Jandira Feghali alerta que gastos com juros são o dobro da educação e saúde

A deputada federal do PCdoB participou do debate sobre o reflexo da alta dos juros na educação no 59º Congresso da UNE

Jandira Feghali durante debate no Congresso da UNE (Fotos: Divulgação)

Líder do PCdoB na Câmara dos Deputados, Jandira Feghali (RJ) alertou que a taxa de juros escorchantes de 13,75% vai permitir uma transferência ao capital financeiro de R$ 800 bilhões, o dobro dos gastos do governo com educação e saúde.

A deputada fez parte da mesa de debate sobre “Menos juros, mais educação: os desafios para construção de uma política de financiamento das universidades”, realizada nesta sexta-feira (14), na Universidade de Brasília (UnB), onde o Conune ocorre até domingo (16).

“O que se paga em juros é mais do que o dobro do que se gasta em saúde e educação. Nós entramos agora com uma petição no Senado pra chamar o Campos Neto [presidente do Banco Central] para que ele explique a sua política monetária. Até porque, pela lei da autonomia do BC, ele não é vitalício, nem estável e pode ser exonerado. Essa é bandeira que estamos levantando: Fora Campos Neto!”, disse a parlamentar.

“Sou estudante, não abro mão de menos juros e mais educação!”, gritavam a palavra de ordem os estudantes no auditório lotado.  

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A deputada disse ainda que as universidades brasileiras estão se esvaziando não por que os alunos não querem frequentar, mas por não terem condições de permanecer.

“Nós precisamos fazer a assistência estudantil virar lei. Está marcado para agosto finalizar o debate e votar o Plano Nacional de Assistência Estudantil e transformar em lei”, anunciou a parlamentar.

Disse que no Congresso houve avanço na Lei de Cotas que trocou o prazo de validade de dez anos para o estabelecimento de metas. “Estamos tentando evoluir no Congresso, apesar da correlação de forças”, afiirmou.

Na sua avaliação, o golpe parlamentar de 2016, dado no governo de Dilma Rousseff, e a então política de juros, fez com que o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) fosse para o “fundo do poço”.

“As escolas privadas se expandiram mais do que as públicas, mas diminuiu o número de professores, porque das sete milhões de vagas, mais da metade, foi ao ensino à distância. Aconteceu no Brasil uma escalada de caça níquel de cursos sem qualidade”, lembrou.

O advogado Pedro Campos, que foi secretário geral da UNE e atual membro do Comitê Central do PCdoB), conclamou os estudantes a continuarem na luta contra a extrema direita, uma forma de afastar a ameaça do fascismo.

“O Brasil nos últimos 12 anos cresceu a 1% em média [PIB]. Nenhum outro momento da história a gente passou por um momento tão longo de penúria. Trabalhadores perderam direitos e salários, um terço da população em vulnerabilidade alimentar e as universidades vivendo crises. Agora, nós temos de reconstruir o Brasil”, disse.

O presidente nacional do PSOL, Juliano Medeiros, deixou um apelo pela unidade em torno da derrubada da taxa de juros, mas defendeu o questionamento sobre o modelo econômico.

“Foi um legado dos governos de direita que precisa ser questionado. Se não eles vão criando uma narrativa de que estamos gastando muito, como fizeram com a Dilma, sendo uma antessala contra o governo do presidente Lula”, alertou.

A assessora da presidência do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Juliane Furno, professora cedida da Faculdade de Ciências Econômicas da Uerj, advertiu que o neoliberalismo continua sendo uma regra vigente no mundo.

“O neoliberalismo é a racionalidade econômica no mundo todo, mesmo que a gente continue lutando contra e não sendo um governo neoliberal. Ele é a regra e nos cerceia. Como faz isso? Criminalizando a política. Dizendo: ‘Vamos tirar o Banco Central das mãos dos políticos porque a política é profana, suja e corrupta. E vamos colocar nas mãos dos técnicos que são sagrados’”, diz.

Contudo, a economistas advertiu que esse tipo de ação esvazia a democracia. “Porque no técnico a gente não vota, mas ele faz política. Técnico tem posição política, porque não existe nada neutro. Portanto, quando o Banco Central não está na mão do estado, da política, dos políticos, ele está nas mãos de outra pessoa que defende os interesses dos bancos”, afirmou.

Assessora da Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Lídia Toneto, diz que a taxa de juros aumenta a desigualdade, transfere recursos para rentista, impede que o pobre tome crédito enquanto os ricos continuam ganhado muito.

“Hoje a taxa de juros não se justifica, pois não há inflação de demanda e nível da inflação já está desacelerando”, disse.

O evento ainda contou com a presença do coordenador geral do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras em Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (SINTUFRJ-UFRJ), Esteban Crescente.

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