Depoimento de hacker põe Zambelli como líder do golpe bolsonarista
Hacker afirmou à PF que deputada lhe pediu para tentar fraudar as urnas eletrônicas
Publicado 13/07/2023 17:52 | Editado 13/07/2023 20:58
O hacker Walter Delgatti Neto virou o novo homem-bomba do bolsonarismo – mas com uma peculiaridade. Suas revelações explosivas confirmam que a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP), mais do que uma aliada do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), foi mentora e articuladora de algumas tentativas de golpes de Estado.
Conforme depoimento nesta semana de Delgatti, o “hacker da Vaza Jato”, à Polícia Federal (PF), Zambelli foi a autoria do falso mandado de prisão contra o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal). O documento, descoberto por investigadores em 5 de janeiro, constava irregularmente no Banco Nacional de Monitoramento de Prisões do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
Após declarar à parlamentar que tinha acesso ao sistema do CNJ, Zambelli teria escrito o documento falso e pedido que Delgatti, seu funcionário, o cadastrasse na plataforma. O objetivo, de acordo com a oitiva do hacker, era “desmoralizar” a Justiça. Esta, porém, não é a pior das acusações contra Zambelli.
Delgatti afirmou que Zambelli lhe ordenou a tentar fraudar urnas eletrônicas que seriam usadas pela Justiça Eleitoral. Apesar das tentativas, o hacker não foi bem-sucedido – para a frustração da deputada. Segundo ele, não lhe pareceu que o objetivo de Zambelli era manipular o resultado da eleição – mas, sim, fortalecer a tese (jamais comprovada) de que o sistema eleitoral no Brasil era vulnerável.
Outra ordem dada para Delgatti envolvia a invasão dos telefones celulares de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) considerados “inimigos do bolsonarismo”. Se de início o hacker não questionava as intenções golpistas de Zambelli, a situação mudou por conta de um comportamento constante da deputada: o de agendar encontros apenas em rodovias ou locais abandonados, tarde da noite. Delgatti confidenciou a amigos que temia ser morto em uma “queima de arquivo”, tão graves eram as denúncias e práticas.
Preso em 2019 por acessar a conta no Telegram de diversas autoridades – como o ex-juiz Sergio Moro, no caso que ficou conhecido como Vaza Jato –, Delgatti foi solto sob a condição de não usar a internet. Ele voltou a ser preso após afirmar, numa entrevista, que cuidava do site e das redes sociais de Zambelli, tendo acesso inclusive a um e-mail como como chave Pix para receber doações.
Ao que tudo indica, quando voltou à prisão, o hacker, sentindo-se ainda mais em risco, decidiu voluntariamente denunciar Zambelli, que estava em baixa junto às hordas bolsonaristas desde que apontou uma arma contra um eleitor de Lula na véspera do segundo turno das eleições presidenciais de 2022. Bolsonaro já a responsabilizou pela derrota. Agora, o ex-presidente pode culpar Zambelli por arrastar ainda mais o bolsonarismo para a antessala mais podre da República.
O depoimento de Delgatti ocorre um dia após o ministro Benedito Gonçalves, do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), transferir para a Justiça Eleitoral de São Paulo uma ação de inelegibilidade contra Zambelli. Movida pela deputada federal Samia Bomfim (PSOL/SP), a ação pede a cassação do mandato da bolsonarista e sua inelegibilidade por oito anos por divulgação de fake news sobre o sistema eleitoral.