15ª Cúpula do BRICS: Mundo multipolar em movimento

Os líderes do BRICS, apesar das características peculiares de cada sistema político representado, parecem determinados a defender a unidade e o fortalecimento do bloco

Começou nesta terça-feira (22), em Joanesburgo, a 15ª Cúpula dos BRICS, que irá até quinta-feira (24). Além dos cinco países membros (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), outros 40 confirmaram presença e cerca de 20 aguardam o sinal verde para integrar o Bloco. Entre os países candidatos, 4 entre as 5 maiores economias do Oriente Médio (Arábia Saudita, Turquia, Irã e Emirados Árabes), as duas maiores economias da África (Nigéria e Egito, a terceira, África do Sul, já é integrante do Bloco), além do México e Argentina, respectivamente as duas maiores economias da América Latina, depois do Brasil, país fundador do Bloco. A primeira sessão de trabalho, no âmbito do Fórum Empresarial, foi intitulada “Interação e cooperação: desbloqueando as oportunidades de comércio e investimento do BRICS“. O encontro da África do Sul é histórico. As decisões tomadas por nações até há poucos anos consideradas de segundo plano no cenário internacional (nenhuma delas membro do G7) terão impacto inédito e são aguardadas ansiosamente por todos, amigos e inimigos, e apenas isso seria suficiente para mostrar que o mundo já mudou, e o que se debate agora é a velocidade, forma e solidez do processo, bombardeado a cada passo. Como em qualquer forma de mudança (ainda mais desta magnitude) retrocessos, mesmo temporários, nunca são descartáveis, mas os líderes do BRICS mostram ter consciência plena do fato e, apesar das características peculiares de cada sistema político representado, parecem determinados a defender a unidade e o fortalecimento do bloco.

O que disseram os líderes no Fórum Empresarial

Segundo reporta a TV BRICS, o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, enfatizou que são necessárias reformas fundamentais das instituições financeiras globais para que elas possam ser mais flexíveis e respondam aos desafios enfrentados pelas economias emergentes. O Presidente da República do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, apoiou a criação de uma moeda única do BRICS. “Sou a favor da ideia de uma maior integração financeira, na qual possamos ter uma nova unidade de referência. O banco unificado deve ser um líder mundial no financiamento de projetos que resolvam os problemas mais urgentes de nosso tempo, diversificando as fontes de pagamentos em moedas locais“. O presidente da Federação Russa, que pronunciou seu discurso por videoconferência, destacou o crescimento econômico dos países do grupo dos Cinco. “Na última década, o investimento mútuo dos países membros do BRICS aumentou seis vezes. Por sua vez, seus investimentos na economia global como um todo dobraram. As exportações agregadas atingiram 20 por cento do valor global. Quanto à Rússia, nosso volume de negócios com os parceiros do BRICS aumentou 40,5% e atingiu um recorde de mais de US$ 230 bilhões“. O Primeiro-Ministro da Índia, Narendra Modi, também enfatizou o papel do Conselho Empresarial do BRICS no atual ambiente geopolítico: “Nos últimos dez anos, o Conselho Empresarial do BRICS desempenhou um papel vital no fortalecimento da nossa cooperação econômica. Em 2009, quando foi realizada a primeira Cúpula do BRICS, o mundo tinha acabado de sair de uma enorme crise financeira e, naquela época, a aliança era um raio de esperança para a economia global. Os tempos atuais também trazem as consequências da pandemia da COVID-19 e as divisões globais em muitas questões. Nesses tempos, o mundo enfrenta desafios econômicos. E o papel dos países do BRICS está crescendo mais uma vez.” O discurso do Presidente chinês, Xi Jinping, foi feito pelo Ministro do Comércio da China, Wang Wentao. O lado chinês também prestou homenagem ao décimo aniversário do Conselho Empresarial do BRICS: “Há dez anos, aqui na África do Sul, nós, os líderes do BRICS, testemunhamos o nascimento do Conselho Empresarial do BRICS. Desde então, o conselho permaneceu fiel à sua missão principal, aproveitando oportunidades para aprofundar a cooperação, promovendo o desenvolvimento econômico e social dos países do BRICS e ajudando a sustentar o crescimento econômico global. Com o florescimento da cooperação em vários campos, a China trabalhará com outros países para aprofundar ainda mais a cooperação na iniciativa de desenvolvimento global, promover o desenvolvimento global, reformar a Organização Mundial do Comércio e resolver conjuntamente problemas comuns, melhorando a vida das pessoas em todo o mundo.”

O ritmo e a forma da expansão do BRICS

Luiz Inácio Lula da Silva (Brasil), Narendra Modi (Índia) e Xi Jinping (China) em foto montagem publicada na TV BRICS

A maior expectativa em relação à 15ª Cúpula será a forma como o BRICS lidará com os pedidos de adesão. A tendência é a de abrir as portas do grupo através de critérios bem definidos e cronogramas de incorporação, sem descartar a possiblidade de que algumas adesões imediatas sejam admitidas. O assessor especial da presidência da República, Celso Amorim, em declaração publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, disse que o BRICS representa uma “afirmação global”. “Acho que todo o interesse que existe na expansão, países que desejam ser parceiros ou membros plenos do Brics, demonstra que há uma nova força no mundo. O mundo não pode ser mais visto como o ditado pelo G7 (…) Agora está havendo uma tendência em função da rivalidade entre EUA e China, em função da Guerra da Ucrânia, está tendo uma retração. Acho que, acima de tudo, essa reunião do Brics, com o grande interesse, o enorme número de países em desenvolvimento, demonstra que o mundo é mais complexo do que isso“. Na bolsa de apostas sobre novas admissões, arrisco o palpite que Arábia Saudita, Turquia, Irã, Emirados Árabes, Nigéria, Egito, México e Argentina, pela relevância de suas economias, e Bielorrússia, Venezuela, Nicarágua, Síria e Cuba, por suas firmes trajetórias na busca do desenvolvimento soberano, são candidatos a entrar em curto prazo para o BRICS, talvez, em um primeiro momento, como “parceiros estratégicos”, com a entrada acontecendo em etapas até a membresia plena. Um comentário à parte: nossa mídia hegemônica, de mentalidade neocolonial, alinha-se ao que existe de mais atrasado, faz coro com o “Ocidente” sobre o “perigo chinês” e objetivamente joga mais uma vez contra os interesses nacionais. Assim, na cobertura da 15ª Cúpula, age como terraplanista em um congresso científico, buscando rusgas e contradições apenas pela incapacidade de ver o que está claramente no horizonte.