Flávia Calé diz que Lava Jato perseguiu universidades

A pesquisadora foi uma das palestrantes no painel “O Papel da Pesquisa Universitária para o Desenvolvimento Soberano do Brasil”

Flávia Calé durante sua intervenção no Congresso da UNE (Foto: Natália Trindade)

Doutoranda da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, Flávia Calé, ex-presidente da Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG), disse que a Lava Jato investiu contra as universidades dificultando a pesquisa e a geração de conhecimento.

A pesquisadora foi uma das palestrantes no painel “O Papel da Pesquisa Universitária para o Desenvolvimento Soberano do Brasil” realizado nesta quinta-feira (13) durante o 59º Congresso da UNE. O evento ocorre até domingo (16) na Universidade de Brasília (UnB).

Ela citou como exemplo a operação que apontou o falso desvio de recursos destinados à construção e implantação do Memorial da Anistia Política do Brasil, financiado pelo Ministério da Justiça e executado pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

“O projeto de memória da UFMG teve as contas revisadas e os dirigentes das universidades perseguidos. Uma pesquisa vinculada a Petrobras, por exemplo, revelou que obras foram paralisadas por prestação de contas de R$ 0,25, o que é uma coisa absurda, uma criminalização”, disse a pesquisadora ao Portal Vermelho.

Calé também citou o caso de Luiz Carlos Cancellier, reitor da Universidade Federal de Santa Catarina, que se suicidou em 2017, após ser alvo de uma operação no auge do lavajantismo.

O Tribunal de Contas da União (TCU) concluiu que não houve prática de irregularidades por Cancellier.

A pesquisadora ainda lembrou da prisão abusiva do vice-almirante Othon Luiz, “cabeça do projeto nuclear brasileiro que ficou preso por perseguição da Lava Jato.”

Marco Legal

Para ela, esse tipo de perseguição ainda continua. “Existe o marco legal da Ciência e Tecnologia, que cria uma legislação que ajuda a melhorar esse ambiente de relação de financiamento da pesquisa nas universidades, mas setores do Ministério Público e do Judiciário se recusam a implementá-lo”, diz Calé.

“É uma investida contra a universidade brasileira e contra a pesquisa e que não está superada”, criticou.

Para vencer o problema, a pesquisador defende que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva invista pesadamente na pós-graduação brasileira, que vive um problema de assimetria.

“Há concentração [de doutores] nas regiões Sul e Sudeste. Precisa ter a pós-gradução em todo o Brasil para conseguir desenvolver as nossas diversas regiões levando em conta as nossas adversidades”, defendeu.

Amazônia

Ela citou o exemplo da Amazônia, considerada estratégica do ponto de vista ambiental e econômico para o país, mas que possui um quadro de pesquisadores reduzidos em relação ao Sul e Sudeste que abriga 70% dos pós-graduados.

“A UNE está defendendo uma universidade na Amazônia com os países amazônicos, uma proposta sensacional. Trata-se de uma universidade de ponta que junte os nossos melhores cérebros da região pra pensar o desenvolvimento local e sustentabilidade”, considerou.

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