Flávio Dino está confiante sobre o desfecho do caso Marielle
“Fechar a investigação sobre os executores já é uma novidade. O que havia era uma tese de negativa de autoria, agora há materialidade e autoria fixadas”, disse o ministro
Publicado 26/07/2023 14:33 | Editado 26/07/2023 15:55
O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, prevê que nas próximas semanas haverá fatos novos nas investigações sobre o assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ) e do motorista Anderson Gomes, em março de 2018, no Rio de Janeiro.
No acordo de delação premiada com a Polícia Federal (PF), o ex-PM Élcio Queiroz admitiu ter sido o motorista do veículo utilizado no crime e que o ex-PM reformado Ronnie Lessa foi o autor dos disparos que vitimaram a vereadora e o motorista.
Queiroz ainda apontou Maxwell Simões, ex-bombeiro preso na segunda-feira (24), como o responsável por monitorar a rotina da ex-vereadora.
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“Fechar a investigação sobre os executores já é uma novidade. O que havia era uma tese de negativa de autoria, agora há materialidade e autoria fixadas, evidentemente outros fatos novos vão surgir nas próximas semanas a partir do conteúdo dessa delação”, disse o ministro nesta quarta-feira (26) durante entrevista ao programa “bom dia, ministro”, do CanalGov, da Empresa Brasil de Comunicação (EBC).
A expectativa agora é que as investigações cheguem aos mandantes do crime. “Não tenho acesso ao inquérito. Não é meu papel. Mas os investigadores, aqueles que têm acesso, estão trabalhando muito e estão seguros de que novos fatos aparecerão”, disse.
Sobre as críticas ao uso da delação premiada – opositores dizem que os membros do atual governo censuravam esse mesmo instrumento usado na Lava Jato -, o ministro usou metáforas para rebater as acusações.
“Quando você tem um objeto ou um construto cultural, uma faca que pode servir para fazer um churrasco, pode servir para cometer um crime. Então o mesmo objeto pode servir para o bem ou para o mal, depende como você utiliza”, explicou.
Dessa forma, ele defendeu que a delação premiada foi usada corretamente com todos os cuidados técnicos, sem coação, chantagem e respeito ao direito de defesa.
“Há prova de corroboração. Ou seja, ele diz: ‘Pegamos um táxi’. A polícia vai lá e verifica que de fato ele pegou o táxi, produz a prova autônoma e documental que ele pegou o táxi. Então é muito diferente (…) A delação é positiva quando ela é bem feita, cuidadosa e nos termos da lei. Às vezes ela foi usada indevidamente, essa é a diferença muito profunda entre o cumprimento da lei e o que houve em momentos da vida brasileira”, lembrou.
Complexo
Na avaliação do ministro houve um crime complexo com várias proporções. A elucidação dele, portanto, “é relevante para a família, para a memória da Marielle e tem uma dimensão preventiva em relação às mulheres e à população negra”.
“Uma dimensão que eu tenho frisado é sobre a presença das mulheres na política. Isso ainda no Brasil é alvo de muita violência. Violência moral, simbólica e física”, observou.
De acordo com o ministro, o número de denúncias sobre violência política contra as mulheres que a pasta recebe é “inacreditável”.
“Nós pensávamos que aos poucos isso foi sendo banido do país, lamentavelmente não. Melhoramos a participação da mulher na política e a principal forma de homenagear a luta de Marielle é, nesse momento, também ajudar que outras mulheres se sintam protegidas ao exercerem atividades políticas”, defendeu.