General Dutra tenta se desvincular de golpistas, mas fala não convence CPMI

Ex-comandante do Comando Militar do Planalto, o general é acusado de permitir e proteger o acampamento golpista em frente ao QG do Exército, em Brasília

Deputada Jandira Feghali questiona general Dutra (Foto: Richard Silva/PCdoB na Câmara)

O general do Exército Gustavo Henrique Dutra, ex-comandante do Comando Militar do Planalto, deu depoimento nesta quinta-feira (14) para a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito que investiga os atos golpistas do 8 de janeiro, a CPMI do Golpe, considerado frágil e sem consistência.

No posto que ocupava, o militar tinha o poder de não permitir o acampamento golpista que se formou em frente ao quartel-general do Exército, no Setor Militar Urbano (SMU), em Brasília. O ex-comandante é acusado de não só consentir, mas também proteger os radicais.

Do acampamento, por exemplo, saíram os golpistas que invadiram e depredaram os prédios da Praça dos Três Poderes e os que planejaram o ataque a bomba nas proximidades do Aeroporto Internacional de Brasília.

Mesmo diante de imagens com faixas no local pedindo intervenção militar, Dutra disse que não via o caráter golpistas dos radicais.

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A relatora da comissão, senadora Eliziane Gama (PDS-MA), disse que a CPMI possui documento e depoimentos comprovando que ele impediu a Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) de desmobilizar o acampamento por três vezes (7, 13 e 29 de dezembro).

“O senhor obstruiu e impediu. Isso fica de forma muito clara. O senhor recebeu pressão para que os acampamentos não fossem retirados por conta da presença de familiares de generais e de oficiais do Alto Comando do Exército?”, questionou a relatora.

“Recebi uma ligação do comandante do Exército. Ele viu que o clima na Praça dos Cristais havia ficado mais tenso e determinou que a operação fosse cancelada com a presença da PMDF e continuasse somente com o Exército”, respondeu.

“No dia 24, tentaram botar esse explosivo no Aeroporto de Brasília, explosivo esse montado no acampamento. Tem provas disso! O próprio George Washington [preso pelo atentado] veio aqui e confirmou isso. Como é que vocês não atuam numa coisa dessa? Como é que vocês impedem a Polícia Militar de desmontar esse acampamento por três vezes?”, questionou a deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ).

 “O Exército não tem a competência de dizer se era legal ou ilegal. Os órgãos competentes não o fizeram. E nunca houve uma ordem judicial”, justificou o militar

A líder do PCdoB na Câmara lembrou que ele ocupava o cargo em abril de 2022 e acompanhou todo o processo.

“Estava lá em novembro e dezembro, quando os acampamentos aconteceram. Como é que vocês podem chamar de legal um acampamento que foi foco de diversas manifestações ocorridas desde 12 de dezembro, passando por 24 de dezembro e o 8 de janeiro? Não se tratava de uma manifestação legal, posto que pretendiam um golpe de Estado, a abolição do Estado democrático de direito”, observou Jandira.

O senador Rogério Carvalho (PT-SE) questionou por que deixaram acumular golpistas em frente de quartéis?

“Essa é a pergunta que ninguém responde. Manifestação em frente de quartel? Não pode! Não se justifica um aquartelamento sob a proteção do próprio Exército”, criticou.

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