Relatórios comprovam atuação criminosa de Bolsonaro em plena pandemia

Documentos que estavam sob sigilo na Abin e GSI confirmam que Jair Bolsonaro escondeu alertas de especialistas em plena pandemia de Covid-19 que matou mais de 700 mil pessoas no país.

Jair Bolsonaro fazendo propaganda da cloroquina (Foto: reprodução)

A Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) abriram relatórios sigilosos que alertavam sobre os perigos da postura do governo Bolsonaro diante da pandemia de Covid-19 que matou mais de 700 mil pessoas no país.

A reportagem da Folha de S. Paulo desta sexta-feira (28) mostra mais de mil relatórios entre março de 2020 a julho de 2021 com carimbos da Abin, GSI e outros sem identificação que ficaram sob sigilo.

Mesmo diante do alerta de dezenas de especialistas que denunciavam consequências fatais para a população brasileira, o governo Bolsonaro manteve ações negacionistas, agindo de forma criminosa.

O Brasil, com 2,63% da população mundial, teve 12,9% do total das mortes por Covid-19.

Alertas sobre medidas eficazes no combate à Covid-19 foram desconsideradas

Os documentos projetavam o aumento no número de casos e mortes no Brasil, enquanto o ex-presidente Jair Bolsonaro boicotava medidas de combate à Covid-19 e o acesso às vacinas.

Os relatórios confirmavam que o distanciamento social e a vacinação eram formas efetivas de controlar a doença, enquanto o governo combatia publicamente essas medidas sanitárias.

Eles citam também estudos que desaconselham o uso da cloroquina, na mesma ocasião em que Bolsonaro fazia propaganda da droga.

Os estudos, desconsiderados por Bolsonaro, alertavam também sobre a possibilidade de colapso da rede de saúde e funerária no Brasil.

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Os agentes da Abin e GSI elaboraram relatórios apontando falta de transparência do governo Bolsonaro na divulgação dos dados da pandemia, além de lentidão do Ministério da Saúde para definir estratégias de testagem e combate à doença.

Segundo a reportagem, ao menos 18 relatórios elaborados nos primeiros meses da crise citam risco de “colapso” em diversas regiões do Brasil. Outros 12 documentos de maio de 2020 afirmam que o Brasil não havia atingido o pico da doença. Em março de 2020, Bolsonaro dizia que a doença “é muito mais fantasia”, “não é isso tudo que a grande mídia propaga”.

Documento da Abin de março de 2020 afirmava que “medidas como essas [distanciamento social] podem reduzir o tempo para que a epidemia alcance o pico do número de caos de contágio”. Em fevereiro do ano seguinte, ele voltou a afirmar que ainda havia “idiotas que até hoje ficam em casa”. No mês seguinte, quando o Brasil chegou à marca de 320 mil mortos, Bolsonaro pediu o fim das “frescuras” e do “mimimi” sobre a doença.

Os relatórios citam a vacinação como medida efetiva contra a Covid. “Em um cenário de descontrole da pandemia no país, maior seria a chance de o vírus sofrer mutações em série e, consequentemente, afetar a eficácia das vacinas desenvolvidas”, afirma o relatório do GSI.

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Três membros da cúpula do Ministério da Saúde de Bolsonaro disseram à Folha que desconheciam os relatórios. Mais de 1.100 arquivos foram disponibilizados à Folha após diversos pedidos baseados na LAI (Lei de Acesso à Informação).

Com agências

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