Crescimento da economia brasileira: nem tanto ao mar, nem tanto à terra

PIB brasileiro contraria previsão do mercado, mas crescimento sustentado ainda é um desafio.

Foto: Divulgação CNI

Dados recentes sobre o PIB brasileiro divulgados pelo IBGE pegaram o mercado financeiro de surpresa. De fato, a realidade está contrariando as previsões de bancos e consultorias financeiras. O crescimento do PIB do primeiro trimestre do ano foi de 1,9% e o indicador mensal do PIB do Bacen indicou crescimento em abril de 0,56%. Em ambos os casos, os números foram muito superiores às previsões médias do mercado financeiro. Entretanto, apesar de demonstrar a baixa confiabilidade das previsões do mercado financeiro, esses números não devem ser confundidos com uma retomada sustentada de crescimento.

É verdade que o mercado financeiro parece ignorar que o esforço feito pelo governo Lula, para sustentar o consumo em meio a uma política monetária fortemente recessiva, está surtindo efeito. O consumo das famílias e do governo cresceram no primeiro trimestre do ano, respectivamente, 0,2% e 0,3% em relação ao período anterior. As medidas de manutenção do Bolsa Família, a antecipação do 13º salário dos beneficiários do INSS e os recentes programas de renegociação de dívidas dos indivíduos, subsídios para compra de carros e ampliação do valor recebido no bolsa família para cada filho adicional, estão e continuarão sustentando um crescimento mesmo que pequeno do consumo, o que favorece alguns setores, sobretudo alguns serviços.

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Por outro lado, a formação bruta de capital fixo, mais impactada por condições de crédito e pelo desempenho da produção industrial, caiu 3,4% no primeiro trimestre, mostrando que as medidas de sustentação de demanda do governo mitigam apenas parcialmente o efeito negativo e planejado da política monetária.  

O principal fator a puxar o crescimento do PIB nos primeiros meses do ano foi o agronegócio, em especial a produção de soja que teve crescimento estimado de 24,7% no ano. O forte crescimento deste setor puxou o crescimento dos serviços mais ligados a ele, como transporte, armazenagem e correios e intermediação financeira e seguros.

Encerrada a fase de colheita e transporte da safra, o efeito sobre os poucos setores que a agropecuária consegue puxar na economia nacional também se encerrará. A indústria de transformação caiu no período (-0,1%) e a taxa de investimento (17,7%) ficou abaixo da taxa de investimento do primeiro trimestre de 2022 (18,1%).

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O crescimento de 0,56% em abril no indicador mensal do PIB do Banco Central provavelmente também está refletindo o forte crescimento do setor exportador. Isso porque a Pesquisa Mensal de Serviços do IBGE indicou queda 1,6% em abril em relação a março, já refletindo uma variação negativa do setor de transportes pós safra agrícola, mas também outras atividades dos serviços. Também para abril, a Pesquisa Industrial Mensal do IBGE apontou queda de 0,6% da Indústria de transformação. Houve queda em 10 dos 15 locais pesquisados, inclusive no maior centro industrial do país, com queda de 0,2% em São Paulo.

Quanto aos indicadores de mercado de trabalho que poderiam mostrar sinais de retomada econômica os números sugerem cautela. No primeiro trimestre de 2023, em relação ao trimestre anterior, a taxa de desemprego subiu de 7,9% para 8,8%. Porém, um estudo feito pela FGV mostra que desde o terceiro trimestre de 2022 vem ocorrendo uma saída de pessoas do mercado de trabalho, o que gera uma taxa de desemprego artificialmente mais baixa. Segundo o estudo, considerando-se a taxa de participação no mercado de antes da pandemia, a taxa de desemprego atualmente seria de 11,3%. Ou seja, refuta as interpretações do mercado financeiro de que o mercado de trabalho brasileiro ainda está muito aquecido, justificando-se assim a manutenção da taxa de Selic em patamar elevado. Vale dizer que o objetivo central da atual política monetária – ademais do parasitismo rentista de sempre – é exatamente aumentar o desemprego para tentar conter uma fantasiosa pressão de demanda sobre os preços.

As boas notícias de crescimento do PIB do Brasil nos primeiros meses do ano trazem mais uma vez à tona o quanto as previsões do mercado financeiro possuem um forte viés contra o governo Lula, o que reforça o erro de se tomar essas previsões como guia principal da política monetária. Por outro lado, um breve olhar mais de perto sobre os números, mostra que o país ainda não está vivendo uma retomada sustentada do crescimento econômico. Sem dúvida, as medidas do governo Lula estão sendo decisivas para impedir um cenário de piora no quadro econômico e social, mas precisarão ser acompanhadas por uma reversão da política monetária e do destravamento possível do investimento público no curto prazo como motor de partida do investimento privado.

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