia bolsonarista

Veículos ligados a Bolsonaro tentam sobreviver à base de demissões, venda de assinaturas e camisetas, vaquinhas virtuais e até a própria venda

Foto: Sérgio Lima

A vida sem Jair Bolsonaro (PL) no Palácio do Planalto ficou difícil – e pode até se tornar inviável – para uma série de sites, plataformas e canais que aderiram de corpo e alma ao ex-presidente. Seja com a mudança na Presidência da República, seja com o cerco crescente do Judiciário às fake news, seja com a desmonetização de seus conteúdos, a mídia bolsonarista enfrenta uma decadência tão irreversível quanto acelerada.

Uma reportagem de Nicolas Iory para o blog Sonar – A Escuta das Redes, hospedado no site do jornal O Globo, detalha a dimensão da crise, que vai além da perda de verbas e de audiência. Muitos desses veículos tentam sobreviver à base de demissões, venda de assinaturas e camisetas, vaquinhas virtuais e até uma medida mais radical: a própria venda do canal.

Este é o caso do Foco do Brasil, canal bolsonarista no YouTube com 2,9 milhões de inscritos. Nos quatro anos de Bolsonaro, o Foco do Brasil publicou diversos vídeos exclusivos que foram gravados dentro do Palácio da Alvorada. As postagens, porém, foram interrompidas ainda em outubro, o mês das eleições que culminaram na vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre Bolsonaro.

O problema não foi só político, lembra a reportagem do Sonar. “O Foco do Brasil foi alvo, em 20 de outubro, de uma decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que determinou sua desmonetização por causa da divulgação de ‘notícias falsas ou gravemente descontextualizadas’ durante o período eleitoral. O processo que deu origem a essa sanção menciona que os donos da página recebiam até US$ 67 mil por mês com os anúncios da plataforma”.

Investigado também pelo STF (Supremo Tribunal Federal) no âmbito do inquérito das fake news, o canal tem perdido assinantes mês a mês e demitiu todos os apresentadores, sobrevivendo à base das assinaturas remanescentes. Segundo seu proprietário, Anderson Azevedo Rossi, o canal está à venda desde dezembro de 2022.

A desmonetização devido à propagação por fake news também selou o destino de três outros canais bolsonaristas: o Folha Política, o Dr. News e o Brasil Paralelo. Este último conseguiu sobreviver com produção de vídeos em streaming. Os demais devem morrer aos poucos sem os recursos do YouTube.

Entre sites jornalísticos pró-Bolsonaro, impulsionados por notícias falsas ou manipuladas, o Pleno News e o Revista Oeste definham rumo ao encerramento, enquanto o Jornal da Cidade Online (JCO) mostra resiliência. Mesmo assim, o JCO está em declínio: “registrou cerca de 7 milhões de visualizações no mês passado, seu pior desempenho em termos de audiência em toda a série analisada. Nas redes sociais, o engajamento em seus perfis no Facebook, no Twitter e no Instagram caiu pela metade”.

Desmonetizado, o site vende “vende camisetas que pedem o impeachment de Lula e faz apelos por contribuições dos leitores ao fim de cada texto”. Na página bolsonarista, um reconhecimento sobressai: “O TSE quebrou as nossas pernas”. E depois um delírio: “O sistema conseguiu o que queria: calou todas as vozes conservadoras”.

Não, as páginas e os canais não foram calados. Seus donos apenas sabem que propagar fake news se tornou um crime cada vez menos impune no Brasil. A perda de seguidores e engajamento reflete também a virada na cena política nacional, que deixou de ter um presidente da República como símbolo máximo do negacionismo. A mídia bolsonarista encolhe sem parar.

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