Lula diz não temer ameaças e defende preservar a Amazônia cuidando do povo

Em Parintins (AM), presidente anunciou a retomada do Luz para Todos e lançou outras iniciativas de combate à pobreza energética e para a geração de energia limpa e renovável

Presidente Lula participa do relançamento do Programa Luz para Todos em Parintins (AM). Foto: Ricardo Stuckert/PR

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva esteve em Parintins (AM) nesta sexta-feira (4) em ato que marcou o anúncio de uma série de ações para combater a pobreza energética e levar energia limpa e renovável à Amazônia. Em seu discurso, ele defendeu a preservação da floresta em consonância com as necessidades do povo e falou sobre as ameaças feitas por um fazendeiro preso em Santarém e por um vigilante de Belém, no Pará.

Dentre as ações lançadas por Lula estão a retomada do Luz para Todos — que, segundo o governo, vai beneficiar cerca de 500 mil famílias até 2026 — e o programa Energias da Amazônia, de descarbonização. Além disso, foi feito o anúncio da Interligação de Parintins, Itacoatiara e Juruti ao Sistema Interligado Nacional (SIN).

Segundo informado pelo governo, atualmente a região amazônica conta com 211 sistemas isolados, que precisam gerar a própria energia a partir de combustíveis fósseis. Estima-se que aproximadamente três milhões de pessoas vivam nessas localidades e que, ao substituir a matriz térmica por opções mais sustentáveis, 1,5 milhão de toneladas de carbono deixarão de ser lançadas na atmosfera. Para isso, estão previstos cerca de R$ 5 bilhões em investimentos.

Outra ação foi a assinatura da Ordem de Serviço do Linhão Manaus/Boa Vista e do decreto da Interligação Elétrica dos países da América do Sul. O texto prevê a possibilidade de importação de energia para atendimento aos sistemas isolados, com o objetivo de reduzir os dispêndios da Conta de Consumo de Combustível (CCC), orçada em R$ 12 bilhões para 2023. 

Ameaças

Logo que iniciou sua fala, após apresentação dos bois Bumbá Garantido e Caprichoso, o presidente Lula queixou-se pelo fato de ter tido de usar carro blindado e de vidros escuros ao ir para o ato em Parintins e se desculpou com a população que foi recebê-lo no trajeto. Ele disse ter se sentido “como se estivesse num presídio” e declarou que isso não se repetirá. 

Ao final do discurso, Lula fez referência aos dois casos recentes de ameaças contra ele. Um deles diz respeito ao fazendeiro preso nesta quinta-feira (3) pela Polícia Federal em Santarém (PA). Arilson Strapasson teria dito que daria um tiro na barriga do presidente e queria saber onde ele se hospedaria na cidade, onde Lula cumpre agenda na próxima segunda-feira (7). 

De acordo com as investigações — abertas após denúncia feita por testemunhas — o fazendeiro tem ligações com grilagem de terras e com o garimpo. O suspeito disse ter participado de acampamento golpista em frente a um batalhão da cidade, que ajudou a financiar, e dos atos antidemocráticos de 8 de janeiro em Brasília.

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O outro caso foi a busca e apreensão feita também pela PF contra um vigilante nesta sexta-feira (4) em Belém (PA), após ele ter publicado ameaças ao presidente em suas redes sociais. Segundo a corporação, o homem tem porte de arma e um colete a prova de balas foi encontrado na operação. A possibilidade de ligação entre os dois casos está sendo investigada. 

“Se eu tivesse medo, não teria nascido, não seria presidente da República. Aprendi com a minha mãe a não ter medo de cara feia”, disse Lula durante o a agenda em Parintins. “Vou fazer deste um país civilizado, em que as pessoas acordem de manhã sorrindo, que cumprimentem a vizinha sorrindo, que possam falar bom dia, que possam ter as crianças à mesa com pão, manteiga, café, queijo e o que mais as pessoas quiserem”. E acrescentou: “Nós temos direito porque nós trabalhamos, nós produzimos, não queremos tirar nada de ninguém, a única coisa que queremos é ter o que merecemos e merecemos direitos, dignidade e oportunidades”. 

Luta contra a desigualdade

Presidente Lula participa do relançamento do Programa Luz para Todos em Parintins (AM). Foto: Ricardo Stuckert/PR

No início do ato, que contou a presença de autoridades federais, estaduais e municipais e uma multidão de pessoas da região, Lula recebeu o título de cidadão de Parintins, cidade onde teve 83% dos votos nas últimas eleições. 

Lula lembrou que em seus mandatos anteriores,“conseguimos acabar com a fome neste país e lamentavelmente, depois que deram o golpe na presidenta Dilma Rousseff — porque inventaram uma mentira para tirá-la da presidência da República — este país desandou, andou para trás, até eleger um genocida responsável por quase 700 mil mortes neste país”. 

O presidente destacou, ainda, que voltou “porque tinha consciência de que poderia derrotá-lo” e porque “tinha consciência da minha relação com o povo brasileiro”. Lula completou dizendo ter voltado “para recuperar a dignidade de homens e mulheres deste país, para fazer uma luta mundial contra a desigualdade. Não é possível a desigualdade de gênero, a desigualdade racial, de salário, cultural, em tudo. Eu não voltei para governar, mas para cuidar do povo brasileiro”. 

Amazônia

Ao falar sobre a questão ambiental, o presidente afirmou: “A gente vai cuidar da Amazônia, mas cuidar da Amazônia não é do jeito que algumas pessoas falam; cuidar da Amazônia não é transformá-la num santuário. A gente quer cuidar de cada igarapé, de cada animal, de cada flor, da nossa água, mas, sobretudo, cuidar do povo amazonense”. 

O presidente também enfatizou: “não aceitaremos e não admitiremos garimpo ilegal em terras públicas. Não aceitaremos madeireiro ilegal. Ninguém é dono de uma árvore de mogno que tem 300 anos. Essa árvore não pertence a ninguém, é um patrimônio da humanidade e tem de ser preservada. Temos quase 40 milhões de hectares de terras degradadas; se alguém quer fazer móveis, recupere essa terra, plante a árvore que quiser e corte; mas, ninguém pode ficar rico às custas de explorar aquilo que não é dele”. 

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Sobre os programas lançados, explicou: “No Amazonas, nós vamos trazer energia para 150 mil pessoas que ainda não têm. No outro governo, levamos energia para 16 milhões de pessoas. Só é contra o Luz Para Todos quem não sabe o que é trabalhar com um candeeiro, quem não sentiu a fumaça de querosene no nariz. Quem gosta disso é quem vende óleo diesel, o povo quer luz”. 

Lula também falou sobre a Cúpula da Amazônia, que acontece nos dias 8 e 9 de agosto, em Belém, com o objetivo de definir políticas e estratégias para o desenvolvimento sustentável da região.   “Vamos fazer uma reunião com Bolívia, Equador, Peru, Venezuela, Colômbia, Suriname e Guianas. E vamos fazer para tomar uma decisão sobre como é que a gente vai cuidar da Amazônia, da preservação ambiental, como vamos reduzir as emissões de gases de efeito estufa. Mas, sobretudo, como a gente vai encher a barriga das nossas crianças e do nosso povo”. 

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Perto de finalizar seu discurso, Lula falou sobre a festa de Parintins e da disputa entre os bois Garantido e Caprichoso, destacando o respeito que há entre as torcidas de cada lado. “É importante que a classe política aprenda a fazer política sem ódio, sem mentira, sem provocação, sem ofender ou xingar o adversário, fazer política do jeito que vocês fazem a festa de vocês. Não importa a cor para a qual vocês torçam, o que importa é que vocês são homens e mulheres civilizados e que respeitam a diferença entre as pessoas. Esse é o país que vamos construir”.