Bolsonaro compromete aliados que fraudaram carteira de vacinação

Há um ponto em que o ex-presidente se contradisse: ao já admitir que pode ter havido fraude em sua carteira de vacinação.

Foi um depoimento frágil, sem nenhuma novidade. Mas as declarações de Jair Bolsonaro (PL) à Polícia Federal, na tarde desta terça-feira (16), comprometeram não tanto ao próprio ex-presidente – mas, em especial, aliados envolvidos no escândalo na inserção de dados falsos no ConecteSUS. Com certificados de vacinação adulterado, Bolsonaro, sua filha e aliados teriam burlado restrições sanitárias.

O depoimento, tomado no âmbito da Operação Venire, foi vazado à imprensa. Bolsonaro insistiu que só soube da fraude em sua carteira de vacinação por meio do noticiário. Seu ex-ajudante de ordens, Mauro Cid, adulterou cartões para simular que sete pessoas – entre elas, Bolsonaro e sua filha – estavam imunizados com a vacina contra a Covid-19. Segundo o ex-presidente, a iniciativa foi feita sem seu conhecimento, “à revelia”. Ele, Bolsonaro, agregou que sequer sabia da possibilidade de inserir dados falsos no ConecteSUS.

“Indagado se solicitou a Mauro Cesar Cid que intermediasse a inserção de dados falsos de vacinação contra a Covid-19 em seu nome no sistema do Ministério da Saúde, respondeu que não”, indica um trecho do depoimento de Bolsonaro. “Indagado se solicitou a alguma outra pessoa a inserção de dados falsos de vacinação contra a Covid-19 em seu nome no sistema do Ministério da Saúde, respondeu que não.”

Mauro Cid e outros envolvidos no esquema estão presos. A PF questionou Bolsonaro sobre o eventual papel de cada um deles no escândalo – e se havia algum pedido do ex-presidente por trás desses crimes. O ex-presidente negou qualquer participação direta, mas afirmou que Mauro Cid administrava a conta do ex-presidente no aplicativo ConecteSUS. Mas não soube – ou não quis – responder “sobre quem administra a conta de L.F.B. nos sistemas “gov.br” e ConecteSUS”

Há um ponto em que Bolsonaro se contradisse. Quando a operação veio à tona, com direito a busca e apreensão em sua casa, ele declarou à imprensa que não houve adulteração nos dados de sua carteira de vacinação, nem do cartão de sua filha, Laura. Agora, sob recomendação de seus advogados, o ex-presidente já admite que pode ter havido fraude.

Um trecho do depoimento confirma essa guinada no discurso de Bolsonaro: “Indagado se Mauro Cesar Cid arquitetou e capitaneou toda a ação criminosa relativa às inserções de dados falsos de vacinação contra a Covid-19 no sistema do Ministério da Saúde, à revelia, sem o conhecimento e sem a anuência do declarante, respondeu que se Mauro Cid arquitetou foi à revelia, sem qualquer conhecimento ou orientação do declarante”.

Um dos locais onde houve invasão irregular no sistema foi em Duque de Caxias (RJ). Uma enfermeira da rede municipal confessou à polícia que emprestou a senha para que o secretário municipal de Governo, João Carlos de Sousa Brecha, alterasse os registros de vacinação de Bolsonaro.

Mauro Cid deve depor nesta quinta-feira (18). O ex-ajudante-de-ordens já havia tentado fraudar o sistema no final de 2021, a fim de conseguir certificados falsos para a própria família. Nesse caso, Cid recorreu ao sistema de saúde de Cabeceiras (GO). Pelo menos outros quatro militares se envolveram na manobra.

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