Morre Berlusconi, o “antipolítico” das mãos sujas

Mais: Colômbia e ELN assinam acordo histórico / 26a Convenção de Solidariedade com Cuba / Acuado por novo indiciamento, Trump parte para o ataque, entre outras notas.

O bilionário e ex-premiê italiano Silvio Berlusconi morreu nesta segunda-feira (12) aos 86 anos, de leucemia. Magnata midiático, Berlusconi é filho político direto da Operação “Mani Pulite” (Mãos Limpas), que começou em 1992 como uma operação de combate à corrupção que, ao assumir proporções gigantescas, saiu do controle e desandou para uma série de abusos judiciais. A operação foi comandada pelo magistrado do Ministério Público Antonio Di Pietro, que ganhou status de herói nacional com forte incentivo dos jornais e tvs. Mais de 5 mil pessoas foram investigadas no curso da operação e cerca de 900 foram presas em algum momento, seis delas cometeram suicídio. Além disso, a “Mani Pulite” levou à extinção legendas poderosas da cena política italiana, como o Partido Socialista Italiano (PSI), a Democracia Cristã, o Partido Social-Democrata Italiano e o Partido Liberal Italiano. Com o sistema político partidário em frangalhos, surge o outsider Berlusconi, que funda o partido Força Itália, adota um discurso antipolítica e chega ao governo em 1994, alçado ao cargo de primeiro-ministro, função que exerceu em três períodos (1994-95, 2001-06 e 2008-11). Fora do governo, foi eleito para o Senado em 2013 e cassado no mesmo ano depois de uma decisão judicial que o condenou a quatro anos de prisão por fraude fiscal. Acumulou mais de 30 processos que iam de corrupção à prostituição de menores, alguns deles ainda estavam em andamento. Como governante foi um feroz inimigo dos trabalhadores, além de propagandear constantemente opiniões machistas, racistas, xenófobas e reacionárias. Por exemplo, Berlusconi considerava que o tirano Benito Mussolini havia feito um governo “benigno”: “Mussolini nunca matou ninguém. Mussolini enviou pessoas de férias para o exílio“, disse Berlusconi, responsável por lançar na vida pública a atual primeira-ministra neofascista Giorgia Meloni. O partido que Berlusconi fundou faz parte da base de sustentação de Meloni. Silvio Berlusconi foi declarado morto às 9h30 no horário local (4h30 em Brasília). São momentos como estes que me fazem querer acreditar na existência do inferno.

Governo da Colômbia e ELN assinam acordo histórico

Com a presença dos presidentes da Colômbia, Gustavo Petro, e de Cuba, Miguel Díaz-Canel, as delegações do Governo da Colômbia e do Exército de Libertação Nacional, ELN, assinaram os Acordos de Cuba, resultado das conversações de paz concluídas nesta sexta-feira (9) em Havana, no terceiro ciclo negociações. Pelo Executivo colombiano, a assinatura dos acordos também foi liderada pelo ministro das Relações Exteriores, Álvaro Leyva, e pelo negociador-chefe Otty Patiño, enquanto o ELN foi liderado por seus primeiro e segundo comandantes, Antonio García e Pablo Beltrán, sendo que Beltrán chefiou a delegação da ELN que assiste às conversações de paz. As partes chegaram aos seguintes acordos: Processo de participação da sociedade na construção da paz (primeiro acordo de Cuba) e acordo de cessar-fogo bilateral e nacional entre o Governo da Colômbia e o ELN (segundo acordo de Cuba). Da mesma forma, a Mesa de Diálogo adotou a declaração “Prontidão para o processo de participação da sociedade e o cessar-fogo bilateral”. Os Acordos de Cuba foram assinados por Otty Patiño e Pablo Beltrán. O chanceler cubano, Bruno Rodríguez Parrilla, leu o documento. Explicou que as partes decidiram cumprir imediatamente os acordos cubanos e por isso a Mesa de Diálogo entra em “uma atividade permanente, que combina diferentes modalidades de trabalho em diferentes cenários e tempos, mantendo os ciclos de conversações”. Ele anunciou que o quarto ciclo de negociações de paz será realizado na capital venezuelana, Caracas, entre 14 de agosto e 4 de setembro. Entre outras questões, haverá o equilíbrio do cumprimento dos acordos firmados. O chefe da delegação do ELN, Segundo Comandante Pablo Beltrán, expressou seu desejo de que a sociedade colombiana apoie os acordos assinados. Ao falar, o presidente Petro agradeceu a Cuba por sua histórica hospitalidade à paz na Colômbia. Ele lembrou que durante sua recente visita a Washington, disse ao presidente dos Estados Unidos que incluir a nação caribenha na lista de países terroristas foi um ato de profunda injustiça. Ele instou Biden a corrigir essa injustiça, causa de sanções unilaterais e violações da vida e dos direitos do povo cubano. Ele expressou que de certa forma termina aqui uma fase da insurgência na América Latina, uma região que agora está se transformando de outra maneira. Afirmou que os tempos se abrem para trazer esperança aos jovens e os Acordos de Cuba levam o ELN a um cessar-fogo sem precedentes, que continua com o compromisso de que em maio de 2025 cessará definitivamente a guerra entre o grupo armado e o Estado da Colômbia. Ele lembrou que para acabar com a violência é preciso reconstruir a Colômbia, a partir de um pacto que exige justiça e garanta uma vida digna aos setores mais humildes, daí a importância de debater no plano social as reformas que seu governo promove para assegurar a segurança social, estabilidade no emprego, distribuição de terras, respeito ao protesto social entre outros direitos. Por sua vez, Miguel Diáz-Cañel, chefe de Estado cubano, qualificou de intenso o trabalho do terceiro ciclo de diálogos e destacou que seus resultados são promissores. Afirmou que é uma honra para Cuba que nestas conversações tenham sido alcançados acordos de grande importância para a paz na Colômbia, como levar ajuda humanitária às populações, o cessar-fogo bilateral, nacional e temporário, e as bases para construir a paz, o que é o resultado de esforços de muitos anos.

26a Convenção Nacional de Solidariedade com Cuba

Socorro Gomes discursa durante a Convenção

De 8 a 11 de junho, em Belém, capital do Pará, foi realizada a 26a Convenção Nacional de Solidariedade com Cuba, que debateu os meios para fortalecer o combate ao criminoso bloqueio promovido pelos EUA contra o povo irmão de Cuba. Da ilha socialista veio, entre outros, Fernando González LLort, um dos “5 heróis” preso pelo império por defender Cuba de ataques terroristas. Fernando Llort hoje é Presidente do ICAP (Instituto Cubano de Amizade com os Povos). O embaixador de Cuba no Brasil, Adolfo Curbelo Castellanos e René González Barrios, Diretor do Instituto Fidel Castro, também estiveram presentes. A programação homenageou os 170 anos de José Martí e o Comandante Fidel Castro, debatendo ainda temas como “o Sistema de Saúde em Cuba, desenvolvimento e projeções do setor de biofarmacêutica cubano”, “Cuba Hoje: Principais Transformações Sócio-econômicas e Políticas Frente ao Recrudescido Bloqueio”, “Educação como pedra angular da Revolução Cubana” e o “compromisso histórico da juventude cubana no processo revolucionário”. A ex-presidenta do Conselho Mundial da Paz (CMP), Socorro Gomes, considerou que “o evento foi significativo no fortalecimento dos laços de solidariedade entre organizações representativas do movimento de solidariedade, com forte sentimento anti-bloqueio, expressando a consciência de que o bloqueio é arma do imperialismo estadunidense para afogar a soberania cubana em meio ao grande sofrimento que estas medidas genocidas provocam. Muitos especialistas de Cuba trouxeram informes atualizados sobre as medidas de resistência e luta árdua e heroica para a sobrevivência do Estado socialista de Cuba”, declarou. O Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz (Cebrapaz) participou com uma vibrante delegação de 33 pessoas. Veja, abaixo, mais fotos.

Antônio Barreto e Maria Ivone entregam exemplares do livro “Cinco heróis prisioneiros do império”, organizado pelo advogado Jeferson Braga e publicado pela Editora Anita, nos anos 1990.
Parte da delegação do Cebrapaz, presente à Convenção

Acuado por novo indiciamento, Trump parte para o ataque

Nesta sexta-feira o ex-presidente dos EUA e candidato presidencial republicano Donald Trump foi novamente indiciado, desta vez acusado de reter ilegalmente documentos confidenciais do governo depois de deixar a Casa Branca e conspirar para obstruir uma investigação federal sobre o assunto. O jornalista da Reuters, Luc Cohen, resume assim as acusações: Trump guardou documentos sobre programas militar e nuclear, “inclusive vulnerabilidades dos EUA a possíveis ataques militares e planos para possível retaliação em resposta a ataques estrangeiros”; Trump compartilhou informações secretas com terceiros; Trump conspirou com ajudante para ocultar documentos e Trump estava ciente das responsabilidades da classificação dos documentos, “na minha administração, vou aplicar todas as leis relativas à proteção de informações classificadas”, disse Trump durante sua campanha em 2016. “Ninguém está acima da lei”. No sábado (10), na Geórgia, Trump alegou que o presidente Joe Biden orquestrou as acusações criminais para minar a sua campanha presidencial, bem como para desviar a atenção das investigações federais e do Congresso sobre o filho de Biden. Ele se referiu a Jack Smith, o conselheiro especial que o indiciou, como um “bandido” e pediu a remoção dos oficiais que o investigavam. “Este é um ninho doente de pessoas que precisa ser limpo imediatamente. Tire-os daqui“, acrescentou, sob aplausos.

Israel tem 23a semana seguida de protestos contra Netanyahu

Manifestantes seguram cartazes denunciando o assassinato de árabes durante os protestos na noite de sábado (10) / Foto: Zo Haderech

Este último sábado marcou a 23a semana consecutiva de protestos contra o governo de extrema-direita de Benjamin Netanyahu. Nesta semana, manifestantes começaram a destacar a incapacidade do governo de combater as altas taxas de homicídio na minoria nacional árabe-palestina do país, após dois tiroteios em massa separados em aldeias árabes no norte de Israel. A televisão israelense estimou que entre 74.000 e 80.000 compareceram à principal manifestação na rua Kaplan, em Tel Aviv, enquanto os organizadores reivindicaram cerca de 100.000, ao lado de milhares de outros em cerca de 150 locais em todo o país. A física do Instituto Weizmann e líder do protesto, Shikma Schwartzman-Bressler, uma das figuras de proa do movimento, denunciou: “assassinato depois de assassinato, muitas das vítimas são inocentes. Isso não é destino, mas o resultado da nomeação de um criminoso condenado para ser responsável por toda a nossa segurança“, disse, referindo-se ao racista ministro da Segurança Nacional, Itamar Ben-Gvir.

Dina sem máscara

O jornalista cubano, Arthur González, especialista em relações CUBA-EUA e editor do Blog El Heraldo Cubano, publicou um artigo chamado “Peru sem Máscaras” (click no link para ter acesso ao artigo na íntegra) onde faz um diagnóstico sobre o papel da atual presidenta de fato do Peru, Dina Boluarte. Leia o início: “Embora se soubesse que a embaixada dos Estados Unidos em Lima é quem dirige todo o processo político que o povo peruano está vivendo, agora com a decisão tomada em 31 de maio de 2023, de autorizar a entrada naquele país andino de mais de 1.000 militares ianques e suas armas, com a frágil justificativa de ‘treinar’ as forças armadas e policiais, a golpista Dina Ercilia Boluarte Zegarra acaba de tirar a máscara e mostrar ao mundo que é totalmente subserviente a Washington. Por isso os ianques e sua agência especial, a OEA, deram todo o seu apoio e assessoria para tirar do poder o verdadeiro presidente Pedro Castillo, que era uma pedra no sapato dos americanos desde que venceu as eleições. É por isso que eles tentaram esconder a vitória e entregá-la à corrupta Keiko Fujimori, condenada à prisão por seus crimes, mas pró-ianque até o âmago, assim como seu pai. Sem o menor escrúpulo, Dina Boluarte permite agora que tropas ianques se instalem no país, para evitar que o povo insista em denunciar seus crimes, que já somam mais de 60 assassinatos e milhares de feridos, violação de direitos humanos, de expressão e pensamento, tão criticado pelos ianques em países que não são do seu agrado, mas tolerados naqueles onde lideram os seus peões, como neste caso”.

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