Mais de 50% das mulheres negras ocupam funções de remuneração mais baixa

Além disso, estudo do Ibre/FGV aponta que essa fatia da população ganha o equivalente a 48% do que recebem os homens brancos, mesmo com melhoria no acesso à educação

Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

Mesmo tendo aumentado seu grau de escolaridade e sua participação na população em idade para trabalhar (PIA), as mulheres negras ainda sofrem com a desigualdade no mercado de trabalho. A maioria, 55%, ocupa funções que apresentam remunerações mais baixas e que estão mais associadas à informalidade, como as de trabalhadoras dos serviços/vendedoras ou trabalhadoras de ocupações elementares. 

Além disso, a remuneração média das mulheres negras, no primeiro trimestre deste ano era de R$ 1.948, o que equivale a 48% do que homens brancos ganham na média, a 62% do que as mulheres brancas recebem e 80% do que os homens negros ganham.   As informações fazem parte de um levantamento recente realizado pela pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), Janaína Feijó. 

Ainda segundo os dados colhidos, na última década o crescimento da população em idade para trabalhar (PIA) no Brasil se deveu principalmente ao aumento registrado entre mulheres negras. Considerando os primeiros trimestres de 2012 e o de 2023, o aumento foi de 13,4% no Brasil; já entre mulheres negras, foi de 24,5%. No caso de a homens negros, o índice ficou em 22,3%,  em 2,8% no caso de homens não negros e 1,9% entre mulheres não negras. 

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A pesquisadora também verificou que nesse período as mulheres negras ampliaram sua escolaridade. Por exemplo, a participação das que chegaram ao ensino superior e o concluíram dobrou, de 6% em 2012 para 12% em 2023. 

Mas, avanços como este não se refletiram, ainda, na melhoria de outros indicadores, o que pode ser mais um elemento a apontar para o racismo e o machismo estrutural que atingem duplamente essa fatia da população. Com isso, verifica-se a diferença entre as remunerações médias aferidas para não negros e homens, bem como no grau de informalidade de boa parte das ocupações que elas têm. 

Somente 51% das que têm idade para trabalhar (14 anos ou mais) estavam no mercado de trabalho – ou seja, empregada ou buscando uma atividade remunerada – nos primeiros três meses de 2023, muito abaixo da taxa de participação brasileira no agregado, de 61%. E o desemprego continua sendo maior entre essas mulheres: no primeiro trimestre, era de 13,1%, contra 8,8% para o total do Brasil, de acordo com o IBGE. 

“Entre todas as mulheres negras em idade para trabalhar, que somaram 50 milhões no primeiro trimestre de 2023, apenas 44% (22,1 milhões) estavam empregadas. Esse nível tem permanecido estável ao longo do tempo e é o menor quando comparado com os demais grupos: para as mulheres e homens não negros, esse percentual foi de 49,3% e 67,7%, respectivamente”, explica Janaína.

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A situação socioeconômica dessas mulheres também está ligada ao fato de muitas serem mães solo, situação que, em geral, as impede de exercer  funções formais e dar continuidade aos seus estudos. Segundo o Ibre/FGV, de acordo com levantamento anterior da pesquisadora, “entre 2012 e 2022 o número de mães solo negras saltou de 5,4 milhões para 6,9 milhões, o que representa quase 90% do crescimento total observado no período. Do total de mães solo brasileiras, 72,4% vivem em domicílios monoparentais, ou seja, compostos apenas por elas e seus filhos”. 

De acordo com a pesquisadora, entre mães solo com 15 a 60 anos, 57% tiveram seus filhos com menos de 26 anos de idade. E entre as que tiveram filhos com 15 anos ou menos, apenas 3% têm ensino superior completo.

Com informações do Ibre/FGV

(PL)

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